segunda-feira, janeiro 16, 2012

Qual o "modelo de negócio" do SCP actual?

Num clube de futebol profissional, muito antes dos princípios, modelo e sistema de jogo, está aquilo a que poderíamos chamar de "modelo de negócio". Mais ainda nos clubes que, não dependendo de milionários de ocasião ou não vivendo umbilicalmente ligados ao poder autárquico ou regional, não são sustentáveis por via das suas receitas ordinárias (bilheteira, quotização, receitas de TV, etc) e são obrigados a recorrer permanentemente às receitas extraordinárias conseguidas com a venda dos agora chamados "direitos desportivos" dos seus atletas, entretanto valorizados. Isso é claro em Portugal no caso dos chamados "clubes grandes", que apenas conseguem equilibrar as suas contas de exploração anuais com a venda dos passes de um ou dois jogadores. Para este fim, SLB e FCP recorrem, contudo, as estratégias um pouco diferentes: enquanto o SLB, nos últimos dois/três anos, tem privilegiado a "fonte de abastecimento" sul-americana, principalmente argentina, uruguaia e, até, paraguaia, que darão maiores garantias de rápida adaptação ao futebol europeu, o FCP, não a descurando (Falcão, Diego e Anderson), tem colocado o seu foco de abastecimento, na primeira década do século XXI, na Liga Liga portuguesa (Pepe, Deco, Bosingwa, Meireles, etc) independentemente da nacionalidade dos jogadores. Estamos a falar, claro, em termos muito gerais, pois não só o SLB realizou excelentes negócios com Fábio Coentrão ou Simão, como o FCP o fez com nomes da sua formação como Ricardo Carvalho.

E o SCP? Nenhum segredo: durante os últimos anos, principalmente através de jogadores da sua formação: Nani, Cristiano, Simão, Quaresma e até Moutinho. E porque individualizo aqui o SCP? Pois, o problema é que se olha para a sua equipa actual, depois de um investimento não negligenciável, e não se vislumbra uma estratégia de contratações que permita viabilizar um modelo de negócio deste tipo, absolutamente necessário para a sustentabilidade do clube. E a prova é que se viu obrigado a vender o passe de Moutinho ao um rival interno. Vejamos... Patrício é um bom guarda-redes, mas tão só; e o valor de mercado dos guarda-redes é limitado e implica algum risco (que o diga Alex Ferguson depois do "meio-flop" De Gea). Quem mais? Elias é um jogador já consagrado, de excelentes recursos, mas já foi caro e jogadores com as suas características não são raros no futebol europeu. Van Wolfswinkel? É um razoável "ponta de lança", mas evoluirá o suficiente e será o "estilo" de "ponta de lança" em voga no futebol de hoje, onde se privilegiam, nesse lugar, jogadores de maior mobilidade? De todos, quem me parece com maior potencial para permitir realizar algum valor futuro será talvez Carrillo, um desequilibrador, mas com o "handicap" de ser peruano e não argentino, brasileiro ou uruguaio, o que reduz o seu valor de mercado.

Bom, conclusões a tirar?... Uma e bem definida: que o meu rival SCP, para além de questões como o futebol jogado dentro e fora das "quatro-linhas" (o chamado "jogo jogado"), tem a montante uma questão que prevalece sobre todas as outras: qual o modelo de negócio que possibilitará a sua sustentabilidade enquanto clube, indispensável á obtenção de resultados desportivos. E, olhando para a sua equipa de futebol, se fosse seu adepto estaria preocupado. Muito preocupado. 

7 comentários:

VdeAlmeida disse...

