Eu sou o Gato Maltês, um toque de Espanha e algo de francês. Nascido em Portugal e adoptado inglês.
quarta-feira, fevereiro 28, 2007
O futuro político de Paulo Portas
História(s) da Música Popular (33)
terça-feira, fevereiro 27, 2007
Comentário (muito despretensioso) de um não-professor às imagens de uma aula (3)
Por isso, as medidas propostas pela actual equipa ministerial, embora na sua grande maioria vão no sentido correcto, não atingem o essencial, o “santo dos santos” da questão educativa: a autonomia das escolas na contratação e avaliação do seu quadro docente e o estabelecimento, em função disso, de uma hierarquia de valores, competências e salários.
Duas pequenas questões para terminar de vez:
- Ainda ninguém me conseguiu explicar, até hoje, porque deve um professor com mais anos de serviço ser aligeirado da sua carga horária, algo que não acontece noutras profissões, sabendo, ainda por cima, que a experiência adquirida o fará investir menos tempo na preparação das aulas. Ou seja, ganha mais e trabalha menos. Nada mal!...
- Não é o objectivo essencial das aulas de substituição, mas, segundo uma reportagem da RTP1, parece que isso conseguiu diminuir um pouco o absentismo dos professores. Simples de perceber: se sabem que vão prejudicar um colega, pensarão duas vezes antes de faltar. Ou então sofrerão pressões do colega. Óptimo!
segunda-feira, fevereiro 26, 2007
"Dica"...
Comentário (muito despretensioso) de um não-professor às imagens de uma aula (2)
Claro que a “culpa” (melhor: a responsabilidade) é do Ministério (e não desta ministra, especificamente, mas lá iremos), mas o que é um facto é que, pelo menos ao nível daquilo que é perceptível para os observadores distanciados como eu, a conivência dos professores, ao nível dos seus organismos representativos, foi e tem sido enorme ou total. Senão vejamos:
Costumo dizer que na questão da Educação está tudo ao contrário, e que esse é de facto o pecado original, o key issue ou o Santo Graal fonte da vida ou, neste caso, de todos ou quase todos os pecados: os conselhos directivos, ou os respectivos presidentes, deviam ser nomeados pelo ministério e não eleitos pelos seus pares, e os professores não deviam ser maioritariamente nomeados pelo ministério mas escolhidos e contratados pelas escolas, ou mediante um processo em que estas tivessem uma influência decisiva. Só este sistema permitiria uma avaliação justa do desempenho de cada escola, pois ninguém, ou nenhuma entidade, pode ser justamente avaliada se não escolher os seus próprios colaboradores, ou ser eleita pelos seus pares e responder a um ministério que não a nomeou ou elegeu. Claro que o actual sistema é muito cómodo e serve ás mil maravilhas a todos, professores e ministério: ninguém pode ser responsabilizado, ninguém é portanto responsável! É o “mundo perfeito”!!! Como, para mais, os professores lá vão progredindo na carreira por via dos “créditos” ganhos em pseudo acções de formação do tipo “curso de Excel” ou de “modelação do barro de Estremoz”, estamos conversados... Digam-me, por favor: como pode funcionar um sistema em que as escolas têm os professores que não querem, os professores as escolas de que não gostam e os conselhos directivos (sem qualquer preparação específica) são eleitos tipo “chefe de turma” dos meus tempos de liceu (género: “oh! pázinho, vota em mim que eu não deixo que te batam no recreio”)? Resposta: não pode e não funciona! Pois, dir-me-ão: mas se cada escola pudesse contratar professores funcionavam as “cunhas”. Claro que era um risco isso acontecer, por vezes. No “privado” também acontece. Mas no privado, quer em escolas quer em empresas que têm de competir no mercado e responder a donos e accionistas, isso só funciona até um certo ponto, pois está limitado pela competitividade e pelos resultados e objectivos – e ninguém é masoquista! Se na escola pública existisse alguma autonomia de gestão e contratação, de facto, e subsequente controle pelo ministério dos resultados obtidos, com recompensas e penalizações, a questão das “cunhas” seria claramente atenuada e tenderia para a minimização. Ora nunca vi os professores pugnarem por este tipo de soluções, antes pelo contrário!
