sexta-feira, novembro 04, 2011

O voto do PS

Não me parece a decisão de voto do PS no Orçamento de Estado para 2012 (abstenção em vez do voto contra preferido por sectores importantes do partido) tenha grande significado. Aliás, não é, neste caso, o voto "contra" ou "a favor" que define, em última instância, o modo como o partido está na e faz oposição. Tal definir-se-ia, muito mais, pela sua capacidade, ou incapacidade, de se constituir como alternativa estratégica global à política de "empobrecimento" do executivo de Passos Coelho e de "austeridade seguida de mais austeridade" dominante nas instâncias europeias. Uma vez assumida esta opção estratégica, algo que o PS não quis ou não pôde fazer, a opção parlamentar entre a abstenção ou o voto contra poderia assumir contornos puramente tácticos, podendo, nesse caso, essa abstenção táctica ser defendida apenas como uma necessidade de manter os compromissos assumidos, a contra-gosto e assumidamente contra-natura, com a assinatura do MoU e, em simultâneo, manifestar a sua independência e distanciamento para com a política governamental. Para perceber melhor o que digo e confirmar a autonomia das instâncias - estratégica e táctica - que refiro, basta ver como o PSD optou pela viabilização do OE do corrente ano - abstendo-se - não deixando, contudo e apesar desse seu voto, de se apresentar e ser percepcionado pelos cidadãos como oposição acérrima e alternativa política e de governo a curto-prazo.

Se tal opção (conjugação de uma estratégia de oposição global e inequívoca com o voto táctico abstencionista) seria, penso eu, facilmente entendível pelos portugueses, já conciliar a situação actual de ausência de uma estratégia clara de alternativa à política do governo de Passos Coelho com o voto contra no Orçamento de Estado me pareceria algo bem difícil de explicar, e muito menos de entender pelos eleitores. No fundo, e fazendo recurso à sempre colorida e expressiva linguagem tauromáquica, tal não passaria nem deixaria de ser visto como um "derrote" de manso.

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