A propósito da canonização de D. Nuno Álvares Pereira (é pelo menos um bom pretexto para se falar da verdade histórica) um excerto do post que aqui publiquei em 22 de Dezembro de 2006 quando a RTP 2 exibiu um documentário sobre a batalha de Aljubarrota:
- "Não existia, na época, um sentimento “nacional” tal como o conhecemos hoje, não estando, por isso, o assunto na primeira linha do conflito. O levantamento do “povo” (leia-se “burgueses”) de Lisboa tem como objectivo fundamental não a “independência” mas a tentativa de evitar o seu domínio por parte da aliança entre grande aristocracia portuguesa e castelhana, o que constituiria um travão às suas aspirações de fortalecimento e poder. Forçaram mesmo aquilo a que se chamaria hoje um “parecer jurídico”, por parte de D. João das Regras, para justificar a entrega do trono a um bastardo que, ainda por cima, estaria relutante em aceitá-lo.
- Estávamos, na Europa, em plena “Guerra dos Cem Anos”, e o que aconteceu em Aljubarrota (onde parece que os dois exércitos nunca estiveram realmente face a face o que, a acontecer, tornaria qualquer eventual heroísmo ou bravura inglórios), em certa medida, não foi mais do que um dos seus episódios, não substancialmente diferente do que aconteceu em Crécy e Poitiers e, mais tarde, em Azincourt. Aliás, havia ingleses do lado português, que foram decisivos, e franceses, além de portugueses (uma boa parte da grande aristocracia portuguesa, incluíndo pelo menos um irmão de D. Nuno Álvares Pereira, combateu por D. João de Castela, que defendia os seus interesses), do lado de Castela, que foram também decisivos, neste caso, para derrota.
- John of Gaunt, 1º Duke of Lancaster e filho de Edward III de Inglaterra, pai da futura rainha Filipa de Portugal (Philippa of Lancaster), era pretendente ao trono de Castela por via do seu casamento com D. Constança, filha de D. Pedro de Castela, e o seu envolvimento, para além de questões de Estado relacionadas com a “Guerra dos Cem Anos”, deve-se também a este facto. Invadirá, sem sucesso, Castela no ano seguinte (1386) ao da batalha de Aljubarrota.
- Este é o início da chamada “aliança inglesa” (entre Portugal e a Inglaterra), episódio da luta de Inglaterra contra as duas grandes potências continentais (Castela/Espanha e França), que garantirá a independência de Portugal nos séculos seguintes mas tornará o país uma sub-potência marítima sob protecção britânica, afastando-o das grandes decisões que se jogarão no espaço europeu continental. Talvez a referência inicial do nosso subdesenvolvimento."
10 comentários:
Boas!
CARO JC
Essa de que, com a aliança Portugal-Inglaterra celebrada pelo tratado de Windsor "...tornará o país uma sub-potência marítima sob protecção britânica..." deixou-me totalmente perplexo e a cogitar que alguma da História que me ensinaram e que julgo saber, estará completamente errada.
Senão vejamos :
1- A expansão dos descobrimentos começa bem atrás, no tempo de D.Dinis, com a visão dos cavaleiros Templários, oriundos, nas sua maior parte, de França, em Portugal travestidos na Ordem de Cristo, a Ordem da qual mais tarde o infante D. Henrique será grão mestre, refugiados das impiedades e da cobiça de Filipe o Belo, o tal que ordenou uma matança geral numa sexta-feira 13 ( e vem daqui o azar associado às sextas-feiras treze) .
Foi nesta época que D. Dinis mandou plantar o agora ameaçado pinhal de Leiria para serventia de madeiras para as futuras embarcações para a gesta que se planeava. Foi também nesta época que D. Dinis contratou um famoso almirante genovês, de apelido Pessanha, para orientar a marinha lusa. Foi igualmente neste reinado que os portugueses colonizaram temporariamente as Canárias ( e terão até avistado ilhas do arquipélago da Madeira que aparecem com nomes portugueses em mapas italianos com data anterior ao descobrimento oficial).
2- Sem cabotinos ou pátrios chauvinismos, a expansão portuguesa fez avançar o mundo global, talvez mais um século ou dois, do que seria se os mesmos não fizessem tal investida. E não se trata de uma historieta de naus catrineta, ou de jactante prédica para gáudio da "Mocidade Portuguesa" ou um émulo épico dos Lusíadas.
Uma imagem vale mais que mil palavras, "et pour cause" bastará enxergar o planisfério de Cantino, datado de 1502, em
http://www.facacriolla.com.br/images/mapa-cantino-planisferio.jpg
Este planisfério revela tudo o que os portugueses conheciam em ... 1502!
E quem produziu a ciência náutica capaz de reproduzir numa carta com uma precisão digna de um GPS quase o mundo inteiro que quarenta anos antes era "mare incognito"?
Este planisfério revela ainda uma parte do actual estado norte-americano da Florida ( que coincidência um topónimo bem português), em 1502 !!!, anos antes de Colombo, na sua terceira viagem, ter posto os pés parte continental americana que ele erroneamente chamou de
Índias Ocidentais.
