Ana Gomes tem razão. O programa “Prós e Contras” de ontem, sobre a guerra colonial, foi um péssimo serviço prestado pela RTP ao país. Ana Gomes aponta alguns erros, incluído a não participação activa das mulheres, independentemente de as ter havido, guerrilheiras de um lado e enfermeiras pára-quedistas do outro. O problema é mais vasto e radica, para além das más escolhas que Ana Gomes também menciona e do subsequente ridículo de muitas intervenções (mas as más escolhas são recorrentes no programa da “Drª Fátima”), na opção pela participação quase exclusiva de militares, combatentes, com a excepção (que me lembre) de Jaime Nogueira Pinto, pessoa estimável mas na altura elemento da ala mais radical do regime e confesso salazarista, e de antigos colonos “retornados” (caso para dizer: “mas que escolhas!...”), pese embora o esforço de um militar mais lúcido como Carlos Matos Gomes para dar um toque mais abrangente ao debate. Sejamos claros, a guerra (qualquer uma) é uma questão política, tanto como o é a paz, e restringir o programa aos militares, combatentes, alienando a participação dos políticos e, tratando-se de uma guerra iniciada há 45 anos e terminada há 33, dos historiadores, só poderia ter resultado naquele que se viu: uma análise parcial, pessoalista, distorcida, demasiadas vezes sem nexo e, por vezes, nas margens da reivindicação ou da psicoterapia e do “shrink” reservados às relações mal resolvidas. Portugal combateu uma guerra nas suas colónias porque a manutenção do império era indispensável à manutenção do regime. Eram indissociáveis. Sem império a única alternativa era a Europa, como o foi, e essa opção seria incompatível com a manutenção da ditadura. Por isso caíram os dois, a ditadura e o império, no mesmo dia. Ainda bem!
1 comentário:
Não partilho nada da tua opinião, em tudo. Em primeiro lugar considero que foi dos melhores prós e contras a que tenho assistido. Já há muito que se pediam programas de debate sobre o Estado Novo. E a Guerra é um óptimo primeiro passo para outros temas que, apesar de não tão relevantes para a vida de tanta gente como a Guerra o é, merecem ser discutidos. Aliás ficou provado que o Prof. António de Oliveira Salazar (eleito o maior Português de sempre) ainda causa arrepios a muita gente.Temas como a Censura (na 1ª e 2ª república e no estrangeiro na data); Eleições Presidenciais entre Américo Tomás e Humberto Delgado e seu posterior assassinato; a vida nas "colónias", em Portugal Continental, etc...
Voltando ao programa, na minha opinião, levantaram-se questões importantíssimas, uma delas tão grave que não pode voltar a ser esquecida, o caso dos moçambicanos,angolanos,guineenses..que pertenciam às forças armadas Portuguesas terem sido esquecidos pela nossa democracia. Agora, não me interessa se comentaram mulheres, não me interessa se o Prof. Nogueira Pinto é "salazarista" ou nao, interessa-me sim que é um especialista e que tem vários livros editados sobre as colónias.
"...uma análise parcial, pessoalista, distorcida..." quem querias a comentar? Ali estavam combatentes dos 2 lados.. Quem mais sofreu com a Guerra!.. porque é que está mal? Para a análise não ser parcial teríamos que arranjar um estrangeiro, para não ser pessoalista nunca a pode ter vivido nem ter sido prejudicado por ela, mas para não ser distorcida tem que conhecer tudo a pormenor... "Procura-se alguem que perceba de X mas que não tenha interesse em X, ligue 91******" só assim!
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