Tudo isto é agravado, claro está, pelo chamada “progressão nas carreiras” e pelo modo como ela se processa. Começo por contestar a própria noção de “carreira”, com tudo o que isso significa: uma progressão na profissão assegurada, à partida, desde que se não dê grossa bronca (e mesmo assim...). Quando comecei a trabalhar, ainda frequentava a universidade, ninguém me disse que iria começar como trainee, dali a dois anos seria “junior”, depois “senior” e assim sucessivamente até manager, director ou lá o que fosse. A minha única garantia era que se trabalhasse com qualidade e os meus méritos fossem reconhecidos, nessa ou noutra empresa, poderia eventualmente (friso: eventualmente) progredir e chegar a lugares de direcção. Mais nada! E é isso que contribui para fomentar a qualidade de desempenho! No caso do ensino, se a avaliação, na prática, não existe e a progressão na carreira é quase garantida, para quê o esforço? Como explicar a alguns amigos professores (juro que tentei) que as quotas são absolutamente necessárias e que, na minha vida profissional, a director só chegaram alguns, poucos?
Quanto às aulas de substituição... Discutia o assunto um dia destes com um velho amigo, professor de matemática conceituado e, on the top of that, com uma vasta cultura humanista. Perante os seus protestos, face ao assunto, e ao facto de ter de ir substituir um professor de uma outra cadeira da qual desconhecia a matéria, limitei-me a responder que seria com certeza, para ele, muito fácil ter três ou quatro tipos de temas tipificados previamente (consoante a idade dos alunos), para a eventualidade, e aplicá-los. Sugeri mesmo que podiam passar pela própria matemática, usando aquelas charadas matemáticas divertidas ou algo do mesmo género, ou por temas interessantes e engraçados, mas fora dos programas, de História ou Literatura (matérias de que ele é conhecedor). Não obtive resposta, nem qualquer contra-argumentação. Repeti a sugestão a duas amigas próximas. De uma não tive igualmente qualquer resposta e de outra (tida como a mais interessada na profissão) soube que era isso exactamente o que estava a fazer. Sem comentários, portanto!
Quanto ao facto, apresentado por uma leitora habitual, de ser difícil manter a ordem numa turma não sendo sua professora, admito que possa ser mais complicado; mas também sei que a questão da autoridade depende mais da “imagem” que se tem na escola, em função das práticas habituais conhecidas de todos os alunos, do que do facto de se ser ou não professor da turma. Sempre foi assim. Não o será ainda hoje?
E pronto. Hoje fiquemo-nos por aqui. Pode ser que volte à questão da ministra...
Grandes Séries (7)
domingo, fevereiro 25, 2007
Comentário de um não-professor às imagens de uma aula
Sugestão de Domingo
sábado, fevereiro 24, 2007
sexta-feira, fevereiro 23, 2007
Notícias de Espanha
A direita... (2)
A direita...
A propósito de José Afonso
Considero José Afonso e Alfredo Marceneiro as duas personalidades mais importantes da música popular portuguesa do século XX, só aparentemente tão afastadas como o possa parecer à primeira vista. Ambos nascem no fado: o primeiro no fado/balada de Coimbra, evolução e adaptação do fado de Lisboa levado para o Mondego pelos estudantes, e cuja influência é quase sempre bem visível na sua obra; o segundo no fado de Lisboa, que cultivou durante toda a sua longa vida. Ambos, cada um no género musical que foi o seu, foram inovadores. Ambos cultivaram uma certa “marginalidade e boémia, no caso de Marceneiro a de Lisboa dos fadistas, dos bairros populares, no caso de José Afonso a boémia coimbrã das repúblicas e das serenatas. Ambos foram ferozmente individualistas nas suas opções, embora os puristas de José Afonso possam achar esta afirmação sacrílega face às suas opção políticas. Ambos assumiam tiques de “prima dona”, numa arrogância mascarada de humildade e anarquia. Ambos foram geniais.
Depois e antes deles, quem? Amália foi uma intérprete extraordinária, demasiado breve nas suas opções fadistas, cedo trocadas pela “música de variedades”; pelo “Diga lá Oh Senhor Vinho” com palmas do público a compasso, o que lhe terá rendido a fama, o dinheiro, mas afastado os que põem a música em primeiro lugar. Comparo-a a Elvis Presley, também com uma carreira musical longa, mas demasiado curta enquanto originalidade autêntica: basicamente entre 1954 e 1958, nas suas gravações para a “Sun” e primeiras para a “RCA”. Oiça-se, pois, o extraordinário “Amália no Café Luso” e guarde-se essa memória. Variações foi demasiado breve, na sua genialidade, mas também ficará para sempre. Paredes? Claro, Carlos Paredes talvez seja o que mais perto fique dos dois primeiros, faltando-lhe talvez vida para além da música, que é genial.
