Se nada se alterar nos próximos dias, e no futebol isso não constituiria qualquer surpresa pois “o que é verdade hoje é mentira amanhã” (ou inversamente, já que vice-versa aprendi com um ex-professor de análise matemática que apenas se usava nos horários de caminho de ferro), o ciclo da família Loureiro à frente do Boavista Futebol Clube irá chegar ao seu fim. Não se trata de mais um caso paradigmático, do pós 25 de Abril, de personalidades de passado duvidoso (neste caso poucas dúvidas existem) que se serviram do futebol para lavar a sua imagem num contexto de confusão ou vazio político, social e económico, por essa via acedendo ao mundo da política e dos negócios (a sagrada trilogia). Este é um caso exemplar e ímpar de um projecto de poder pessoal e familiar - alicerçado no poder económico e político que o Porto-cidade adquiriu num contexto de crise nacional - porque não aconteceu num obscuro clube de província; porque o Boavista F. C. chegou a campeão nacional, a uma meia-final da taça UEFA e a uma segunda fase da "Champions League"; porque Valentim Loureiro foi presidente e homem forte da Liga e porque ocupou cargos de responsabilidade nacional num dos partidos do chamado “arco governamental”. Também porque chegou a presidente de câmara de uma das mais importantes autarquias do país.
Contrariamente ao que aconteceu com o seu vizinho FCP, que cresceu e se afirmou num contexto semelhante, o B.F.C. não foi bandeira de um projecto político e de poder – hoje em dia em recessão - de uma região, exercido através de “testas de ferro” como Fernando Gomes, Luís Filipe Menezes, Nuno Cardoso, Adrianos Pinto e Pôncios Monteiros. Não tinha, na sua base, uma ideologia de suporte mas apenas uma voz tonitruante. Foi apenas e só um projecto de poder pessoal e familiar que, por mais fraco, teve de se afirmar através da ocupação directa de cargos por parte do seu principal intérprete. Por isso mesmo, pela sua natureza familiar, teve também direito a herdeiro-filho varão. Foi uma bolha que cresceu e rebentou à medida das necessidades desse projecto de poder pessoal e familiar, para o qual a entrada no “clube” dos estádios do Euro 2004 era condição essencial de afirmação, o que terá levado à ruína o clube que lhe serviu de veículo e suporte. Teve a condescendência, senão mesmo a conivência e o apoio generalizado, dos “media”, que o apresentavam com um exemplar caso de gestão. Exemplar, sim, mas por outras razões bem diversas das que usaram para nos tentar convencer.
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