Quase todas as manhãs de Domingo (confesso que, ás vezes, já um pouco mais "tardes") vou ao Centro Comercial das Amoreiras, o sítio mais perto aqui do bairro, desde que a Repsol decidiu fechar as suas lojas de conveniência, onde é possível satisfazer integralmente duas das necessidades mais básicas dessas manhãs quase tardes: beber um razoável café e comprar os jornais. Por vezes, acontece mesmo que também por lá vai o filme a ver e, nesse caso, o ramalhete fica completo, com direito a prémio e tudo.
Nessas minhas já habituais surtidas, deparo frequentemente, em pleno corredor e utilizando um balcão para o efeito, com uma acção de prova e promoção de vinhos portugueses, levada a efeito pela ViniPortugal, associação inter-profissional do sector. Primeira surpresa: se a esmagadora maioria dos visitantes das Amoreiras são portugueses e a esmagadora maioria destes (99%?) já consome em quase exclusividade vinhos aqui do “rectângulo”, a acção não será algo de parecido a vender gelo no polo norte, isto é, qualquer coisa que talvez venha a ser necessário dentro e um ou dois milénios mas que se revela actualmente um disparate? Bom, mas manda a boa vontade pensar que se poderia dar o caso de se tratar apenas de um tentativa de upgrade, isto é, de levar os consumidores portugueses de vinhos também eles portugueses a comprarem e consumirem vinhos de maior qualidade, algo que descobri não ser verdade numa primeira abordagem mais atenta: a grande maioria dos vinhos em prova não pensaria sequer em comprá-los cá para casa, para consumo no dia a dia, quer por se tratarem de vinhos sofríveis quer por uma relação preço/qualidade medíocre. Para cada um dos que por lá vejo, facilmente faria uma lista de pelo menos meia dúzia com uma melhor relação qualidade/preço e, principalmente para os brancos, a preços a rondar os cinco euros por garrafa ou até menos.
Pois aqui começa já o desperdício e a ausência de uma réstia que seja de profissionalismo, mas o pior ainda está, neste momento, para vir. Provar um vinho, por modesto que ele possa ser, exige um momento próprio, vontade, alguma calma e concentração necessárias para nos apercebermos das suas características, para que com ele possamos criar ou não empatia, para que ele se nos revele. É algo para um momento reservado ou para fazermos com alguém ou um grupo que nos acompanhe. Nada, portanto, para ser feito como quem bebe uma cerveja, na balbúrdia de um corredor de centro comercial num princípio de tarde de domingo, entre barulho, correrias e até encontrões ocasionais, o que, em conjunto com o que veremos de seguida, só contribui para desvalorizar o vinho enquanto bebida que se quer promover (?). Mais ainda, exige copos adequados e, surpresa das surpresas, não vulgares copos de plástico (sim, de plástico!!!) que foi o que me foi dado observar das várias vezes que me aproximei e perguntei. E, imaginem lá os detractores da ASAE antes de virem a terreiro bradar “às armas”, não por uma qualquer decisão legal aplicada por esta, actualmente tão vilipendiada, instituição, mas pela administração da Mundicenter, gestora do espaço do centro. Fora eu dono das marcas e seria condição suficiente para desistir de qualquer acção de prova ou semelhante.
É talvez por esta conjugação de factores que por lá – nessas provas(?) - proliferam vinhos ignotos, e quem cuida das suas marcas se põe, e as põe, a bom recato. Mas o que é de facto espantoso é que a acção seja da responsabilidade (ViniPortugal) de quem deveria fazer exactamente o contrário: promover e valorizar os vinhos portugueses e não desperdiçar recursos na sua desvalorização. Pois é, mas este nosso incipiente mercado acaba por perdoar tudo, pelo menos por enquanto. Mas a continuar deste modo, pode ser que, assim, daqui a poucos anos e por “obra e graça” da ViniPortugal, seja mesmo necessário, talvez ainda não vender gelo no polo norte, mas promover, de facto, os vinhos portugueses aos meus concidadãos. Talvez já seja é tarde!