E quem, "sem a alma pequena", conheceu, com o preço de, como dizia Fernando Pessoa, "muito do sal serem lágrimas de Portugal" e "muitas filhas ficarem sem casar", o regime de ventos favoráveis de acordo com a corrente do golfo, a navegação, de longo curso e oceânica, a carreira das Índias.
E quem aperfeiçoou o astrolábio, as cartas de marear, a orientação pela Polar e pelo Cruzeiro do Sul, as coordenadas de latitude e até já uma tábua para delinear a longitude.?
E quem, pela primeira vez, dobrou e ligou três continnetes (Europa, África, Àsia) para não falar no Atlântico Sul e o mar de Timor já muito próximo da Austrália.
E quem primeiro chegou ao Japão por via marítima ?
E quem pela primeira vez instalou um sistema de canhões nas naus que tornaram, de facto, a primeira potência global, com fortes nos cinco continentes e que desfez no mar e num ápice , perto de terras hoje pertencentes ao Iraque e ao Irão, a armada de centenas de embarcações, do sultão do Egipto vinda em socorro dos súbditos muçulmanos, passando a dominar o estreito de Ormuz?. ( Tomara hoje ao exército americano, com mísseis, bombas de explosões descomunais, e toda a parafrenália, dominarem os piratas do corno de África como os Portugueses conseguiram com os locais muçulmanos ).
E quem conquistou Malaca,( perto da actual Singapura) onde se domina a passagem para o Pacífico e Oceania.?
E quem conseguiu manter o império marítimo-colonial mais longo da história, que começou nos idos de quinhentos e acabou em 1975, deixando como testemunho o maior país da América latina, e a terceira língua ocidental do mundo.?
3- Mas se mundos faltassem, que nacionalidade tinha aquele que fez a primeira viagem de circum-navegação, QUASE UM SÉCULO ANTES DE FRANCIS DRAKE fazer a sua, ( este evidentemente com a rota já revelada o que é bastante mais fácil !), e quantos capitãees espanhóis amotinados ficaram desterrados na Patagónia quando os mantimentos já escasseavam, e que revoltas o dito portugês que os anglo-saxões chamam de Magellan, hoje nome de GPS, compiutador e nave espacial, teve de conter para prosseguir a quase suicida odisseia ?. E onde esse "Magellan" foi beber a ciência náutica que utilizou nessa viagem, e que nacionalidade tinha o astrólogo inspirador da tese da terra redonda e da passagem para as Ilhas Molucas por Ociente?
Felizmente ia a bordo um italiano, de sua graça Pigafetta, que nos deixou uma crónica dessa viagem, onde estas questões estão muito bem respondidas.
4- A decadência ibérica e a correspondente "golden age" britânica começa muito mais tarde, depois de 1580, ano em que se deu a União Ibérica, e uns anos depois quando o rei ibérico Felipe II dá o "comando" de uma "Invencível Armada" a um nobre espanhol de sangue azul, o duque de Medina y Sidonia que nunca tinha posto os pés num navio. Foi o desastre total. Bastou a um famoso pirata atrás discriminado, controlar com poucos navios e emboscar com navios em chamas para destruir essa dita Invencível Armada e dar de bandeja à Inglaterra de Isabel II a estafeta do domínio dos mares.
5- Antes de 1580 por onde anda e o que é que descobriu essa potência marítima Inglesa da qual Portugal é, de acordo com a proposição do caro JC, umm mero sub-produto ou sub-potência ? Não me diga que foram os cabotinos Cabot que fizeram o mapa de Cantino !
6- Em 1494 Portugal, sob a batuta do melhor rei português de sempre, D. João II, astuciosamente escapa à mediação Papal e celebra bilateralmente com Castela o Tratado de Tordesilhas que divide o mundo em dois por um meridiano que, por acaso compreende para a parte portuguesa tudo o que interessava a Portugal o contolo total do Atlântico, África , Indias e até as ilhas da pimenta que o tal de Magellan chamado, julgava estar do lado espanhol, e morre por acaso, quande faz essa lamentável descoberta, razão de existir da Armada das Molucas que tão heroicamente obrigou a descobrir o que faltava. O rei inglês na altura e bem a propósito chamou a este tratado a "herança de Adão e Eva".O rei português forçou mais umas milhas e assim abrangeu também a maioria do que é hoje o Brasl só "descoberto" oficialmente em ... 1500 !
Quem tem poder celebrar um tratado desta dimensão pode ser chamado, para a época, uma ...... sub-potência ?
Para finalizar,
Sobre a preciosa ajuda do Duque de Welligton e a mapa cor-de-rosa,( mas isto já no sec XIX !!) poderemos falar noutra oportunidade, nomeadamente no que toca também ao auxílio prestado reciprocamentete pela "sub-potência" Portugal à "suserana" britânica ameaçada de morte por Napoleão.
Também podemos falar porque razões há tantos conflitos internacionais em territórios colonizados ou sob mandato inglês ( Caxemira, Palestina, Áfricas do renegado mapa cor de rosa e não só), o que não é o caso dos restos do império português onde os conflitos que existiram foram internos e já se encontram sanados. Note-se que bastou o pacifista Gandhi para correr com os ingleses da India. A sub-potência portuguesa permaneceu ainda uns bons anitos, na India e até na China. A grande potência arreou a bandeira mais cêdo. A sub-potência conseguiu até dar um grande contributo para tirar Timor -Leste do domínio do maior país muçulmano do mundo.
