terça-feira, abril 21, 2009

Primeiro-Ministro - pequena nota sobre a sua entrevista à RTP

O mais importante da entrevista de José Sócrates? Definiu com clareza o âmbito onde quer colocar as relações entre o Presidente da República e o Governo, retomando, deste modo, a iniciativa política neste campo. Nunca se referiu a “cooperação estratégica” mas sim a “cooperação institucional”. Inteligentemente e sem qualquer vestígio de afrontamento, marcou a diferença e separou as águas, marcando o seu território e a autonomia do projecto do governo que dirige. Aproveitou também para vincar a sua convicção de que Cavaco Silva saberá resistir a tornar-se porta-voz da oposição, colocando o Presidente da República numa posição em que terá que procurar, com cuidado, o tom certo em futuras declarações e tomadas de posição públicas. Já no 25 de Abril.

Se não alterou as minhas convicções de fundo em relação a alguns dos projectos que não merecem a minha total concordância (novo aeroporto enquanto mega-estrutura aeroportuária - “hub” - e TGV Lisboa-Porto-Vigo), também não era isso que se esperava. Terá sido suficiente para ganhar alguns votos?

6 comentários:

gin-tonic disse...

Tu dirás: não há alternativa... Não tenho grande dificuldade em concordar.
+Mas o homem aflige. Quero colocar de lado todas as trapalhadas em que se meteu, ou o meteram, mas não consigo. É muita coisa por m2 para um apenas um homem. A sua arrogância causa-me azia. Ficava-lhe bem, como toda a gente normal, dizer que também se engana.
Como tinha poucas comprou, mais uma, guerra com a TVI e a Moura Guedes. Não havia necessidade pelo que o circo está montado sem data prevista para levantar as tendas.
O Sr, Bertold Brecht deixou escrito:
"se este homem insubstituível franze o sobrolho, dois reinos periclitam. Se este homem insubstituível morre o mundo inteiro se aflige como a mãe sem leite para o filho. Se este homem insubstituível ressuscitasse ao oitavo dia não acharia em todo o império uma vaga de porteiro."

JC disse...

1.Bom, meu caro Gin-Tonic, se alguém me quer ver a simpatizar com uma pessoa é dizerem que ela é arrogante. Isto pq em Portugal imediatamente se crisma de arrogante quem tem ideias, não pede desculpa por as ter, luta por elas, fala com convicção, etc, etc. Toda a minha pouco santa vida fui acusado de o ser, de ter demasiadas certezas e convicções, de ser mtº assertivo e por aí fora. Tenho hoje grandes amigos que quando me conheceram acharam isso tudo. Hoje são meus amigos. Em Portugal, quando não se sabe o que criticar diz-se que tem mau feitio, é arrogante, vaidoso, tem a mania, etc. Desculpa, mas já dei para esse peditório. Critique-se, pois, o 1º ministro como ele deve ser criticado: politicamente, pela sua governação! É o que, s/ preconceitos, tenho tentado aqui fazer. De qualquer modo, acho que quem se engana deve reconhecer que se enganou. Não o fazer não é arrogância, é estupidez e sinal de fraqueza.
2. Em Portugal não se está habituado a que os políticos afrontem os "media" e o seu poder. Problema de um país atrasado. francamente, não me parece nada mal que o 1º ministro afronte a Moura Guedes. A TVI 24, toda e não só o jornal das 6ªs, é um escarro jornalístico. Até no futebol, com uns programas indecorosos c/ os Searas, Barrosos, Pôncios, Fernando Correia, etc. Claro que tem dtº a existir e ainda bem; mas sujeita-se às leis que no país defendem o dtº ao bom nome e integridade. Modestamente, enquanto "blogger" s/influência,lá vou tentando por aqui provar, por vezes c/ a tua ajuda, que até uma discussão s/ bola pode ser interessante.
3. Claro que nem ele nem ninguém é insubstituível. E existe alternativa, claro. Não me parece é que seja melhor para o país tal como eu o concebo! Mas, claro,isso não significa que se aceite tudo o que de lá vem de uma forma acrítica. Isso nunca fiz nem farei - como bem sabes.
Abraço

gin-tonic disse...

De acordo JC, mas há que notar que a tua arrogância assume-se como natural, tem diversas culturas por trás (democrática, cinematográfica, musical, etc.ets.etc.) a do Primeiro-Ministro é falsa, é parola, é inculta, é de plástico. Pretende esconder a sua inabilidade política e outras coisas mais, que a seu tempo as pessoas se vão apercebendo.
Também de acordo em relação à informação da TVi, da Moura Guedes, de Moniz. Ainda ele andava a apresentar noites eleitorais na RTP e já se notava o oportunismo e a vaidade que ainda hoje transporta.
Esta questão do agora processo eu, agora processas tu, é o tipo de palhaçada de que não estávamos mesmo necessitados.
Um abraço

JC disse...

Mas repara: como pessoa não me merece qualquer simpatia (o Sócrates), ao contrário de políticos como o Soares, o Cunhal, o Sá Carneiro e outros, que tinham densidade, eram gente. Até os manos Portas são mais "gente" do que ele. Mas tb não me merece especial antipatia: está ali para cumprir uma função e exijo que a cumpra bem, ponto final. Serviços mínimos, portanto. Não espero nem pretendo mais. E acho como 1º ministro tem sido mtªs vezes injustamente julgado e atacado, pois me parece tem cumprido esses serviços mínimos. E não me parece ser assim politicamente tão inábil: falta-lhe é estrutura, densidade, valores. No fundo, aquilo que o transformaria de um razoável 1º ministro num grande político. Mas desses só resta o Soares...
Quanto aos processos, acabo por estar de acordo contigo. Acho que ele pode afrontar a TVI publicamente s/ estar a mover processos judiciais.
Abraço

ié-ié disse...

Não li os vossos comentários, para não me deixar influenciar.

Eis o que, resumidamente, penso da entrevista:

1 - Correu bem a Sócrates. Quer a gente goste ou não, é imbatível, nas entrevistas e nos debates parlamentares. Até irrita!

2 - E ainda por cima são os jornalistas que entregam o ouro ao bandido.

3 - Pergunto: que interessa ao reformado de Pinheiro de Lafões ou ao pensionista de Altura que não entregaram a declaração do IRS saber se há ou não "cooperação institucional" ou se a tenda já está no chão? Interessam-lhes saber sim como vão resolver o terramoto que lhes caiu em cima.

4 - Não gosto de Judite de Sousa, aprecio mais o Carvalho (era-RTP). Porque não perguntaram se não havia nada a fazer?

5 - Porque julgam os jornalistas que uma entrevista é um debate? Isso está reservado para a Assembleia ou para as campanhas.

6 - As entrevistas - acho eu - são para fazer perguntas.

Havia muito mais para dizer, mas...

LT

JC disse...

Apenas uma nota, LT: claro que não interessa nada, dito dese modo, ao reformado e etc, se existe ou não cooperação institucional. Essa linguagem e essa análise são dirigidas aos "opinion makers", de níveis diversos, que depois a interpretam, convertem (em mp3?) e acabam por fazer chegar, numa linguagem mtº mais acessível e depois de várias intermediações, ao reformado de Pinheiro de Lafões ou ao pensionista de Altura. O que chega a ambos, reformado e pensionista, é: "olha, ele e o Presidente até se dão bem". Ou: "eh pá, já nem os gajos se entendem e o presidente até já está contra ele"! Fixe?
Abraço