Está dado o mote, criado o "caldo de cultura" populista para o "aftermath" do jogo da selecção portuguesa de futebol com a Alemanha. Se a selecção fizer um "bom resultado" (leia-se, ganhar ou empatar) lá teremos mais uma vez a história dos "portuguesinhos" valentes, pobres mas lutadores, que vergaram a poderosa e arrogante Alemanha (pouco faltará para lhe chamarem "nazi"). Tudo isto, claro, potenciado por afirmações de alguns responsáveis da selecção alemã que não dão Portugal como favorito e ridicularizam os golos sofridos no jogo com a Turquia, bem como pela estratégia política europeia da CDU de Angela Merkel. Esquecem-se que a selecção portuguesa está mesmo longe de ser favorita, que dois dos golos sofridos contra a Turquia foram mesmo ridículos, que a tradicional e tão enaltecida "humildade" portuguesa nada mais é do que a arrogância dos fracos e que a estratégia de Merkel e da CDU alemã, da qual discordo, nada mais representa do que a sua interpretação, mesmo que errada, do que entendem ser o interesse nacional. Será a versão pós-moderna do discurso pedrotiano e de "A Bola" de antanho, do futebol "matreiro e malandro", da valorização da esperteza e "desenrascanso" nacionais contra a "força bruta" e os "panzers" alemães. Só de ter de o escrever me dá vómitos e sabemos onde tal nos levou.
Se a selecção portuguesa perder, já existe "bode expiatório", certificado e autenticado, despoletado por afirmações de dois treinadores ressabiados pelo seu afastamento da selecção (Manuel José quase chegou a ter contrato assinado e foi "trocado" por Scolari) e que nunca obtiveram qualquer sucesso no primeiro-mundo do futebol adulto. E o tal "bode expiatório", agitado por quem pouco ou nada percebe de metodologia de treino e liderança, será o "circo", o dinheiro gasto na preparação, o "descanso" (o que seria bom era mesmo serem tratados como presidiários...), os carros dos jogadores, o que ganham e, por último - e uma vez mais -, os estafados apelos ao proteccionismo na defesa dos jogadores portugueses. Para além de "media" e "povo da SIC colocarem em segundo-plano o facto de Manuel José e Carlos Queiroz (já agora, porque é constantemente tratado por "professor" e Mourinho não?) terem um contencioso com a FPF, o que nada atesta em favor a independência das suas análises, esquecem-se que, em função dos adversários, o não-apuramento para os 1/4 de final será o resultado natural (digamos assim), a preparação não terá sido muito diferente de anos anteriores, que o jogadores são livres de gastarem como quiserem o muito dinheiro que legitimamente ganham (e ter um carro de €200 000 não significa qualquer falta de profissionalismo), que os melhores resultados da selecção portuguesa foram conseguidos com uma maioria de jogadores a actuarem nos melhores campeonatos europeus e que o dinheiro gasto com estágios e treinos é recebido de patrocinadores, da venda de direitos televisivos e da UEFA. E, claro, que boas exibições e resultados da equipa terão óbvias repercussões na valorização dos próprios jogadores, pelo que estes serão os primeiros interessados em ganhar.
No fundo, estamos perante duas faces da mesma moeda, que revelam a falta de seriedade e rigor com que estes assuntos são analisados pela comunicação social, fruto, também elas, da mesma ausência de cultura e rigor, do subdesenvolvimento ainda demasiado evidente na sociedade portuguesa e da impreparação de muito do jornalismo desportivo (há excepções, felizmente) para a profissão que exercem. Uma lástima.
2 comentários:
Excelente Post JC.
Na mouche!
Desejo um regresso rápido da selecção. Dia 17. Não há pachorra para tanta dose de alienação.
Enviar um comentário