Não resisto a reproduzir o poema que melhor define o prodigio português.( O de Camões é um épico que vale como tal):
MAR PORTUGUÊS
Oh MAR SALGADO, quanto de teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, oh, mar!
Valeu a pena? Tude vale a pena
Se a alma nao é pequena.
Quem quere passar alem do Bojador
Tem que passar alem da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.
FERNANDO PESSOA um cidadâo português nascido, criado e educado num estado sob domínio inglês, mas que adoptou como pátria efectiva a língua portuguesa.
Com os cumprimentos
JR
PS : Sou português, mas o que aqui escrevi não é devido a chauvinismos, jactâncias, exarcebados patriotismos, ou qualquer saudosismo colonialista, coisa que não me passa pela cabeça. O que pretendi foi dar um singelo contributo para uma outra percepção em relação àquilo a que chama de "sub-potência" marítima.
Errata:
Em vez de Isabel II, a actual monarca leia-se Isabel I!
JR
Vou tentar ser sintético, caro JR, o que não quer dizer o consiga.
1.Grande parte da História da Inglaterra, desde os finais da Idade Média até ao séc. XX, é marcada pela sua luta contra as 2 grandes potências continentais, França e Espanha, impedindo estas de se fortalecerem, de se aliarem e expandirem. A Guerra dos 100 anos é um desses episódios, tal como a formação do anglicanismo com Henry VIII tentando escapar à influência papal e, por via dela, à bubalternização inglesa a França e Espanha. Nada tem a ver c/ casamentos e divórcios a nãoser na medida a que estes correspondiam, nessa altura, a meros tratados e arranjos políticos.
2.Aljubarrota é um desses episódios da guerra dos 100 anos, em que Inglaterra tenta impedir a alinça entre a grande aristocracia ibérica (e, já agora, tb francesa: havia franceses ao lado de D. Juan em Aljubarrota). Como sabe, a grande maioria das praças e castelos + importantes declararam-se por D. Juan. D. João (um bastardo) correspondia aos interesses conjunturais de quem tinha a perder com a aliança c/ Castela, ou melhor, com o fortalecimento da grande aristocracia ibérica consubstanciada nessa aliança: os burgueses e a pequena nobreza. Tb a Inglaterra tinha a perder,pelo que expliquei s/ os seus objectivos e envolvida que estava na Guerra dos 100 anos. E como os casamentos faziam parte da política, neste caso os interesses ingleses eram representados por John de Gaunt, Duke of Lancaster (uma das duas casas mais poderosas de Inglaterra - a outra eram os Tudor, casa real), casado c/ uma Infanta de Castela. Aljubarrota, Crécy, Poitiers e Azincourt em termos militares são "copy cats" e marcam, militarmente falando, o fim da cavalaria medieval. O génio militar de Nuno Álvares? "Bullshit"!
3. A vitória da burguesia e da pequena aristocracia marca um período de indefinição naquilo que se chamaria hoje o "modelo de desenvolvimento" português, entre a burguesia dos negócios que aspira à expansão marítima o comércio) e a pequena aristocracia, agora reinante, que tenta aumentar o seu poder através das conquistas e da posse da terra. O desastre de Tânger porá fim a estas últimas pretensões aristocráicas. Aljubarrota marca, enquanto reino, uma outra coisa decisiva: Portugal, ficando como reino independente, ao contrário dos outros reinos ibéricos depois unidos na Espanha, nunca será uma potência continental europeia como o foi a Espanha dos Habsburgos. Nada contará enquanto tal.Resta-lhe a expansão marítima.
4. Claro que a expansão marítima engendrou necessariamente o desenvolvimento da ciência náutica. Aqui estou de acordo.
5. A idade de oiro inglesa começa, isso sim, com Henry VIII (séc. XV) - e depois acentua-se com Elizabeth I - quando Inglaterra consegue finalmente autonomizar-se face a Espanha, França e o Papado e derrotar a Espanha no mar. Aí tem razão. Mas existe uma diferença entre nós: enquanto v. considera esse o início da eecadência portuguesa eu considero-o apenas a 2ª derrota, aquela enquanto potência comercial ultramarina: a 1ª teria sido quando em Aljubarrota foi derrotada a hipótese de Portugal se tornar, enquanto parte da união das coroas ibéricas, uma potência continental. Claro que para a historiografia oficial da ditadura dava mtº jeito considerar que os Filipes tinham sido os causadores da desgraça!
6. Exceptuando no caso do Brasil, Portugal, ao contrário de Espanha, nunca teve propriamente um império colonial, pelo menos antes dos finais do séc. XIX. Dominou durante algum tempo as rotas comerciais e para isso construiu entrepostos fortificados ao longo dessas mesmas rotas. Portugal limitou-se a descobrir uma nova rota comercial para o Oriente, o que permitia trazer os produtos a mais baixo custo. Repare que nas Histórias Universais de outros países esse é o facto importante atribuído a Portugal. Os Fenícios já tinham chegado às Canárias, os Vikings estabelecido colónias na América do Norte: mas estávamos na Antiguidade e na Idade Média, mtº antes daquilo a que Marx viria a chamar a "acumulação primitiva de capital". O Tratado de Tordesilhas era o que interessava a Portugal? Claro. Mas tendo em vista esse modelo de desenvolvimento (o de pequena potência marítima comercial "protegida" pela Inglaterra enquanto isso a esta lhe convinha) que eu contesto como causa do n/ subdesenvolvimento. Portugal ficou c/ o comércio e a Espanha c/ o Império. Terá sido assim tão positivo? Na História que aprendemos, o facto de Portugal ter mantido a sua independência é apresentado quase como acto heróico. Eu tento desmontar esse mito e mostrar que esse foi um dos maiores factores do n/ atraso.