Pois, “que vivam mil anos”!... Todos eles.
quinta-feira, fevereiro 22, 2007
William Blake: "Songs of Innocence and of Experience" (5)
O "patrioteirismo" dos comentadores desportivos
Posto isto, reconheço que o FCP fez um bom jogo e que o Chelsea fez um jogo apenas um pouco melhor do que miserável. Durante largos momentos, nem sequer controlou o jogo. Reconheço também que o FCP poderia até ter ganho, tal como o Chelsea, o que, dada a diferença de recursos, é um elogio para os portistas. Parabéns, pois. Mas gostava de ter ouvido ou visto escrito, com toda a nitidez, que a equipa de Londres teve a sorte do jogo contra si, já que:
- Perdeu o seu capitão John Terry (para mim, actualmente o melhor central do mundo) aos 12 ou 13’ de jogo, não tendo mais nenhum central no banco e isso obrigando a recuar Essien, descompensando o meio campo e jogando com um central de recurso.
- O golo do FCP foi marcado quando o Chelsea jogava com dez e a bola tabelou em Frank Lampard impossibilitando a defesa de Petr Cech.
- Robben teve de sair ao intervalo, lesionado, obrigando a novas modificações tácticas (sim, eu sei que Mourinho iria sempre “meter” Obi Mikel, reequilibrando a equipa, mas sem a lesão de Robben seria talvez Shevchenko a sair).
Seria igualmente interessante, em vez de dizer que "tudo está em aberto", salientar que o resultado (1-1) permite ao Chelsea entrar em vantagem no jogo de Stamford Bridge* e, mais ainda, permitir-lhe-á jogar como melhor sabe e gosta.
Espero, e desejo, menos “patrioteirismo” na análise do jogo do meu “glorioso”, logo ao fim da tarde.
*Já agora, nome que evoca uma importante batalha no Yorkshire, em 1066, em que os anglo-saxões, sob o comando de Harold, venceram os Vikings pondo fim ao seu domínio sobre a Inglaterra. Umas semanas depois Harold morrerá em Hastings às mãos dos Normandos de William the Conqueror, iniciando um novo período na História de Inglaterra... O futebol também pode servir para aprender alguma coisa!
As Capas de Cândido Costa Pinto (26)
Ainda Lisboa
quarta-feira, fevereiro 21, 2007
História(s) da Música Popular (32)
E vamos começar pelos “Lively Ones”, uma banda da Califórnia do sul (Orange County) do início dos anos 60 e que começou por ser conhecida como “Surfmen”. “Surf Rider” é uma composição de Nokie Edwards, guitarra-solo dos Ventures, outro grupo associado à "surf music" mas não só (um equivalente americano dos “Shadows”), e foi gravada pelos “Lively Ones”, para a Del-Fi, em 1963. Atingiu o #1 de vendas no... Hawaii!!! Onde houvera de ser???
O "norte" e o investimento público
Ora vamos lá ver:
O declínio da região norte (e estou a referir-me à área do Porto litoral acima e abaixo do Douro e que vai até Braga/Guimarães) era previsível já há, pelo menos, vinte anos, tal como o do modelo de desenvolvimento que lhe deu origem e o sustentou. E é na estrutura, ela própria, desse modelo de desenvolvimento que encontramos as razões da sua ascensão, apogeu e declínio. Quando do 25 de Abril, a estrutura empresarial nortenha beneficiou das suas características (micro e pequenas empresas, distância ao centro de efervescência e decisão política e económica, trabalhadores ainda muito influenciados pela ruralidade o que dificultava a intervenção dos sindicatos e a influência dos partidos como o PCP e os situados à sua esquerda) para a “escapar” à vaga de nacionalizações, ocupações, saneamentos, intervenções estatais, etc. A seguir ao 25 de Novembro era a estrutura empresarial que restava fora do Estado, e de onde veio a nascer a 1ª vaga do empresariado português no pós revolução (Belmiro de Azevedo, Ilídio Pinho, Américo Amorim, para só citar alguns). O facto de se tratar de uma estrutura empresarial baseada fundamentalmente na indústria transformadora vocacionada para a exportação (hoje em dia, fonte de uma boa parte dos problemas que agora enfrenta) foi ao tempo uma vantagem acrescida, quando os problemas crónicos de balança de pagamentos tornavam imperiosa uma maior dinâmica nesta área. A menor pressão sobre os salários (factor de produção mais importante na sua estrutura de custos), fruto da menor influência sindical sobre os seus trabalhadores e de, muitas vezes, estes partilharem o trabalho na fábrica com alguns proventos de uma actividade agrícola de subsistência, e a desvalorização constante do escudo (a célebre “crawling peg”, lembram-se?) foram elemento decisivo na manutenção da sua competitividade e, logo, do status quo. Foram portanto razões históricas e um forte apoio estatal baseado na desvalorização da moeda e na contingentação das importações (o que é isto senão apoio estatal!?...) que viabilizaram este “modelo”. E temos de ser claros e afirmar que este não foi, de facto, um “modelo” de modernidade”, antes o possível, tendo correspondido mesmo a um retrocesso real face à estrutura empresarial anterior à revolução, o que fez o país abordar a integração na então CEE em condições bastante desfavoráveis. Essa integração, primeiro, a entrada na moeda única, a globalização e, antes disso, as privatizações, principalmente do sector financeiro, colocaram esse modelo num beco de que não me parece, felizmente, venha a sair... Quem previu o seu fim e teve oportunidade de se reconverter (o caso de Belmiro de Azevedo é o mais emblemático: a Sonae era uma empresa de laminados e aglomerados) não deixou de o fazer... Sobreviveu e fortaleceu-se!
