Ao contrário de Espanha, que teve um império europeu e, ao longo da sua História, foi quase sempre uma potência continental a ter em conta, Portugal nunca foi verdadeiramente um Estado europeu e, exceptuando pequenos períodos e de forma marginal, nunca se envolveu de forma determinante nos conflitos que edificaram aquilo que é a Europa de hoje em dia. Claro que Aljubarrota pode - e deve - ser considerada como um episódio da Guerra dos Cem Anos; houve as invasões de Napoleão, uma guerra mais travada por ingleses em solo luso do que outra coisa qualquer; e tivemos ainda o CEP, um exército composto por camponeses analfabetos que desconheciam qualquer tipo de estrutura organizativa, sendo que muitos deles nunca tinham visto sequer um automóvel, que lá se desenrascou como pôde (e pôde mal), nos campos da Flandres, naquela que foi a primeira guerra da era industrial. Encostados entre aquilo que viria a ser a Espanha e o mar, a expansão fez-se primeiro para os campos de cereais do norte de África e, depois, para as rotas marítimas das sedas e especiarias e para o ouro do Brasil.
Derrubado o Império pelos ventos da História, Mário Soares, um político culto e cosmopolita, na sua essência mais um europeu do que um português, abriu ao país as portas da Europa, um pouco contra a vontade, ou pelo menos com a desconfiança, de uma boa parte de um empreendorismo sempre muito pouco empreendedor e órfão do proteccionismo do Estado Novo. Esses "empreendedores", ou, para ser mais correcto, uma sua maioria, os verdadeiros velhos do Restelo do século XX, encontraram então no conforto do Estado "cavaquista" e no aconchego dos "fundos estruturais" um novo modo de vida, algo que os governos seguintes, salvo pequenas, honrosas e insuficientes excepções, não tiveram vontade e coragem de mudar.
São agora os portugueses, perante uma crise global da zona euro que tornou os problemas de alguns Estados mais agudos, postos perante a eventualidade de falharem o "seu" projecto europeu, que não é mais do que a oportunidade de estarem onde nunca estiveram e participarem onde nunca o tinham feito: no centro e na construção da velha Europa. Caso tal venha a acontecer, será sem dúvida um dos maiores fracassos da História de Portugal, condenando o país ao empobrecimento e a uma melancólica existência periférica. Mário Soares, um português felizmente bem maior do que o mesquinho país onde nasceu, não merece esse destino. Infelizmente, acho não se poderá dizer o mesmo da maioria dos seus concidadãos
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