Cumprimentos e obrigado
CARO JC
No essencial, se bem interpreto o V. interessante texto, a independência ganha em Aljubarrota, arvorando um bastardo ao trono luso em vez do sucessor castelhano "de jure" ( apesar do peregrino e piedoso parecer jurídico de João das Regras) não passou de algo como um "fait divers" no tabuleiro da guerra dos cem anos que apenas serviu os interesses ingleses, burguesia, baixa aristocracia e "arraia miúda", e afinal, uma primeira derrota com consequências para o n/ atraso, o que não aconteceria se, ao invés, Aljubarrota tivesse sido perdida, conduzindo à unificação da Península que assim constituiria um maior bloco continental com melhores aspirações naquele e noutros tabuleiros.
É uma interessante tese, que eu não posso contestar, até porque a História não sendo uma ciência nomotética, não se regula por leis de causa e efeito - pese embora as tentativas, marxistas e outras, de a tentarem reduzir a leis imutáveis - e tem por corolário que nunca poderíamos demonstrar ou elidir um modelo do que se seguiria no caso inverso.
Na verdade, até uma rude cavalgadura de deselegante trote pode mudar o curso da história, qual efeito borboleta, como adiante exemplificarei.
Pudemos sim fazer algumas comparações e considerações com situações factuais em que o inverso também ocorre.
Assim, temos que:
1- Com a irreverência juvenil, edipiana e familiar do rei fundador português aliada ao interesse de uma plataforma ou hinterland litoral livre de mouros em ordem a permitir o abastecimento, logística e segurança para os cruzados vindos do Mar do Norte a caminho da Terra Santa, ganhou-se um novo reino, subtraído a Leão, com o interessado beneplácito Papal e do influente Bernardo de Claraval.
Aqui a falta do tal bloco ibérico parece funcionar todo em favor do que, o intrépido fundador, os cruzados, o Papa, o povo, enfim quase todos excepto os mouros, D. Teresa e amante galego, desejariam, tendo o seu clímax ( não o dos galaicos amantes) na libertação de cidades chave como Coimbra, Santarém, Lisboa, e tantas outras, fazendo os mouros recuar até ao Al-Garb (hoje Allgarve) para mais tarde serem expulsos de todo. Ao invés a potência continental Castelhana só conseguiu libertar-se deles em 1492, o mesmo ano em que o enigmático Colombo - cuja tese da nacionalidade portuguesa tem cada vez mais adeptos - "descobre" oficialmente as por ele denominadas "Índias Ocidentais".
Neste caso,a desunião ibérica parece que, em vez de atraso deu avanço.
2- Quanto à crise de finais do sec . XIV já V. tudo disse. Só discordo na percepção da consequência. Ao expandir-se para o mar, Portugal tornou-se, de facto, a primeira potência global, marítima e comercial, referida na história. É com estes foros que a história universal mais contempla Portugal e não como uma mera sub-potência inglesa, esta ao momento recuada na sua própria ilha. Salvo melhor opinião, Portugal contribuiu enormemente para o progresso da humanidade ao deslocar o centro do mundo do Mediterrâneo para o Atlântico, e no fundo, descobrir quase tudo que geograficamente havia para descobrir. Neste particular não me alongo mais, remetendo para o primeiro comentário. Apenas adito, por mera curiosidade, que o yão afamado e subtil "five o'clock tea", associado a fino "british way of life" para "ladies and gentlemen" foi importado das Indias e China por .... portugueses, que também estudaram as respectivas propriedades e o catalogaram em benefício da ciência botânica por seu émulo lusitano de Lineu cahamado Garcia da Orta.
3- O "momentum" ideal para a o tal bloco continental-marítimo de que fala tavez fosse quando a herdeira do trono espanhol estava prometida ao principe D. Afonso, enlace este em que o pai, o grande estratega e visionário D. João II, tudo apostava. É que neste momento Castela continuava atrofiada com os Mouros e Portugal dispunha do "Know-How" marítimo, comercial e militar.Não será abusivo antecipar que, nestas condições, a maior parte, senão a unânimidade da sociedade castelhana, Papa incluído, aprovaria o consórcio destes outros Reis Católicos, e que, num folgado momento de fidelidade, se gerasse um varãozinho, futuro imperador - salvo se uma outra cavalgadura "nuestra hermana", mesmo das que não têm ferraduras, não o viesse igualmente a derrubar - .
Mas - inclemência divina! -, se houve um animal que mudou decisivamente o curso história do mundo, foi o cavalo lusitano do príncipe, que deitou fatalmente por terra o príncipe e ... o mundo iberizado e sujeito à língua franca ibérica (o inglês veio posteriormente suprir esta lacuna)
O "quantum leap" imperial ibérico ficou assim adiado.