E vamos lá ao investimento público... Independentemente das asneiras que se fizeram e, inevitavelmente, se irão continuar a fazer (espero que em menor grau e número); independentemente do dito investimento público poder e dever servir também de compensação e correcção de algumas assimetrias regionais, ele não pode deixar de, em certa medida, acompanhar também, no seu crescimento, o maior dinamismo de algumas regiões. Isto significa que, no fundo, se uma determinada região tem mais tendência para crescer fruto do dinamismo do sector privado ou da apetência das empresas para nela preferencialmente se instalarem, o investimento público estruturante, de forma proporcional ou não, à priori ou à posteriori, poucas vezes poderá escapar, pelo menos em parte, a esta mesma lógica. Portanto, o “norte”, que gosta de se fazer notar pelo seu tradicional liberalismo e empreendorismo, acaba por estar agora a pagar, também ao nível do investimento público, o preço de um “modelo” – baseado numa estrutura empresarial ainda maioritária - que durante algumas dezenas de anos lhe trouxe um apoio do Estado, directo e indirecto, então inquestionado e inquestionável. É a modernidade que o está finalmente a pôr em causa... Como dizia alguém que não deixou muitas saudades, “é a vida”...
terça-feira, fevereiro 20, 2007
Grandes Séries (6): a WWII na TV (à "boleia" de Iwo Jima)
segunda-feira, fevereiro 19, 2007
Madeira...
Para ver em casa
domingo, fevereiro 18, 2007
Carnaval...
"Letters From Iwo Jima"
sábado, fevereiro 17, 2007
Outras Músicas (18)
Desemprego...
Espero é que a tentação de resolver (diria antes “atamancar”) matéria tão sensível não leve o governo a recorrer às habituais receitas de curto prazo, que, mais tarde ou mais cedo, se iriam pagar bem caro.
sexta-feira, fevereiro 16, 2007
Salazar
O novo RCP
- A informação é seguramente menos actual e abrangente do que a da TSF. Menos “incisiva”, também, o que me leva sempre a tentar ouvir pelo menos um dos noticiários da TSF, das oito ou das nove.
- Tornar a informação sobre o trânsito uma “estrela” (o mesmo acontecendo ao respectivo jornalista) parece-me inadequado; deveria ser apenas uma informação acessória. Importante, mas acessória.
- No dia em que houve de facto notícias relevantes (o caso Fontão de Carvalho, a intervenção do PR na questão do aborto e a nova oferta da Sonae pelas acções da PT, por exemplo – para só falar das nacionais) eleger como tema do dia o rapto de um bebé, há uns anos, num hospital de Penafiel só pode interessar mesmo aos leitores de tablóides. Suficiente, portanto, para mudar rapidamente de frequência e não regressar.
quinta-feira, fevereiro 15, 2007
DN...
Saudades...
Grandes Séries (5)
O PR, o "NÃO", o PS e o referendo
- Desvalorização dos resultados da votação argumentando com a elevada abstenção e com o facto desta tornar o referendo juridicamente não vinculativo.
- Contestação da constitucionalidade da futura lei alegando incompatibilidade com o “direito á vida” inscrito na constituição.
- Tentativa de condicionar a elaboração da futura lei na Assembleia da República, tornando-a o mais restritiva possível, por via do recurso a consensos alargados aos defensores do “NÃO” (note-se que não discordo que se procurem consensos mais alargados, desde que isso não altere, na sua essência, o que os portugueses aprovaram no passado dia 11 – veremos, em breve, que não será isso o que os partidários do “NÃO” pretendem).
- Tentar, no terreno e na prática, dificultar o mais possível a implementação da futura lei, através, por exemplo, do recurso à objecção de consciência dos médicos ou ao “domínio”, pelos seus “militantes”, de eventuais comissões de aconselhamento.