Bom, não sei se "leio" bem o que o meu caro quer dizer no seu post sobre o modelo de negócio que os responsáveis do SCP pretendem para o clube, mas deduzo que quer dizer que a solvência passaria pelo negocio envolvendo jogadores. Isto é, valorizar jogadores jovens com vista à sua posterior venda.
É evidente que estou de acordo que a viabilização dos clubes passará por aí, a não ser que, por um bambúrrio de sorte, os clubes portugueses passassem a ver as transmissões televisivas dos seus jogos serem pagas ao nivel do que se faz no resto da Europa do futebol. Mas como não vivemos de sonhos...
Agora no que discordo é em duas ou três coisas, umas aí escritas, outras subentendidas. E uma das subentendidas é que os outros dois rivais terão mais matéria prima para exportação, o que lhes permitirá no futuro mais-valias assinaláveis. Ora olhando os plantéis de ambos, vejo que o FCP poderá fazer bons negócios (negócios chorudos para cima dos 10 milhões de euros) com Álvaro Pereira, James Rodriguez e o inevitável Hulk (este no entanto, bem longe dos tais 100 kilos com que o FCP sonha). Não incluo Iturbe e Alex Sandro, pois apesar do seu custo, ainda nem os vi jogar, e Danilo, mesmo que venha a provar o seu real valor na Europa, que mais valia poderá o FCP retirar de um jogador que lhes custou perto de 20M? (e é bom lembrar, que Hulk já custou mais que isso, e o clube ainda não detém a totalidade do seu passe).
No caso do SLB, passo pela defesa e não vejo nenhum jogador com mercado. Luisão e Maxi acabarão ali, Emerson foi um flop, e Garay é um central mediano que nunca dará grande margem de lucro. No meio-campo e ataque, osnomes em que emblemas estrangeiros poderão pensar serão Witsel, Rodrigo e talvez Cardozo (este apesar da sua idade já não ajudar muito). E não vejo muito mais.
(continua)

VdeAlmeida disse...

No caso do SCP, discordo quando deixa entender que Van Wolfswinkel é um jogador muito fixo. Não é verdade, é rápido de pernas e de cabeça (pensa depressa), é verdade que não é estilo carraça como era Liedson nem pisa os terrenos que este pisava, mas é um bom ponta de lança com grande margem de progressão (pena estar em baixa de forma e agora lesionado), e acredito que terá mercado alargado nos países de lingua inglesa ou alemã.
Mas comecemos pelo...começo. Tem razão em relação ao Rui Patrício, embora seja certo que o Sporting já terá em carteira propostas interessantes em relação a ele. Mas para o SCP será um alívio que não saia pois apesar daqueles momentos em que parece que lhe para a "boneca", como aconteceu no últimos minutos do jogo com o Braga, ainda é o melhor guarda-redes português. Na defesa, Insúa fez há dias 23 anos, e quanto a mim, é o melhor defesa esquerda a actuar na Liga. Oxalá Domingos não insista naquela bizarria de o por a jogar a médio à frente de Evaldo. Perder-se-ia um bom defesa esquerda, e não se ganharia um médio.
Na linha média, não creio que Elias fique mais que um ano, e apesar de ter custado quase 5 milhões ao SCP, poderá ser um bom negócio, dependendo do que o SCP fizer na Liga Europa, tal como Matias Fernandez, que é um grande jogador -talvez o melhor do Sporing - mas a quem parece sempre faltar a auro-estima suficiente para se transformar num fora-de-série.
Rinaudo é outro valor a ter em conta, dependendo da forma como recuperar da lesão.
No ataque é só escolher: Jeffren (23anos), Van Volswinkel (23anos), Capel (23 anos), Carrillo (20 anos) - não entendo como é que o facto de ser peruano o poderá desvalorizar - ou mesmo Rúbio (18 anos),se entretanto Domingos lhe der oportunidade de confirmar o valor que lhe atribuiram os comentadores ao elegê-lo como uma das grandes revelações da pré-temporada.
Isto para não falar em jogadores que estão emprestados (falo, por exemplo, de Adrien, que o Everton esteve a observar no último fim de semana)
Como vê, meu caro, não é por aí que os adeptos do SCP se têm que preocupar. Fale-me do vendaval de lesões que varre a equipa e aí estaremos de acordo. Tal como estaremos, se me disser que a equipa passa por um momento de certo modo preocupante sem motivo aparente.


Abraço

Joao cilia filho disse...

Caro VdeAlmeida, n me cabe a mim comentar, mas parece-me um exagero dizer q garay e mediano e n tem potencial de valorização. E internacional argentino e tem 23/24 anos! Acho tb q se esqueceu de javi g. E gaitan entre os possíveis valorizáveis. De qq forma, o importante na valorização dos jogadores e tar na campinos, e aí o sob leva claramente vantagem

JC disse...

Caro VdeAlmeida:
Apanas uma nota: de acordo no caso dos possíveis negócios do FCP. No caso do SLB, retiraria Cardozo (não me parece o SLB possa realizar mais-valias com um jogador c/ as suas características e aquela idade) e incluiria Gaitan. Quanto a Witsel, tenho dúvidas. É um bom jogador, mas, tal como acontece c/ o caso de Elias, é um tipo de jogador que raramente alcança um alto valor de mercado. Já agora: Garay não é um central mediano. É um bom central, quanto a mim até melhor do que David Luiz,mas que pelas suas características (não tão rápido, que raramente sai a jogar embora mtº bom no passe longo e menos "vistoso") dificilmente se valorizará da mesma maneira.
Abraço

JC disse...