Nessas minhas já habituais surtidas, deparo frequentemente, em pleno corredor e utilizando um balcão para o efeito, com uma acção de prova e promoção de vinhos portugueses, levada a efeito pela ViniPortugal, associação inter-profissional do sector. Primeira surpresa: se a esmagadora maioria dos visitantes das Amoreiras são portugueses e a esmagadora maioria destes (99%?) já consome em quase exclusividade vinhos aqui do “rectângulo”, a acção não será algo de parecido a vender gelo no polo norte, isto é, qualquer coisa que talvez venha a ser necessário dentro e um ou dois milénios mas que se revela actualmente um disparate? Bom, mas manda a boa vontade pensar que se poderia dar o caso de se tratar apenas de um tentativa de upgrade, isto é, de levar os consumidores portugueses de vinhos também eles portugueses a comprarem e consumirem vinhos de maior qualidade, algo que descobri não ser verdade numa primeira abordagem mais atenta: a grande maioria dos vinhos em prova não pensaria sequer em comprá-los cá para casa, para consumo no dia a dia, quer por se tratarem de vinhos sofríveis quer por uma relação preço/qualidade medíocre. Para cada um dos que por lá vejo, facilmente faria uma lista de pelo menos meia dúzia com uma melhor relação qualidade/preço e, principalmente para os brancos, a preços a rondar os cinco euros por garrafa ou até menos.
Pois aqui começa já o desperdício e a ausência de uma réstia que seja de profissionalismo, mas o pior ainda está, neste momento, para vir. Provar um vinho, por modesto que ele possa ser, exige um momento próprio, vontade, alguma calma e concentração necessárias para nos apercebermos das suas características, para que com ele possamos criar ou não empatia, para que ele se nos revele. É algo para um momento reservado ou para fazermos com alguém ou um grupo que nos acompanhe. Nada, portanto, para ser feito como quem bebe uma cerveja, na balbúrdia de um corredor de centro comercial num princípio de tarde de domingo, entre barulho, correrias e até encontrões ocasionais, o que, em conjunto com o que veremos de seguida, só contribui para desvalorizar o vinho enquanto bebida que se quer promover (?). Mais ainda, exige copos adequados e, surpresa das surpresas, não vulgares copos de plástico (sim, de plástico!!!) que foi o que me foi dado observar das várias vezes que me aproximei e perguntei. E, imaginem lá os detractores da ASAE antes de virem a terreiro bradar “às armas”, não por uma qualquer decisão legal aplicada por esta, actualmente tão vilipendiada, instituição, mas pela administração da Mundicenter, gestora do espaço do centro. Fora eu dono das marcas e seria condição suficiente para desistir de qualquer acção de prova ou semelhante.
É talvez por esta conjugação de factores que por lá – nessas provas(?) - proliferam vinhos ignotos, e quem cuida das suas marcas se põe, e as põe, a bom recato. Mas o que é de facto espantoso é que a acção seja da responsabilidade (ViniPortugal) de quem deveria fazer exactamente o contrário: promover e valorizar os vinhos portugueses e não desperdiçar recursos na sua desvalorização. Pois é, mas este nosso incipiente mercado acaba por perdoar tudo, pelo menos por enquanto. Mas a continuar deste modo, pode ser que, assim, daqui a poucos anos e por “obra e graça” da ViniPortugal, seja mesmo necessário, talvez ainda não vender gelo no polo norte, mas promover, de facto, os vinhos portugueses aos meus concidadãos. Talvez já seja é tarde!
3 comentários:
Concordo na essência, mas discordo num pequeno pormenor e que é aquele que se refere à evocação da cerveja.
Na verdade, sendo um habitual consumidor de cerveja - não o sou do vinho - nunca o faria "na balbúrdia de um corredor de centro comercial num princípio de tarde de domingo, entre barulho, correrias e até encontrões ocasionais". Para mim, uma "boa cerveja" deve ser consumida com os mesmos cuidados que um bom vinho, e portanto, faço do momento da degustação um momento especial, pelo que beber uma imperial encostado a um qualquer balcão, está definitivamente fora de questão.
Friso: "uma boa cerveja", para que não restem dúvidas que não me refiro a uma qualquer Super Bock ou Sagres, que tenho na mesma consideração de um carrascão feito a martelo.
Um abraço
Sendo assim, de acordo! Referia-me a uma vulgar imperial.
JC
Muito boa tarde.
Sou Area Manager da ViniPortugal e estou a entrar em contacto consigo para lhe explicar algumas das razoes dos aspectos que apontou no seu post.
1º - Promoção dos Vinhos de Portugal em território nacional:
Não é o primeiro a criticar esse aspecto, mas muitos que antes o faziam deixaram de o fazer, porque se têm vindo a aperceber do potencial do mercado nacional.
Alem disso, nessas provas o objectivo principal é promover o Vinho de Qualidade, face a outros produtos substitutos (refrigerantes, cerveja, etc.) e não promover os Vinhos de Portugal, face aos seus concorrentes internacionais (França, Itália, Espanha, "Novo Mundo", etc.).