Com as suas últimas declarações o Presidente da República está objectivamente a colocar-se ao lado da causa do “NÃO” (o que não constitui qualquer surpresa), defendendo os seus pontos de vista no que refere ao ponto 2. e não fechando mesmo a porta a um eventual veto político que forçasse, no limite, a uma re-apreciação e revisão da lei, na AR, num sentido mais favorável ao “NÃO”. Significa isto uma crítica à actuação do PR neste processo? De todo, embora, enquanto defensor do “SIM”, me situe no campo oposto ao de Cavaco Silva. Penso que o PR soube resistir aos “cantos da sereia” dos defensores do “NÃO” para que se pronunciasse antes do referendo (o que seria inaceitável em função do enquadramento constitucional das suas funções) e pronuncia-se agora no exercício do poder “moderador” que é o seu. Não do meu lado, claro, mas é assim mesmo a democracia. Esperemos que assim se mantenha e resista às pressões que se irão seguir e para as quais abriu a porta.
Quanto ao PS, prepara-se para um exercício de solidão... Terá de saber resistir ao PCP e Bloco, que tentarão forçar a uma confrontação com o PR, e a cedências fundamentais aos partidos à sua direita (e no limite mesmo ao próprio PR) que ponham em causa os resultados da votação. Esperemos que também o saiba fazer.
quarta-feira, fevereiro 14, 2007
História(s) da Música Popular (31)
Bom, mas vamos ao que interessa. A surf music não é mais do que um “ramo” do rock instrumental, área que por aqui passou há algumas semanas. Mas, mais do que isso, é a expressão musical de um estilo de vida da Califórnia do início dos anos sessenta. Sobre isso, não resisto a citar a descrição de Philippe Bouchey no seu “Le Guide du Rock”: “O surf sempre foi (e ainda é) um universo marginal, com os seus princípios ( o fun, a provocação), o seu vocabulário e os seus locais (Califórnia, Hawai, Austrália). Aparece de facto como um modo de vida completo, uma espécie de gesto de desprezo pelos valores adultos de responsabilidade, pela consciência do perigo... ...É portanto, se quiserem, um paraíso protegido do mundo adolescente, e mais ainda nos anos sessenta, devido à economia próspera. Não é portanto de admirar que surf e rock se encontrassem ligados por uma música específica...”
Se no campo dos vocals, os Beach Boys e Jan & Dean são incontornáveis, é na surf music instrumental que encontramos o verdadeiro “rei”, na pessoa e no som de Dick Dale (“the king of surf guitar”) and his Del-Tones, criadores de “Misirlou” o verdadeiro hino da surf music. Mas grupos como os “Surfaris”, “Chantays”, “The Lively Ones” e “The Tornadoes” irão também por aqui passar, e semelhanças com Link Wray and the Wraymen, que por aqui se fizeram ouvir nos posts dedicados ao rock instrumental, serão claramente audíveis.
E por onde começar? Como diria um tal senhor francês, pelo princípio, claro, e isso significa aquela que é considerada a primeira gravação do género: “Moon Dawg”, editada pelos Gamblers em 1959. Os Beach Boys gravariam também uma versão do tema em 1962, integrada no álbum “Surfin’ Safari”.
Let’s go surfin’?
PS. Recomendações: da fase surf music dos Beach Boys não faltam colectâneas e re-edições em CD dos álbuns editados. Para Jan & Dean “Surf City: The Best Of Jan and Dean – The Legendary Masters Series” (EMI, 1990). Para surf music instrumental: “King of the Surf Guitar”: The Best of Dick Dale & His Del-Tones (Rhino, 1989) e a colectânea “Surfin’ Hits” (Rhino, 1989).
Colaboração enviada pelo meu amigo Pedro Quadros, surfista entusiasta e marido de ex-campeã nacional da modalidade:
Já agora, outra curiosidade : as bandas sonoras dos filmes de surf dos anos 60 (mais uma vez refiro-me aos verdadeiros, realizados pelo Bruce Brown…) tinham ambiente essencialmente Jazz, compostas particularmente por um músico surfista de que agora não me lembro o nome (mas posso obter). Aqui o objectivo era captar a postura mais “cool” e “counter culture”.
Por fim, é interessante verificar que o meio surfista é frequentemente percursor de novos estilos musicais que vai apresentando e divulgando pelo Mainstream – por ex. no final dos anos 80/inicio dos anos 90 era o New Punk (Californiano) com os TSOL, Bad Religion, Pennywise, Offspring…; No final dos anos 90/inicio do novo século com o Ben Harper primeiro, e de seguida com o Jack Johnson – já agora, ambos fazem surf; e o Jack Johnson nos seus 20 anos era mesmo semi-profissional de surf…..
