Sendo Portugal, comprovadamente, um dos países da Europa e do Mundo mais seguros – falando de criminalidade e potencial actividade terrorista” - não vou ao extremo de dizer que o tema “segurança” é um "não-tema”, mas ocupa seguramente mais espaço e tempo (também recursos?) do que seria desejável em função dessa mesma importância real na vida e resolução dos principais problemas do país. Por exemplo, a questão da hipotética célula, ou existência de actividades da ETA em Portugal atingiu as raias do ridículo. E essa sobre-importância só acontece por um conjunto de razões, algumas das quais são mais ou menos óbvias:
- É um assunto que “lida” com aquilo que é considerado ”de mais sagrado” na vida das pessoas, seja, o património e a vida, em relação aos quais tudo tem tendência para ser exacerbado, criando mitos, ansiedades e fantasmas onde, se a racionalidade “mandasse”, isso não se justificaria. Acresce que o atraso da sociedade portuguesa, a pouca educação da maioria dos seus habitantes e a sua ainda demasiada ligação a um meio rural – a sociedade cosmopolita e urbana é ainda algo que funciona um pouco como uma “agressão” - favorecem a criação desse mesmo clima, facilitam a emergência desse sentimento tal como acontece com o temor reverencial face à morte e à doença, esta, muitas vezes, referida através de eufemismos (não se tem uma neoplasia ou um cancro, mas “uma doença má” e morre-se de “doença prolongada”.
- Por outro lado, tudo isso torna a questão da “segurança” facilmente “mediatizável” e, pior, “tabloidizável”, algo “simples” em que o povo se vê reflectido e que “faz ouvir a sua voz”. Uma parte significativa da criminalidade mais violenta tem ainda que ver com dramas passionais, traições, amores e desamores resolvidos em vinganças ou, então, questões relacionadas com o tráfico ou roubo por via de questões de droga, um inimigo recente que está na “porta do lado” e com o qual ainda não se aprendeu suficientemente a conviver ou eficazmente a combater, o que aumenta o medo, o tal temor reverencial.
- Last but not least, demasiada gente e corporações poderosas, de algum modo, vivem ou estão dependentes, directa ou indirectamente, da “segurança”, desde o aparelho judicial às polícias, da advocacia aos “media”, o que funciona como um elemento catalizador do tema.
Junte-se a tudo isto, mesmo sem ser preciso agitar demasiado, os ultra-securitários de “última hora”, isto é, os do pós 11 de Setembro (não estou a minimizar a questão, mas, neste caso, estamos a falar de uma faceta da "segurança" ininteligível para 99% da população portuguesa), mais a gritaria habitual de PCP e “Bloco” contra a ridícula extrema-direita do PNR e aí está o resultado esperado: “much ado about (almost) nothing”.
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