Antes das pessoas optarem por um vinho, é necessário que se habituem a prová-los e a conhecê-los e é esse o objectivo deste tipo de promoção. Até porque os portugueses bebem muito menos vinho do que bebiam há 50 anos atrás e pretendemos inverter essa tendência.
2º - Esmagadora maioria do publico português:
Temos relatórios mensais das Provas nas Amoreiras que nos revelam que uma elevada percentagem do público das nossas provas nas Amoreiras é estrangeiro (provavelmente provenientes dos hotéis circundantes da área).
3º - Copos de plástico:
De facto, seria desejável termos copos de vidro com o design adequado, mas razões logísticas e de autorização da gestão do espaço levaram-nos a tomar essa opção. Além disso, os custos financeiros da utilização dos copos de vidro levar-nos-iam a despesas muito elevadas, por isso preferimos ser produtivos com aquilo que temos, em vez de entrarmos em "megalomanias financeiras".
4º - Momento de consumo:
Refere que não é o momento/sítio ideal para se provarem vinhos, opinião com a qual concordo inteiramente! No entanto, as diversas acções levadas a cabo, noutros momentos/locais mais nobres e calmos, acabam por não chegar a toda a gente. Sendo necessário esse tipo de acções, considero também muito útil este (as Provas em Centros Comerciais) género de promoção, pois permite-nos ser mais activos na abordagem a possíveis enófilos portugueses, em vez de ficar na expectativa que as pessoas venham ao nosso encontro.
Alem disso, tentamos sempre fazer o reencaminhamento do público (principalmente os mais interessados) para as nossas Salas Ogivais (espaços mais "nobres e calmos" e que, desde já, o convido a visitar), localizadas no Terreiro do Paço (em Lisboa) e no Palácio da Bolsa (no Porto).
5º - Qualidade dos Vinhos em prova:
Nestas acções em Centros Comerciais, todos os Vinhos são VQPRD ou “Vinho Regional”, ou seja, todos eles são analisados e certificados pelas entidades reguladoras. Essa certificação da qualidade dos vinhos não cabe à ViniPortugal, mas, de qualquer modo, obviamente que provamos todos os vinhos antes de os servir, porque pode dar-se o caso de alguma garrafa não estar “em condições”.
Relativamente ao escalão de preços dos vinhos, é natural que as empresas produtoras nos enviem vinhos de maior consumo (ou seja, com preços mais acessíveis), até porque são esses que têm maior “rotação” nos supermercados/hipermercados. No entanto, acompanho estas acções de perto e é habitual termos também alguns vinhos de categoria Premium.
Ainda assim, como sabe, no vinho como noutros produtos, um preço elevado não é sinónimo de muita qualidade.
6º - Eficácia desta acção:
Estas provas nas Amoreiras já decorrem há 7 anos e temos cada vez mais empresas a enviarem vinhos para esta acção.
Julgo ser um sinal de que a campanha está a resultar para eles (daí esses investimentos crescentes) e esse é a melhor avaliação que poderíamos ter.
Como nota final, queria dizer-lhe que lhe escrevi apenas para lhe explicar alguns dos pontos deste tipo de promoção dos Vinhos de Portugal e não ser agressivo na resposta (espero não ter dado essa ideia), mas sim factual.
Na ViniPortugal somos uma equipa jovem, pouco numerosa e muito flexível e acredite que nos desdobramos como podemos, para promover os Vinhos de Portugal, com recursos financeiros muito inferiores aos nossos concorrentes internacionais (inferiores até a certas regiões de Espanha e França).
É uma pena que um dos poucos sectores onde Portugal é considerado frequentemente um dos melhores do Mundo tenha tão poucos apoios, mas, mesmo enquanto assim for, continuaremos a trabalhar com o mesmo entusiasmo.
Não sei se, depois deste e-mail de esclarecimento, mantém a sua opinião sobre as Provas da ViniPortugal em Centros Comerciais, mas, caso essa tenha mudado (por ter tido acesso a novos dados) pedia-lhe que reconsiderasse o seu post.
Como já referi, fazemos muito mais do que estas Provas em Centros Comerciais e, para que fique a saber mais sobre a ViniPortugal, deixo-lhe um segundo convite (para alem do primeiro, de visitar as nossas Salas Ogivais, de acesso gratuito): o de visitar o nosso website em www.viniportugal.pt
Cumprimentos,
Miguel Nora
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