*Abordavam o surf como expressão do Mainstream 60’s Califórnia Teenage LifeStyle, pois dos quatro só um fazia e não era ávido. "
"The End Of The Affair"
terça-feira, fevereiro 13, 2007
Referendos e abstenção
segunda-feira, fevereiro 12, 2007
Uma nova direita
Uma das conclusões mais interessantes a retirar do referendo é que ele marca a primeira intervenção política de grande visibilidade mediática de uma direita moderna, liberal e laica. É uma direita que maioritariamente nasce ou se consolida - e intervém - na blogosfera, com uma visão cosmopolita do país e que não se revê no conservadorismo e no catolicismo tradicionais da direita portuguesa. A participação activa, no lado do “SIM”, de personalidades como Carlos Abreu Amorim, Helena Matos, Vasco Rato, Pedro Lomba ou, até, Tiago Barbosa Ribeiro, do “Kontratempos”, aí está para provar que as mudanças na sociedade portuguesa (v.g. crescimento urbano, maior literacia, terciarização e crescimento das classes médias), que deram origem ao nascimento e consolidação do “Bloco de Esquerda”, se reflectem também à direita, num “arejamento” saudável no campo das ideias que também tem feito caminho no interior do próprio PS. Gostaria de sublinhar que, a nível dos media tradicionais, quem melhor disso se apercebeu foi a RTPN, fazendo reflectir esta nova realidade no seu “Choque Ideológico”, uma lufada de ar fresco no debate político das televisões. Convergências (algumas) e divergências (outras) à parte, é o país que fica mais respirável.
"La Razón"???
domingo, fevereiro 11, 2007
O "day after"
Esperemos também que o caminho agora aberto nesse sentido se prolongue em outras áreas bem fundamentais, como a reforma do Estado e da Administração Pública, distinguindo os seus funcionários e a progressão nas respectivas carreiras pelo mérito, e a descentralização do ensino público concedendo maior liberdade e responsabilidade às escolas na contratação dos seus professores e na responsabilização pelos resultados obtidos. São questões fundamentais na sociedade portuguesa, não esquecendo o cumprimento das metas estabelecidas pelo Pacto de Estabilidade e Crescimento que, só aparentemente, não parece ser para aqui chamado. Para todas estas, 2007 é uma ano chave.
Porque perdeu o Benfica...
Em primeiro lugar, o Benfica perdeu o jogo porque nunca ganhou o meio-campo. Na primeira parte a “coisa “ ainda andou “ela por ela” mas na segunda o meio-campo do SLB nunca conseguiu pegar no jogo. Ok, tudo bem, dirão. E porquê? Em primeiro lugar porque sentiu demasiado a falta de Petit e Karagounis, muito mal substituídos por Beto e João Coimbra. Aquele não acertou um passe e contou com a complacência do árbitro para não sair do trabalho mais cedo e este foi ausente (ou quase). Nenhum deles é melhor jogador do que qualquer dos seus pares “poveiros”, antes pelo contrário. Pior ainda, o verdadeiro descalabro originado pela presença em campo de Beto e Coimbra, obrigou a que um jogador com a classe de Katsouranis andasse permanentemente sem saber muito bem o que fazer e quando o fazer, no meio de tanta desafinação, não tendo a mesma influência, decisiva, no jogo da equipa. Ah, e há Rui Costa... Pois, sabe o que anda a fazer e normalmente faz bem, principalmente nas "bolas paradas" e no passe. Mas, sejamos claros, quando o jogo é assim para o “rasgadinho” e o ritmo um pouco acima do habitual, Rui Costa já não tem lá muito vida para aquilo. Foi assim na primeira parte com o Boavista, jogo onde Rui Costa só apareceu na segunda parte quando o ritmo baixou e os espaços foram maiores. Para que este handicap possa ser ultrapassado é necessário que o restante meio-campo compense, faça aquilo que Rui já não pode fazer e também nunca foi o seu forte, o que manifestamente ontem não aconteceu por ausência de Petit e Karagounis com reflexos no trabalho de Katsouranis.
