Confluem na contestação à actuação da ASAE – que, claro, como qualquer outra instituição ou entidade não está acima dela, mas cuja crítica se tornou numa moda com alguns laivos de pedantismo – vários grupos e ideologias, mas que podemos sintetizar nas seguintes áreas tipificadas.
À extrema direita, o saudosismo por um Portugal provinciano, de pequenos produtores e comerciantes, de uma ruralidade “salazarenta” que confunde tradição e preservação dos seus valores culturais essenciais com conservadorismo e imobilismo, esquecendo que esses mesmos valores só poderão ser mantidos vivos se e quando se poderem adaptar, sem perderem essa sua essência, ao correr dos tempos e da modernidade. São os saudosos do “pitrolino”, do leite vendido “porta a porta” em bilhas e manuseado e misturado como calha, das casas dos bairros sociais, em Lisboa, com o galinheiro ao fundo do quintal.
Um pouco por todo o lado estão os que fazem do eurocepticismo e do eurocriticismo o seu campo, e onde tudo o que, de modo directo ou longínquo, pode remeter para uma directiva ou sugestão de Bruxelas logo é classificado como filho (ou filha) dilecta e directa de Satanás, ai Jesus que nos despersonalizam. É a área que mais se confunde com um certo “pedantismo” individualista, que durante muitos anos achava que vivia na “piolheira” mas não dispensava uma ida a Paris para o cinema e que hoje contesta a “Europa” como fonte de abastardamento do seu very typical way of living. Um pouco de género: o que é bom é podermos comer uma “sande” de couratos, de preferência com a “barba” mal feita, um caldo verde com azeite adulterado ou de má qualidade numa tasquinha do “bairro” e um caneco de vinho da “pipa” já oxidado, e assim sucessivamente, pois é isso que nos confere individualidade, e depois embasbacarmos perante um Dom Perignon ou um Romanée Conti, feitos com recurso à mais moderna tecnologia do sector, ao mesmo tempo que elogiamos a ginginha vendida em Alfama na noite de Stº António, a pior que já alguma vez bebi. Se querem um exemplo típico deste grupo, ele aqui vai: Mª Filomena Mónica.
Depois, os ultra-liberais, claro, para quem a mínima regulamentação sobre o que quer que seja é vista, de imediato, como um atentado aos direitos e liberdades individuais, desde a obrigatoriedade do uso de cinto de segurança à existência de qualquer legislação sobre o trabalho ou sobre a venda de bolas de berlim com creme nas praias, em caixas sem climatização, à torreira de um sol de 40º. Provavelmente, não se importam de comer couratos com a barba feita pela lâmina que sobrou da higiene diária do dono, ou dona, da roulotte, mas eu importo-me que eles o façam. Acha mal, Helena Matos?
Ah!, e falta alguma esquerda que tem horror a tudo o que é grande indústria e comércio organizados, desde que o estado não seja o dono, sonhando com um país de pequenos e médios empresários tidos como explorados pelo “grande capital” e, de outro modo, pela ASAE, que impede a sua existência, o que uma análise com algum rigor por certo desmentiria e que, verdadeiramente, são aqueles que piores remunerações e condições de trabalho proporcionam aos seus trabalhadores. Claro que saberíamos o que aconteceria a esses pequenos e médios empresários. Ou não?
Nota final: para que não restem dúvidas, gosto da gastronomia tradicional, de vinho, não sou frequentador do McDonald's, bebo ginginha, detesto comida de plástico, não me quero ver obrigado a comer queijo da serra feito com leite pasteurizado (compro frequentemente Camembert e Brie no El Corte Inglés, originais, feitos com leite crú) e sempre comi “bolas de berlim” no Guicho e na Praia Grande. Ah, não fumo, excepto um charuto de vez em quando. Deve ser esse, talvez - o facto de não fumar -, o pecado.
Eu sou o Gato Maltês, um toque de Espanha e algo de francês. Nascido em Portugal e adoptado inglês.
quinta-feira, dezembro 20, 2007
Em defesa da ASAE
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2 comentários:
Nem mais! Pena o seu parágrafo final - onde parece estar já a defender-se de possíveis ataques pelas coisas que escreveu antes. De resto, foi na mouche!
Olhe, caro Ricardo, ainda por cima foi esse parágrafo que foi transcrito no "Público" de hoje. Mas não é uma defesa: é apenas para vincar bem que, defendendo a actividade da ASAE, não sou nenhum asceta. Assim, evito receber determinado tipo de ataques (dos quais já prevejo o estilo e conteúdo), que ficam vazios de sentido!
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