Por vezes penso que os portugueses vivem numa diferente dimensão, sem a noção do mundo e das realidades, com uma ausência quase total de rigor no que dizem e no que fazem. Como é possível, por exemplo, que a RTP, serviço público de televisão, pago por todos nós, intitule o seu "Prós & Contras" de hoje “O 25 de Abril Falhou?” - mesmo com interrogação e tudo? Será que não vivemos hoje em democracia, com liberdade de associação, reunião, expressão e voto, uma das mais livres do mundo? Será que não enterrámos o nosso passado colonial e pusemos fim a uma guerra de treze anos? Será que Portugal, apesar do seu provincianismo quase endémico, de que o título do programa é apenas mais uma prova, se compara ao país humilde, pacóvio, objecto de escárnio do mundo civilizado, de antes do 25 de Abril? Será que os portugueses não têm um sistema de saúde e de segurança social que, com as insuficiências ainda existentes, garante níveis de protecção muito satisfatórios? Será que os portugueses ainda continuam a emigrar às centenas de milhar? Será que a sociedade fechada, sem mobilidade social, em que filho de operário, operário seria, ainda é realidade sufocante no Portugal de hoje? Será que continuamos de costas voltadas para o mundo civilizado ou não somos hoje parte, de pleno direito, da União Europeia, essa Europa onde a elite portuguesa viu sempre a civilização, o progresso? Será que as portuguesas, tal como antes da revolução, ainda são cidadãs de segunda? Será qua a quase inexistente classe média do salazarismo passava férias no Brasil e em Cancún?
Apesar de todas as dificuldades presentes e passadas, de todas as (justificadas) insatisfações com a justiça, com a corrupção, com os políticos, com as desigualdades sociais ainda existentes, importam-se, (importam-se mesmo, caros portugueses?), de ter juízo e deixarem de ser ridículos?
10 comentários:
O maior cego é aquele que não quer ver.
No tempo de SALAZAR a classe média não estava em vias de extinção, como está agora.
Quem quiser saber o que é o PS que leia o livro do Dr. Rui Mateus.
Quem quiser saber o que foi/é... o PCP baste ler o da Zita Seabra.
Os esquerdistas nunca mais de livram dos complexos por serem de... esquerda.
Oh!, meu caro Camilo: classe média no tempo de Salazar era eu e o meu vizinho do lado, ou seja, quase não existia em força e em nº.
E, obrigado pela "dica", mas para conhecer o PS, PCP e os outros partidos, nos seus pontos positivos e negativos, felizmente não preciso de ler os livros que simpaticante indica (que, aliás, já li, assim como mtºs outros). E, tome nota, não tenho quaisquer complexos de esqª ou dirtª. Complexos, se os tenho e acho tenho poucos, não são mesmo dessa ordem.
All the best!
Um Abraço.
Tudo, menos rancores.
gostei muito do seu artigo, como sempre certeiro. Bjs e oxalás
Obrigado, Coruja-Mor.
não é apenas em Portugal que a classe média está em vias de extinção
Quanto ao título do Prós & Contras não foi o mais feliz, mas ás vezes é preciso ser algo polémico para acordar quem anda distraído [qualquer dia santificam o Salazar :)]
ZP: mas a classe média portuguesa nunca foi tão poderosa, em nº e capacidade política e económica, como nos últimos anos, com as taxas de juro mtº baixas, o crédito fácil e o acesso mediático via TVs privadas e internet 2.0. Em vias de extinção? Talvez fosse melhor pensar um pouco antes de dizer essas coisas... Basta ver a capacidade reivindicativa de professores e funcionários públicos, ambos classe média na sua maioria. Basta comparar o nível educacional da classe média actual com idênticos valores de há 20 ou 30 anos. Basta olhar para a pirâmide e ver o nº de portugueses que ganham valores próximos do ordenado médio e de que modo este evoluiu.
Cumprimentos
Taxas de juro muito baixas ?
As famílias portuguesas estão é sobreendividadas [e cheias de vícios], daí que esta crise económica esteja cada vez mais a criar uma nova classe de novos pobres
Mas, meu caro ZP, alguma vez as taxas de juro esiveram tão baixas? E o crédito foi tão fácil como nos últimos anos, desde a entrada no euro? Não foi isso, e valores socialmente dominantes que valorizavam a ostentação e a que essas famílias aderiram, que levou ao sobrendividamento das famílias? E não foi o crédito fácil e barato que permitiu uma enorme subida geral do nível de vida, embora, por falta de preparação das pessoas, canalizada para bens e serviços supérfluos?
O que está a criar novos pobres não é, fundamentalmente, nada disso, mas a necessária reconversão de sectores da economia portuguesa produtores de bens de baixo valor acrescentado que gera desemprego na população com menor nível educacional e mais idosa. Mas s/ essa reconversão, que de facto poderá sacrificar uma geração, nunca será possível resolver o problema da economia portuguesa e melhorar a produtividade e os salários. Não há milagres!
Já agora, ZP, diga-me uma coisa: pq é que a grande maioria das pessoas, em lugar de se informarem, pensarem e analisarem os assuntos, preferem repetir clichés?
All the best.
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