domingo, dezembro 23, 2007

A ASAE e a política

De uma vez por todas, sejamos claros. A actual campanha de contestação às actividades da ASAE tem uma forte conotação política. E não apenas num sentido mais geral, isto é, nas opções que propõe para o Estado e para o seu papel na política de prevenção e saúde pública; não apenas nos modelos de vida e organização social, diversos e diferentes, que essa contestação, conjunturalmente sob um denominador comum, subentende e propõe, mas política no sentido mais restrito de oposição e luta contra o actual governo, alicerçada numa base que, à esquerda e á direita, toma por mote aquilo que tem sido designado por uma certa tendência para o autoritarismo e arrogância, alguma vocação “controleira” e “totalitária”, do primeiro ministro e do seu governo, muito alicerçadas numa personalidade que, como ele próprio afirmou, por um pouco provinciana tende para encarar com alguma desconfiança um ambiente político tradicionalmente mais cosmopolita e “aristocrático”. No fundo, nada disto é muito novo e repete o acontecido com personalidades como Salazar e Cavaco Silva, salvaguardadas todas as distâncias políticas, ideológicas, de regime político e até de outras facetas das personalidades respectivas.

Sejamos uma vez mais claros. Não é por acaso – e sabemos que em política mesmo o que acontece por acaso deixa logo de o ser – que essa contestação aos modelos e métodos da ASAE tem partido essencialmente dos sectores políticos em que a oposição ao governo se tem mostrado mais activa e consequente, desde a direita nacionalista (com uma capacidade limitada), aos ultraliberais, passando por comunistas e “bloquistas” e acabando nos eurocépticos ou, mais propriamente, eurocríticos (ver meu post anterior), estes com expressão mediática relevante. Também não é por acaso que a actuação da ASAE, aparentemente e à partida destinada a uma relevância menor - quase de nota de rodapé de jornal - na actualidade portuguesa e até a obter um consenso favorável na opinião pública, ganhou um estatuto e uma dimensão aparentemente inesperadas: trata-se (ao contrário do que acontece com o novo aeroporto, o TGV ou o déficit orçamental, por exemplo) de um tema aparentemente pouco “técnico” e popular (devo dizer, susceptível de exploração e manipulação populistas?) com reflexo na vida do dia a dia do comum dos cidadãos (todos já usámos uma colher de pau e muitos comemos bolas de berlim nas praias das nossas infâncias ), e a sua contestação permite, conjunturalmente, unir eficazmente as diversas oposições ao governo em torno de um tema que desde cedo se tornou leit motiv dessa mesma contestação: a tal arrogância e autoritarismo que a oposição tenta colar ao governo e da qual este, fundamentalmente por erros próprios, tem tido muita dificuldade em descolar.

Tentemos ainda ser mais claros, por fim: será também por acaso que todos esses sectores partilham, em doses maiores ou menores, de um certo grau de eurocriticismo? Estará esse mesmo eurocriticismo a tornar-se a questão política chave da sociedade portuguesa, tal como em Espanha o é a questão das nacionalidades?

Ficam as perguntas... com algumas respostas já implícitas.

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