4-Mas, eis que, em 1580, o dito império ibérico reforçado com os os domínios dos Habsburgos herdados de Carlos Y sobe ao palco para mostrar o que vale.
Com efeito, desde o reinado de D.Manuel que a facção espanhola tinha penetrado em força na alcova do rei, qual Bloody Mary na corte inglesa, por via do leito conjugal, trazendo como simpáticos dotes, o Santo Ofício e a expulsão dos judeus ( foi impressionante o contributo judaico e de cristãos-novos para a empresa dos descobrimentos, nas vertentes financeira ou técnica, do qual salientaria o Abraão Zacuto das tábuas astronómicas e astrolábio, Gaspar da Gama, Rui Faleiro, Mestre João Vizinho etc. etc.). Os ditos dotes conjugais completaram uma missão guiada pela cobiça e pela necessidade de travar os ímpetos portugueses, tradicionalmente libertários e avessos a grandes disciplinas religiosas, que até se tinnham miscenizado com culturas religiosas orientais e coptas na Etiópia, o que fez os sinos de Roma e Valladolid tocarem a rebate, quando os muçulmanos ameaçaram o Papa com o Santo Sepulcro se os portugueses, agora transformados em filhos pródigos não freassem essa épica orgia. É conhecida a resposta do Papa - "Os portuguesses, quem é que os consegue parar ?".Na verdade, só o filho adorado podia! Depois foram morrendo em circunstâncias que hoje ainda estão por esclarecer, todos os possíveis herdeiros dos ramos dinásticos possíveis para apenas sobreviver um velho e impotente cardeal o um novo e não menos impotente e imberbe D. Sebastião, este vítima de uma autêntica doutrinação intensiva numa tábua rasa cerebral que o conduziria, como um autómato arvorado em guerreiro-mor, para uma delirante cruzada que só podia ter o desfecho que sabemos.
Eis então um "deja vu" de uma outra Aljubarrota mas com desfecho oposto, onde não faltou um outro "bastardo", D.António Prior do Crato, com igualmente ingleses a apoiá-lo,mas no meio dos muitos ... muitos amigos de Peniche.
A performance do agora super império ibérico foi impecável até ao momento que Filipe II colocou o seu D. Sebastião local a "comandar" a Invencível Armada, e quando os descendentes Filipes começam a centralizar o poder e considerar Portugal e a Catalunha como meras províncias. Foi o descalabro. O resto da história á a subida ao palco da para ovação geral, quais Beatles na geração YE-YE, de um povo com antigas tradições democráticas, com uma moral muito mais luteranizada ou calvinizada liberta do obscurantismo das superstições, exímia nos negócios e na diplomacia, ainda prendada com homens como Thomas More, Francis Walsingham, Cromwell, Francis Bacon, etc, etc.
Vários autores fazem a mesma pergunta e a resposta mais curiosa foi dada por um deles, alemão, afirmando que os povos ibéricos têm uma incontornável queda para a "siesta". Acrescentaria que a ICAR com a expulsão dos judeus e o Santo Ofício terá contribuído nessa época com o sonífero, qual Lorazepam , para uma santa soneca.
Também não é de descurar o efeito pernicioso da descoberta de várias árvores das patacas douradas, em Potosi e Minas Gerais, cujo destino natural foi o amoedar, por via oficial ou clandestina, em quantidades exageradas para uma economia que se tornou preguiçosa e sem produto real equivalente, e, como na época não havia nenhum Milton Friedman ou escola monetarista, viria a arruinar, o que restava do espaço financeiro, outrora melhor gerido pelos financeiros judeus entretanto expulsos.
Finalizando:
Então, o que conseguiu o dito império ibérico, cuja ausência seria, na opinião do caro JC, a razão de ser do nosso atraso, sendo que, nada lhe faltava, aquém e além-mar, pois que, como disse um poeta, a Filipe apenas faltava o fecho éclair ?
Conseguiu isso mesmo, o descalabro e o desastre, enfim, o atraso face à emergente potência inglesa, hoje também destroçada como império marítimo comercial e industrial.
What Happenned to Spain ?
Hoje metida num turbilhão decrescente originado por uma "bolha" financeira e imobiliária que implodiu conta com um número record de 20% de desempregados. Não está muito melhor que Portugal.
Moral da história:
Nem sempre a união faz a força e a este propósito vale a pena pensar na União Europeia que, aparentemente, vale mais pela diversidade dos elementos de que é composta do que pela homogeneidade dos mesmos que afinal, a título do interesse particular e geral, tendem a obstar à União efectiva.
Foi no que melhor pude sintetizar.
Com os cumprimentos
JR
Caro JR.
1. Nunca disse que Aljubarrota foi apenas um mero "fait divers" na guerra dos 100 anos. O que disse, isso sim, é que sem integrar Aljubarrota na guerra dos 100 anos e s/ compreender a História europeia desse período e subsequente (final da IM e início da I Mod.) dificilmente se compreenderia que no Portugal dessa época está bastante mais em jogo do que apenas uma luta entre Portugal e Castela, o que, como afirmei, nem corresponde à verdade, pois a maior parte da aristocracia portuguesa toma partido por D. Juan de Castela. Nada disto nos é dito quando, no liceu, estudamos o período em questão. Trata-se de um conflito local integrado nm outro mais vasto, à escala europeia. Veja uma coisa: John Gaunt não é um fidalgo qualquer, é irmão do rei!
