Desde os tempos do Estado Novo que antigos governantes são nomeados para as administrações de empresas privadas, principalmente, mas não de modo exclusivo, daquelas que correspondiam, tradicionalmente, a monopólios naturais ou de outras, durante a ditadura e a vigência do "chamado condicionamento industrial", em que o Estado, directa ou indirectamente, tinha assumido papel determinante na sua génese e desenvolvimento. Conheci vários casos, muitos deles de pessoas a quem não era reconhecida qualquer formação, capacidade ou experiência para o lugar que ocupavam, excepto o facto de serem íntimos do regime. O objectivo era, e é, apenas um: permitir uma relação bem "oleada", nos dois sentidos, entre o Estado e essas empresas, pouco importando se, desse modo, é o "Estado a mandar nas empresas" ou "as empresas a querer mandar no Estado", como agora alguns sectores afectos ao governo inventaram para "dourar a pílula" das nomeações para o Conselho Geral da EDP. Digamos antes que, em vez do primarismo de raciocínio que esses dois casos extremos expressam, estamos perante situações em que Estado e empresas não funcionam um sem o outro, numa relação umbilical, biunívoca, que expressa bem a fraqueza do empreendorismo e a sua falta de autonomia.
Prova-se, também, que se a privatização de algumas empresas pode ser condição necessária à sua autonomização, ela está frequentemente longe de ser suficiente, principalmente em casos nos quais se pode considerar não estarmos perante uma verdadeira e genuína privatização, mas apenas perante a venda dos direitos que o Estado português exercia numa empresa a uma sociedade de um país estrangeiro, só em teoria privada, onde não existe nem se prevê venha a existir, nos tempos mais próximos, qualquer autonomia empresarial. Que muitos "soi-disant" liberais exultem, já não é caso para estranhar: o seu liberalismo dura o exactamente o mesmo tempo em que o(s) seu(s) partido(s) está(ão) na oposição.
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