Faz este ano precisamente 50 anos, era eu uma criança, uma onda de indignação varreu o regime. Organizaram-se manifestações, Legião Portuguesa à frente como mandava o ar do tempo, colaram-se cartazes no Rossio, os jornais mais afectos à ditadura, que eram todos excepto a "República" e o "Diário de Lisboa", ambos bem "visados" pela "Comissão de Censura", publicaram textos inflamados e a TV única não deve ter escapado à onda, algo de que não me lembro pois estaria mais interessado no "Bonanza" e no "Robin dos Bosques" de sábado à tarde. Razão? "A mais veemente repulsa pelo cobarde ataque efectuado pelas forças da União Indiana aos territórios portugueses de Goa, Damão e Diu" (a frase, essa, decorei-a para sempre!).
Mas de que vem isto a propósito? Bom, quando vejo e oiço a "onda de indignação" que desde ontem percorre o país, "da mais veemente repulsa pelo cobarde ataque das agências de "rating", talvez a soldo das Pequim e Moscovo do século XXI, acrescento eu, não consigo deixar de recordar o episódio de há 50 anos. Então, como agora, assistiam ao país algumas razões, mesmo reconhecidas pelos que discordavam da presença colonial portuguesa e lhe queriam pôr fim. Então, como agora, a teimosia e vistas curtas de governantes, no caso presente também europeus, conduziram ao desenlace mais dramática. Então, como agora, o poder resolve enfrentar o problema barafustando e e indignando-se, sabendo que está apenas a lançar uma cortina de fumo propagandística que nada altera de relevante. No caso do chamado Estado Português da Índia foi preciso deixar passar 13 longos anos, milhares de prisioneiros de guerra, ver um exército e um oficial-general humilhados e, por fim, saudar uma revolução para que tudo se normalizasse, Hoje, em democracia, espero bem que sobre a propaganda prevaleça o bom senso, a inteligência e o debate sério de ideias que conduzam a uma solução rápida da crise que permita a emergência de uma Europa federal. Mais competitiva e também mais justa.
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