Perdeu também o jogo porque ninguém ainda explicou (ou ele não aprendeu) a Nelson como se joga “à bola”. O lateral não tem cultura táctica, não domina os processos defensivos do jogo - questão essencial na posição - e apresenta um deficiente entendimento das suas funções e um desigual balanceamento entre as acções ofensivas e defensivas. O defeito não é de agora, mas será que ainda ninguém reparou? Ontem, até 80% dos centros, normalmente o seu ponto forte, saíram “para o pinhal” por falta de consistência na execução técnica. É que se quer aprender, basta olhar para o outro lado, onde um Léo, que nem sequer é um jogador de classe mundial (faltam-lhe dez centímetros e uns quilos, mas se os tivesse também não jogaria no Benfica), domina perfeitamente os processos de jogo de um lateral. Mesmo quando não joga bem - e ontem não jogou!
Por fim, Nuno Gomes. É um jogador com a chamada “boa imprensa”, daqueles dos quais se diz que se “movimenta bem”, “abre espaços” e outros epítetos “quejandos” com os quais se tende a desculpar a falta de eficácia goleadora de um avançado. Admito que o faça, mas em um de cada 5 jogos, com alguma boa vontade. Ontem foi um dos quatro jogos em cinco em que não fez: não ganhou uma disputa de bola com a defesa contrária (em 90% dos jogos não o consegue), não fez um remate, um passe ou uma desmarcação. E quanto a golos, a estatística fala por si. Alguém me explica porque, no meio de tantas entradas e saídas, o SLB ainda não conseguiu contratar um ponta de lança razoável desde a saída de Pierre Van Hooijdonk e João Tomás? Como diria o Herman José do “antigamente”: “é como a vida dos pobrezinhos, um mistério”.
sábado, fevereiro 10, 2007
Grandes Séries (4)
sexta-feira, fevereiro 09, 2007
O referendo e a hipótese "revanchista"
O modo como os partidários do “Não” têm conduzido a campanha, nesta última semana - apresentando uma proposta que, na prática, é um incentivo ao aborto clandestino -, obriga-me a interrogar, uma vez mais, sobre o que estará em causa neste referendo, para além daquilo que consta da respectiva pergunta e que é bem claro. Para além dos números do próximo domingo poderem significar uma vitória ou derrota da efectiva influência política da Igreja Católica (e, principalmente – friso -, de alguns dos seus sectores e organizações mais conservadoras), na sociedade portuguesa, parece-me que, “cavalgando” oportunisticamente questão da IVG, poderá estar a desenhar-se em torno da campanha um fenómeno de revanchismo e radicalismo político de cariz semelhante ao acontecido em Espanha com o PP. E se em Espanha esse fenómeno se organizou em torno da Associação das Vítimas do Terrorismo e da questão das nacionalidades, os temas politicamente mais “fracturantes” – o que está verdadeiramente em causa é não é o terrorismo mas a natureza do estado espanhol -, conduzindo ao domínio do PP pelos seus sectores mais radicais, em Portugal o movimento parece ter algumas dificuldades em se definir partidariamente, fruto do tema em si, da especificidade de nascimento e crescimento dos partidos políticos, da fragilidade do CDS, da natureza catch all party do PSD e da política reformista e liberal do PS nos sectores económico e estatal. Será que as questões de sociedade poderão, no futuro, contribuir para o necessário rassemblement, “à direita”, do espectro partidário que se situa à direita do PS? Para já, parecem causar alguns problemas à esquerda, retirando ao Bloco algumas das causas que formatavam a sua personalidade e, assim, encostando-o ao PCP com o qual partilha uma concepção conservadora da organização económica e das relações empresariais. Quanto ao resto... uma certeza: a sobreposição de interesses com a Igreja Católica nas questões de “sociedade” dificilmente conseguiria a mesma intensidade e identidade em outras áreas da organização do estado e da economia, e estas áreas são hoje em dia incontornáveis na sociedade portuguesa.
quinta-feira, fevereiro 08, 2007
O "major" e a IVG
Comentário: chama-se a isto "escrever direito (votar "SIM") por linhas tortas" ou então "no melhor pano (votar "SIM") cai a nódoa". Só não sei de a educação sexual terá algo a ver com a "fruta" e o "café com leite" do processo apito dourado! Ah, "ganda" major!!!
História(s) da Música Popular (30)
Mas vamos lá então a este último capítulo do "doo-wop" featuring os inevitáveis Moonglows (era impossível passar sem...) mas também os bem menos conhecidos Gladiolas.
Os Moonglows são um grupo formado em Louisville, Kentucky, mas que cedo debandou para Cleveland, Ohio (que por sinal tem uma boa orquestra sinfónica!) onde foram lançados pelo célebre disk jockey Alan Freed. Os seus lead singers são Bobby Lester (cantava as canções mais românticas) e Harvey Fuqua (estava encarregue das mais uptempo, quer dizer, das mais “mexidas”). Depois de terem gravado este “Sincerely”, em 1954, para a “Chess” (canta Bobby Lester), gravaram alguns outros sucessos que culminaram com “10 Commandments Of Love” o seu maior e último êxito com a formação original, mas já como Harvey & The Moonglows.
