domingo, setembro 12, 2010

O "caso" Queiroz: perguntas e respostas


P: Teria sido possível para Madaíl optar por outro seleccionador quando contratou Carlos Queiroz?

R: Claro que possível teria sido sempre. Mas sejamos honestos: depois da saída de um seleccionador que tinha contra si a força dominante do futebol português (FCP) e que vinha sendo acusado, numa clara preparação para a contratação de CQ, de votar as categorias de formação ao ostracismo, também daquela que era, na altura, a opinião mediática largamente dominante, inclusivamente tendo esta lançado atempadamente e como acção promocional a inverosímil possibilidade de CQ vir a substituir Alex Ferguson, digamos que a margem de manobra de Madaíl ou de qualquer outro presidente ou direcção da FPF era muitíssimo reduzida ou quase nula. Sejamos, pois, honestos e admitamos que, ao tempo e em função do caldo de cultura dominante, a solução encontrada foi a “normal”.

P: Teria sido desejável um contrato apenas por dois anos (renovável), até final do Mundial 2010?

R: Uma vez mais: desejável, claro que sim. Mas possível? Sendo o maior activo de CQ os resultados obtidos com as categorias de formação (de que modo e usando que processos não vem aqui ao caso) e constituindo a principal acusação dos detractores de Scolari (e defensores da opção CQ) o facto de LFS só se ter preocupado com a selecção principal, um contrato de dois anos, de curto-prazo, seria dificilmente defensável para um “projecto” deste tipo. Acresce que CQ se encontrava ao serviço no Man. United e sempre foi vendida a ideia de que apenas um projecto de longo-prazo, “à medida do seu perfil”, seria susceptível de o atrair.

P: Teria sido melhor despedir CQ no final do “play-off”?

R: Não me parece. Depois de um mau início, a selecção foi conseguindo os resultados necessários à qualificação. Poder-se-ia argumentar facilmente que era incorrecto e desestabilizador o seu despedimento após ter conseguido o apuramento, mesmo que sem brilho, e o percurso da selecção ter vindo, pelo menos em termos de resultados, a ser percorrido de forma ascensional. Acresce que a equipa resolveu o “play-off” de forma clara, com duas vitórias.

P: A cena de “pugilato” com Jorge Baptista teria sido uma boa oportunidade para despedimento com “justa causa”?

R: Não sendo jurista, duvido, no entanto, que tal pudesse ser aceite em termos legais. Acresce que bem pior se tinha passado com LFS, no final do Portugal-Sérvia, e a FPF tinha resolvido o assunto com recurso a uma simples multa. De qualquer modo, acho que uma sanção pecuniária por parte da FPF, se tal fosse legalmente defensável, e um aviso público poderiam ter tido um efeito pedagógico e contribuído para evitar males futuros. Na altura, estranhei o silêncio da FPF.

P: CQ deveria ter sido objecto de um processo disciplinar e possível consequente suspensão por parte de FPF e ADoP logo na sequência da “cena” da Covilhã?

R: Na fase de preparação para o Mundial e a duas semanas do seu início? Alguém ousaria sem que Portugal inteiro, com diáspora e tudo, lhe caísse em cima??? Heróis já haverá poucos e parece que estúpidos ainda menos!... Pretender tal coisa é simplesmente ridículo e tal afirmação apenas poderá ter origem em alguém mal intencionado.

P: A FPF deveria ter rescindido o contrato com CQ logo após o Mundial?

R: Ora bem... Em termos de resultados, e disse-o neste “blog”, o seleccionador não pode ser criticado: qualificou a equipa para os 1/8 de final e perdeu pela diferença mínima com o futuro campeão do mundo. As exibições deixaram a desejar? É uma questão secundária face aos resultados e não me parece algum treinador possa ser avaliado, com justeza, em função de tal coisa, demasiado subjectiva. Mas atenção!: também o disse, algo muito diferente terá sido o que se passou nos bastidores, no relacionamento com jogadores, restante equipa técnica, médica, dirigentes, etc, etc, e isso também deveria ter sido tido em conta na avaliação. Mas aí terão (acho) começado as divergências no seio da direcção federativa e uma rescisão por esses motivos (relacionamento dentro do grupo), até porque dificilmente os jogadores, mesmo de “candeias às avessas” com CQ, se disponibilizariam para depor em qualquer processo, dificilmente poderia ser pretexto para alegar “justa causa”, o que terá fortalecido a posição dos que defendiam a continuidade do seleccionador. C’os diabos, três milhões são... três milhões! Restava, pois, rebobinar o filme e procurar por onde pegar, lançar cascas de banana, fazer a vida de CQ num inferno e esperar ele “escorregasse”. E escorregou!, principalmente com a história do “polvo”. É sacanice? Será, mas o mundo das relações de trabalho está cheio destas coisas e ninguém é menino do coro...


P: E Laurentino Dias? Deveria ter-se mantido à parte, não interferindo no "livre associativismo"?


R: Dever... devia. E até teria sido bem melhor se pudesse não o ter feito. Seria a situação ideal. Mas sobre a intervenção do Estado e dos governos no tal “livre associativismo”, para não perdermos mais tempo sugiro leiam o que escrevi aqui e aqui. É a vida e essa será cada vez mais uma realidade. E não podemos fingir que o mundo não existe ou é igual ao que era há 50 anos. Ponto final, pois.

2 comentários:

Anónimo disse...

Parabéns pela grande análise “P & R” que bem se podia intitular “Tudo aquilo que sempre quis saber sobre CQ mas nunca ousou perguntar” (não, não se trata de sexo ou Woody Allen ).

Acrescentaria que, salvo erro, o jornalista do aeroporto é também delegado da UEFA, na altura dirigindo-se em missão de trabalho para um evento desportivo, logo, mais uma razão para a estranheza de o caso ter “morrido” ali ( as despesas do funeral pagar-se-iam mais muito mais tarde e muito mais caro ).

Houve justiça para Scolari que, falhando o alvo, ofereceria uma oportuna e reconfortante lufada de ar fresco ao extenuado jogador sérvio.

Maradona também se viu a braços com uma sanção da FIFA por ter proferidos debochados impropérios sobre os críticos ( enquanto Maradona se reteve por uma representada oralidade, CQ optou por um tom mais “hardcore” aos agentes da ADOP).

Já quanto a CQ, morto o caso do aeroporto, fazendo do polvo uma nuvem e dos impropérios “hard core” proferido aos agentes da ADOP um mero desabafo para protecção dos atletas, ressalta um Calimero.

“It’s an injustice, yes it is!”

JR

JC disse...

Reparei agora, ao ler o seu comentário, tinha desaparecido a última pergunta, embora estivesse lá a respectiva resposta. Mistérios da informática ou distração minha... Está reposta.
Cumprimentos