Vamos por partes:
1. Insúa é um bom jogador, mas não o melhor lateral-esquerdo da Liga. Esse é Álvaro Pereira, um jogador de nível mundial. E o facto de vir de uma relativamente falhada experiência no Liverpool não ajuda. à sua valorização.
2.Elias custou quase 9M, e não 5M. Como já falei sobre ele, adiante.
3.Sim, Matias é talvez o melhor jogador do SCP. Mas falta-lhe ser mais regular e tb aquele toque extra que faz os grandes jogadores.
4. Sobre Ricky já falei. Mas não sou definitivo, embora conceda não ter certezas definitivas.
5. Jeffren? Mal jogou. E, veja, Nolito, que tem a mesma origem, tem sido de uma eficácia tremenda e nem sequer o cito como gerador de potenciais mais valias.
6. Carrillo, sim, parece-me poder o SCP vir aí a realizar mais valias se se confirmar o que já vi e ainda evoluir. O que quis dizer é que um jogador peruano não só tem sempre menos visibilidade do que um brasileiro, argentino ou uruguaio, como tb oferece menos garantias. É possivelmente injusto, mas é assim...
Abraço

VdeAlmeida disse...

Para os dois e com muito gosto:

É verdade que olvidei o Gaitan e o Nolito. Lapso meu. Mas não conheço o contrato de ambos, e não sei se estão ainda sob alçada parcial dos seus antigos clubes, como por exemplo, o Reyes estava.
Quanto ao Garay concedo que seja um bom central, mas não lhe vejo o potencial que via em David Luiz. E quanto ao Javi Garcia, lamento não partilhar do entusiasmo do JCFilho, mas acho-o mais um trinco duro e por vezes até violento, que muitas vezes tem beneficiado da benevolência dos nossos maus árbitros, do que um excelente trinco. Aliás, e nesse aspecto, acho-o muito parecido com o Rinaudo, só que este tem atenuante de só agora ter vindo jogar para a Europa (na América do Sul as coisas são um bocado diferentes, como sabem) e não tem beneficiado da bondade dos árbitros.
Quanto ao Elias, é verdade que custou quase 9 milhões. Mas o SCP alienou uma parte do seu passe por metade dessa verba.
Claro que o Álvaro Pereira é melhor que o Ìnsua. Mas este beneficia do facto de ser mais novo e de ter uma boa margem de progressão. O facto de a sua experiência em Inglaterra não ter sido bem sucedida, não tem grande significado. O Fernando Torres também não tem sido muito feliz, e no entanto, não é por isso que a sua cotação baixa.
Quanto ao Carrillo, penso que há aí um erro de perspectiva, meu caro JC: é que ele agora actua na Europa, não na América do Sul. Para quem no estrangeiro vê o SCP (FCP ou o SLB) jogar para as comptições europeias, não sabe (nem lhes interessa saber) se o Carrillo é peruano ou se o Garay é argentino, e não é a sua origem que lhes sobe ou desce a cotação.
A minha grande dúvida é o Jeffren. Ao que parece sofre do sídrome Fernando Mamede.

Abraço

P.S. - Já agora, meu caro JC, - e uma vez que por várias ocasiões abordou a questão do fair-play, nomeadamente naqueles casos dos empréstimos de jogadores a clubes da mesma divisão, dos treinadores de uma mesma origem a treinarem várias equipas da 1ª liga, ou de negócios feitos a meio da época - seria interessante saber a sua opinião sobre o negócio que o SLB fez com a União de Leiria respeitante ao jogador Djanin, precisamente na semana anterior ao jogo União de Leiria-Benfica.

JC disse...

Nem precisa perguntar: já disse aqui uma vez que no mercado de Janeiro, com as competições a decorrerem, devia ser proibída a contratação de jogadores a clubes que actuem nas mesmas ligas.Exactamente por isso, tb já afirmei que a UEFA deveria estabelecer uma data única p/ o início de todos os campeonatos europeus (excepto os do "frio") e ser essa a data de fecho das inscrições. E ponto final. Não é possível defender o meu clube e, simultâneamente, enfraquecer a indústria. Vale?