Bem ou mal - para o caso pouco ou nada interessa - os portugueses elegeram no início deste Verão um parlamento onde o PSD, liderado por Pedro Passos Coelho, detém a maioria. Para conseguir formar um governo com apoio maioritário, o PSD decidiu coligar-se com o CDS, constituindo-se como governo legítimo da nação. É assim em democracia.
Como governo legítimo do país compete-lhe prestar contas dos seus actos aos cidadãos, tendo estes o direito de lhes exigir todos os esclarecimentos necessários sobre a governação. Tal é feito fundamentalmente no parlamento, perante e a solicitação dos deputados eleitos por sufrágio popular. Quer isto dizer que o governo tem um mandato para negociar com terceiros todos os actos que julgue necessários ao governo do país, devendo ser ele, e apenas ele e não qualquer outra entidade, a explicar aos que o elegeram, sempre que ache tal necessário ou a isso seja solicitado, a actividade em curso referente à governação.
Exactamente por isso, porque assim entendo a democracia, estou de acordo com os que afirmam deveria a "troika" abster-se de falar directamente aos portugueses. Muito menos de "mandar palpites" sobre questões de governação, sejam elas correctas ou incorrectas, tenham elas mais adeptos ou detractores. É com o governo e/ou com as entidades e instituições que este indicar que devem os representantes do FMI, BCE e UE entender-se; é ao governo que devem comunicar as suas ideias, discuti-las, analisá-las e é a este e ao parlamento que compete aprová-las ou rejeitá-las, em nome dos que o elegeram. Se assim tivesse sido não estaríamos agora a assistir a este triste espectáculo de ver o governo legítimo do país, a reboque de tudo e todos, discutindo uma hipotética e idiota desvalorização dos salários, que, pelo menos para já, não passa de uma mera opinião atirada para o ar por um ou vários burocratas da dita "troika" (a opinião do governo parece ser "nim"); se assim acontecesse não estaríamos agora colocados em cheque perante os nossos concidadãos gregos, que connosco partilham a cidadania europeia (ou o que resta dela), por via das afirmações idiotas de um burocrata cretino de nome Jürgen Kröger que, qual capataz valorizando a qualidade dos seus escravos, acha que "Portugal não é a Grécia porque há estabilidade e as pessoas são boas" (quereria dizer "dóceis"?).
Por muito que as opiniões dos representantes do FMI, BCE e UE possam refletir ou encontrar eco correspondente nos desejos e ideias do governo (ou deverei dizer do Ministro das Finanças?), por muito relevantes que possam ser para a governação do país (e são-no), pelo menos por enquanto (e veremos quanto dura este "enquanto") para o bem e para o mal existe um governo legítimo, eleito pelos portugueses, e é este que deve prestar contas aos eleitores pelos actos governativos e será a ele que os cidadãos devem exigir esclarecimentos. Pelo menos enquanto não pudermos também eleger quem substitua "Frau" Merkel, o que já tarda.
4 comentários:
Se calhar o que ele quereria dizer é que há pessoas "boazinhas" e algumas "boazonas".
Este "burocrata cretino" foi atacado de loucura permanente...ou então viu algum spot dos gato fedorento...mas não o entendeu (o spot, entenda-se).
Cumprimentos
A responsabilidade é de quem os deixa dar conferências de imprensa...
Quem os deixa falar? Quando se está falido, quem manda é quem tem o dinheiro! e se ele quiser levar os Jerónimos e pô-lo juntos às portas de Brandemburgo, só nos restas pedir para descontar o valor na dívida ... Dito isto, se o Sr. pede para falar, não resta ao governo senão deixá-lo falar!
Falando sériamente, não concordo com esta onda de indignação democrática. A população tinha duas opções nas últimas eleições: (1) Escolher um caminho de pagar a dívida,o que implica obedecer às regras impostas pelos credores; (2) Fazer default e arcar com as consequências disso. A opção foi tomada democráticamente.
A maioria em Portugal optou por ceder a soberania em troca de financiamento. Na minha opinião, neste caso, escolheu a melhor opção.
Podemos criticar o comportamento dos credores(FMI, Alemanha, BCE, ...)na sua relação com os países periféricos mas que poder negocial tem o governo português para mudar esse comportamento?
O Ulrich que se deixe de tretas e trate de não esbanjar o dinheiro que a troika vai emprestar ao seu banco, para evitar a falência do mesmo, nos mesmo erros que cometeu no passado. Se tivessemos feito as coisas bem, não precisavamos dos funcionário de 15ª categoria!
Não tem razão - e sabe não sou um soberanista. Ceder soberania e adoptar as medidas impostas pelos credores é uma coisa - e sabemos tal iria acontecer - mas falar directamente aos portugueses, dando sugestões que deveriam ser intermediadas pelo governo legítimo do país e ser por ele anunciadas, se e depois de aprovadas, colocando inclusivamente o governo em dificuldades, é outra mtº diferente. E, não esqueça, existe algum espaço, embora pequeno, para negociação, como se provou com a história da TSU.E,mais ainda, as afirmações de Kröger sobre a "bondade" dos portugueses, em comparação com os gregos, nada têm a ver com quaisquer medidas políticas, económicas ou financeiras nem nada têm a ver c/ a resolução da crise: são um desabafo qualitativo e subjectivo, vagamente racista, que denota falta de eduucação e tacto político. Quanto a Fernando Ulrich todos percebemos o que o move, mas, mesmo assim, não deixa, no fundo, de colocar o dedo bem no centro da ferida: o déficit de democracia que se vive na UE.
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