2. O que digo tb é que, ao manter-se como reino independente, entalado entre Espanha e o mar, tornando-se assim periférico em termos europeus, Portugal nunca mais terá qualquer hipótese de ser um "player" no teatro europeu. Nas grandes decisões da História europeia, do centro europeu onde se vai definir o desenvolvimento futuro nas idades modernas e contemporânea, Portugal nunca aparece ou apenas surge, marginalmente, quando se jogam os interesses ingleses e espanhóis. E quando estes colidem com os dos portugueses, como no caso da partilha colonial do séc. XIX....... Isto não significa que Portugal não tenha dado a sua contribuição científica e cultural ao mundo, claro, no período do renascimento, em função do "modelo de desenvolvimento" que assumiu e passava pelo desenvolvimento da navegação e comércio marítimos.
3. Mas a unidade dos reinos foi sempre tentada, de ambos os lados, e não foi só a queda do cavalo de D. Afonso que a fez falhar. Pelo menos, existe antes disso (D. Afonso V) o episódio de Toro e da "Excelente Senhora" (D. Joana). Só c/ os Braganças a questão deixa de ter actualidade. São episódios pouco salientados quando se aprende História de Portugal no secundário, a não ser para exaltar a bravura de D. Duarte de Almeida. Porquê? Para não se demonstrar que a unidade dos reinos, e não a independência, tb era o objectivo aqui deste lado?
4. Já agora, a derrota da Invencível Armada (onde se prova que a Inglaterra já é uma potência marítima considerável e domina as novas tecnologias da guerra no mar) não é decisiva, ao contrário do que nos ensinam na escola pois isso dá jeito para demonstrar quão negativa era a união das coroas ibéricas. Espanha vai manter-se mtº tempo ainda como grande potência europeia, basicamente até ao final da Guerra dos 30 anos da qual Portugal se aproveita para restaurar a independência, optando uma vez mais pelo comércio marítimo em vez do teatro de guerra onde se joga a formação da Europa contemporânea. Da importância da Guerra dos 30 anos e da revolta catalã para a restauração tb nada nos é dito na História. Aqui, uma vez mais, Espanha opta pela Europa (a Catalunha é a mais europeia das nações de Espanha) e Portugal pelo Atlântico...
Apenas mais umas notas:
1. Não é certo que D. Sebastião fosse impotente. Acho que sofria de gonorreia, ou coisa do género.
2. Filipe II era, "de jure", o herdeiro legítimo do trono português.
3. Espanha é, hoje em dia, uma grande potência, apesar da bolha imobiliária, do desemprego e da questão das nacionalidades.
Cumprimentos e obrigado pela oportunidade de discutir estas coisas.
CARO JC
Sem querer abusar do privilégio que me concede ao hospedar algumas faladuras além oportunidade que me dá em discutir estes temas, o que reconhecidamente agradeço, aditaria só mais umas notitas.
1. Corrijo o "fait-divers" que retiro do texto.
2-Claro que Filipe II era o herdeiro "de jure" tal qual D. Juan na crise de finais do sec. XIV. Não disse o contrário.
2-Quanto à suposta impotência de D. Sebastião foi mais um adjectivo que substantivo, mas face ao embaraço da falta de descendentes régios da linha recta sucessória tem obviamente um sentido duplo, embora sem quaisquer rigores de urologia. Alcácer-Quibir é que subtraiu o mais importante.
3-Quando refere que Portugal nunca mais será um player no teatro europeu, mais uma vez tenho motivos para suspeitar que me contaram mal a História portuguesa e europeia.
É que, no princípio do sec. XIX, trava-se uma longa guerra, com batalhas muito decisivas para a futuro da Europa e logo em solo pátrio, tão importantes ou mais do que Aljubarrota.
Trata-se a resistência anglo-lusa às três invasões francesas, sendo que, na terceira, Napoleão encarrega o Gen. Massena, por si apelidado de "filho querido da vitória", o que diz bem da importância que coloca neste avanço.
Mas se dúvidas houvesse são as própria memórias de Napoleão que referem ter sido aqui que, inesperadamente, as coisas começaram a virar-se contra si, chegando mesmo a confessar que a seu grande insucesso foi o de não ter conseguido motivar os povos ibéricos para a sua causa e que se houve alguém que o enganou foi o rei português D. João VI.
3.1- O rei D. João VI teve que optar entre o apoio a Napoleão, sujeitando o espaço local e ultramarino às arremetidas da marinha inglesa, - a mesma que não tinha deixado grandes saudades para os lados dos países nórdicos e baixos - ou, pelo contrário, no seguimento da velha aliança fazer um jogo duplo entretendo Napoleão mas no fundo apoiar o aliado Inglês, submetendo-se a invasões terrestres francesas.
A história viria a revelar que o "player" português fez a escolha certa.
A Inglaterra cerceada pelo bloqueio de Fontaineblau vem aqui jogar a sua própria sobrevivência e põe o melhor dos seus recursos a operar em solo português onde perdeu muito bom oficial entre as inúmeras baixas, sobretudo quando teve que ultrapassar a defesa de Junot no acesso à capital, nas batalhas de Roliça e Vimeiro.