Já os Gladiolas vêm de Lancaster, South Carolina. Mudaram de nome um ror de vezes e, depois de se chamarem Royal Charms e Gladiolas, acabaram como Maurice Williams & The Zodiacs em 1959. Foram um dos grupos-bandeira da Excello, uma importante etiqueta de música negra Nashville, Tennessee, e este “Little Darling”, escrito por Maurice Williams quando este tinha treze anos e gravado em Janeiro de 1957, possui a curiosidade de ter alcançado sucesso (mais de 4 milhões de discos vendidos) não nesta sua versão original mas através de um cover do grupo canadiano branco, The Diamonds, também em 1957. Mais tarde foi também gravado por Elvis Presley e pelos “Four seasons”. Pois aqui fica como despedida do "doo-wop".
Os quiosques e a imprensa gratuita
Bom, tenho a maior estima pelos quiosques de Paris, parte integrante de uma das paisagens urbanas que me são mais queridas, mas convenhamos... Os quiosques de Paris, tal como outros, nasceram e cresceram como resultado do rápido desenvolvimento da imprensa no século XX – e muito particularmente na sua segunda metade – fruto também ele da crescente urbanização das sociedades e do desenvolvimento das classes médias e da literacia. Não consta que o SNLI alguma vez se tenha manifestado para agradecer a oportunidade de negócio que isso constituiu. Agora, que a imprensa paga parece estar em crise, fruto da internet, da televisão e dos jornais gratuitos, compete aos quiosques encontrarem outra forma de rentabilizar o seu negócio, tal como, por exemplo, os CTT o estão a fazer em Portugal (basta entrar numa loja e ver) Muitos irão consegui-lo, outros optarão por mudar de ramo de negócio, outros abrirão falência e outros, ainda, os seus proprietários optarão pela reforma. É isto que torna uma sociedade competitiva, pujante e dinâmica, desde que se assegure a todos uma vida dentro dos padrões da dignidade...
quarta-feira, fevereiro 07, 2007
William Blake: "Songs of Innocence and of Experience" (3)
"Right on target"
terça-feira, fevereiro 06, 2007
Portugal - Brasil
Mas, agora perder com o Brasil?... Isso é que nem a feijões, está bem?
Ana Gomes, o referendo e a participação do PR
Quanto a Ana Gomes, se está mesmo do lado do “SIM” no referendo (como eu) talvez seja bom que mantenha algum low profile até às 20h do próximo domingo.
As Capas de Cândido Costa Pinto (25)
segunda-feira, fevereiro 05, 2007
Grandes Séries (3)
Jardim o os subsídios
Duas notas sobre o referendo
- Os países da UE onde a legislação sobre o aborto é mais restritiva são a Irlanda, Polónia e Malta (sim, aqui há uns anos tinha mesmo um familiar maltês, padre católico, com quem o meu pai, por vezes, se correspondia), todos eles países onde a Igreja Católica detém ainda uma enorme influência e poder político. Quer se queira quer não, é isto que também está em jogo no próximo domingo, a influência política que queremos a Igreja tenha na sociedade portuguesa. Note-se – para que não restem dúvidas – que nada de especial me move contra tal instituição. Penso, mesmo, que a Igreja Católica portuguesa soube fazer com inteligência e com um sucesso assinalável a sua integração na sociedade democrática e no estado laico. Tenho, mesmo, admiração cívica e respeito intelectual por alguns dos seus dirigentes. Mas não me revejo em muitas das suas propostas políticas, que considero não contribuírem para tornar Portugal um país mais moderno e uma sociedade mais aberta e liberal.
- Com a sua nova proposta, defendendo uma solução legislativa que evite os processos judiciais sobre mulheres que abortem (clandestinamente, subentenda-se, já que não aceitam a alteração da lei que regulamenta a respectiva prática), os defensores do “Não” (agora transformado em “Nim”, “não sei bem”, “talvez” ou “já não sabemos o que fazer para ganharmos”) estão de facto a propor algo de espantoso: a promoção, de facto, do aborto clandestino (para algumas) ou das idas a Badajoz (para outras). Será que já se deram conta ou para os portugueses lá porem a cruzinha no "Não" já vale tudo? É que, sendo assim, já começamos a desconfiar que o que está, no fundo, em jogo para os partidários do "Não" é muito mais do que a alteração de uma lei... Será?