É certo que a potência inglesa vem aqui jogar a sua independência.
Mas não será menos certo que o player português não ficou ausente de braços cruzados a contemplar o jogo alheio.
Em primeiro lugar porque a opção portuguesa é que foi determinante na escolha do espaço onde se vão travar três invasões.
Em segundo lugar porque não se pode subestimar a prestimosa ajuda dos soldados portugueses que associados às técnicas de guerra inglesas e à respectiva disciplina formaram um exército misto temível (Napoleão que o diga !). Muito sangue português foi então derramado.
Em terceiro lugar estava em jogo igualmente a independência de Portugal, razão mais do que suficiente para integrar de alma e coração a causa anglo-lusa e anti-francesa ao defender o seu solo e marcar presença na contenda europeia. Não nos esqueçamos que os franceses vinham aliados com os .... ESPANHÓIS, cujo rei, tíbio e não resoluto, foi humilhantemente deposto.
Durante estas guerras peninsulares ocorreu um episódio negro, a campanha do Rossilhão onde os portugueses que iam em ajuda dos espanhóis acabaram a ser traídos por estes quando se dá o reviralho pró-napoleónico. Que ricos amigos peninsulares estes!
Se a Espanha é player então, definitivamente, não teve nenhum "fair-play".
Será igualmente Portugal, neste contexto, um player europeu ? Ou esse estatuto fica só para a potência vencida francesa, ou para a potência traidora espanhola, igualmente vencida ( até que, numa outra traição se vira finalmente contra os franceses quando estes já estavam desbaratados e maltrapilhos)?.Quanto à Inglaterra não se discute por ser demasiado evidente.
3.2 Mas o player português não jogou só no continente europeu. Lançou um trunfo único apenas jogado uma vez na história!.
Foi caso único em que a capital de um país colonizador passou para o espaço colonizado. Primeiro para a Baía e depois consolidada no Rio de Janeiro. Nessa época de grande prosperidade local cultural e económica, os portos do Brasil foram abertos à navegação geral e a presença do rei muito contribuiu para garantir um espaço territorial unificado que , pouco depois da sua partida, vai tornar-se o maior país da América latina e um dos maiores do mundo, ... sob o mando do filho D. Pedro. Isto diz bem dalguns aspectos aspectos muito sui generis que teve o colonialismo português.
Em conclusão,
Se as cartas jogadas em solo pátrio ou aquelas jogadas em solo ultramarino não contam nada para a história da Europa e do Mundo eu começo a pensar que as cartas estão viciadas e que ganham sempre os mesmos!
Grato pela oportunidade de discutir e da anfitriã e amigável hospedagem.
Com os cumprimentos.
JC
Errata:
Não bastava o botão esquerdo do rato me trair com a sua sensibilidade e criar, involuntariamente, mais uma duplicata, para ainda trocar um R por um C e assim assinar com as suas iniciais,que muito prezo.
As minhas desculpas pelo incómodo causado.
JR
Ora vamos lá ver:
1.Claro que a Guerra Peninsular não é um episódio determinante nas guerras napoleónicas. Esses são as batalhas travadas no centro e leste da Europa, mormente na Bélgica (Waterloo), Itália, Rússia e Mediterrâneo (Trafalgar). E as potências determinantes a Inglaterra, a Rússia, a Austria e a Prússia. Portugal só é invadido por não aceitar fechar os seus portos aos britânicos, o que prova a minha tese de sub- potência. Aliás, só no Buçaco as tropas portuguesas têm um papel relativamente importante, o que não acontece na Roliça e no Vimeiro. E depois da derrota de Napoleão Portugal torna-se de facto num protectorado britânico, sob a regência de Beresford, até 1820. Inclusivamente,são em grande parte os portugueses que servem sob Napoleão e impregnados dos ideais da Revolução Francesa, como Freire de Andrade e outros maçons,que serão a semente do liberalismo.
2. E, de facto, a História que nos era (é?) ensinada é em grande parte uma fraude... Durante a ditadura de Salazar, por exemplo, destinava-se a enaltecer o nacionalismo, o império, o catolicismo, a grandeza da pátria e as personalidades messiânicas.
Cumprimentos
CARO JC
Mais uma vez, agradecendo a hospitalidade, bem como a oportunidade de discutir estes temas, atrevo-me a aditar mais umas notas.
1- Não duvido da existência temporal de um historicismo ou "escola" conveniente ao "ancient regime". Porém são autores mais que insuspeitos da pertença à dita escola que dissertaram, entre outras coisas, da relevância, para o país e para mundo, da primeira potência global marítimo-comercial que foi Portugal! A este propósito, citaria apenas um JAIME CORTESÃO, destacado opositor ao regime, e/ou um LUÍS de ALBUQUERQUE. Mas, não fossem estes autores "pecar" por excessiva portugalidade (o que contesto), então temos os autores não nacionais, dos quais citaria o respeitado autor ... inglês, C. R. BOXER, este como uma longa lista de "Awards and Honours", das quais salientaria cinco "honoris causas", quatro das quais em universidades não portuguesas, isto para além de ter sido (já faleceu) "fellow of the British Academy".
É que, ressalve-se, quando refiro a história que me ensinaram, refiro sobretudo estes autores e nunca os "escolásticos" do salazarismo.
Mas, como estes autores ainda poderiam ser suspeitos - e mal - de "não actualidade", ainda citaria as recentíssimas obras, do igualmente inglês Martin Page, "The First Global Village - How Portugal Changed the World" sob os auspícios da Universidade de Cambridge, além do autor australiano Peter Trickett, "Beyond the Capricorn". Curiosamente, a recente produção bibliográfica, em número e qualidade, sobre o tema, até é susceptível de sugerir que a potência portuguesa dos descobrimento está, contagiadamente "on the mood", qual peste suína ou tipo A.
Será que todos estes autores ingleses estavam muito desatentos à "virtualidade" de um Portugal como sub-potência da marinha inglesa, no auge dos descobrimentos ??
Na verdade, urge naver cuidado com outras escolas de historicismow possíveis, como seja uma escola minimalista e autofágica que vê muito em função de umas quantas permanentes "potências" de serviço e um grande exército de manobrados peões mero joguetes daqueles, coisa de que há bons exemplos ( até nos dias de hoje quando a comanditária e antiga potencia colonizadora inglesa serve o comanditado Bush do antes colonizado território americano), devaneio que custou o cargo a Blair ), mas que não se podem generalizar.
Só a título de exemplo, foi graças aos descobrimentos que, mais tarde, Portugal pôde também abrir os portos do Brasil à bloqueada potência inglesa, isolada na sua ilha e ameaçada de morte por Napoleão.
2-Avançados no tempo e chegados à assim chamada "Guerra Peninsular", jogada em palco nacional, mas onde se debatia o futuro da Europa, já que aqui também combatiam ingleses e franceses, estes o "core" desta guerra, não nego a maior relevância de outras batalhas travadas no centro dessa Europa. Mas, imaginemos só o que seria se Portugal, ao invés, tivesse seguido Napoleão e os aliados liberais deste por si referidos, fechassem os portos aos isolados ingleses e alinhasse o seu exército com o de Napoleão, este vindo a Portugal, já não como invasor, mas para garantir a segurança dos portos portugueses. Neste caso, será que teria havido Waterloo? Nunca o saberemos.
Porém, nada melhor que o próprio Napoleão a ajuizar do insucesso destas três invasões e respectivas consequências, ao situar aqui, nas suas memórias, o começo do ocaso da sua aventura hegemónica.
3-O chamado protectorado (que nome bonito e pomposo !) de Beresford, não significa submissão ou domínio. A referida abertura dos portos a uma potência marítima insular, ameaçada de morte e deles necessitando como de pão para a boca é também uma "protecção" não menos relevante. Foi uma reciprocidade ditada por uma circunstância histórica, a deriva napoleónica, originariamente alheia aos protegidos e aos protectores do momento, ocorrida no único "palco" possível, o do "protector" que os abre. Se o intuito inglês fosse a submissão lusa então não teria recuado para Inglaterra a pedido dos liberais lusos, afectos à causa napoleónica que até queriam - e conseguiram - o regresso do rei.
Será que nalgum dos pratos da balança temos que colocar um peso adicional realçando mais o título de "protector"? Entre "gentlemen" e entre famílias reais que se estimavam e até partilhavam consanguinidade, como foi o caso, a infidelidade do fiel da balança não devia acontecer.
Ainda assim, sempre seria melhor um efectivo protectorado do que o acontecido com a potência espanhola, que viu o seu rei a ser humilhantemente deposto e que, no essencial, se limitou a obedecer aos circunstantes vencedores do momento, sem esquecer o que aconteceu à outra potência, a francesa, também detida pelo General ... frio, brrrrr, ( além do outro, Wellington, cujo tirocínio foi aqui tirado ) mais tarde invadida pelo exército prussiano para pôr fim aos excessos da Comuna de Paris e que, já no sec XX ainda viria a sua inexpugnável linha Maginot rapidamente ultrapassada por um Hitler com pressa para ir à Opera de Paris.
Esta coisa de potências e “players” permanentemete de serviço é muito relativa.
4-Falando em potências, vem-me à ideia um "approach" mais filosófico. Será o estatuto de potência ou dominação um bem essencial em si mesmo, uma condição ideal, um "nirvana" histórico desejável a conseguir, no fundo, o fim da história, que só alguns podem atingir e que todos os outros, por razões práticas, estão dele dispensados, e, por contingência, dominados??.
Esta é a tal visão dos historicismos que como refere, enaltecem o nacionalismo, o império, a grandeza da pátria e as personalidades messiânicas, que eu não partilho.
Admitamos que Portugal nunca tenha sido um "player" ou potência relevante na história universal ( o que eu, reles autodidacta, na esteira dos autores citados, contesto).Admitamos que o jogo foi apenas jogado pelos suspeitos do costume e se, numa qualquer fugaz distracção, um mero salpico marítimo pôde "promover" Portugal à categoria intermédia e subalterna de sub-potência. Tal suposta inferioridade seria dramática ou trágica.
No final, a resposta só pode ser, "ashes to ashes", tudo é pó e tudo em pó se transforma, quem à espada mata à espada morre (raios, onde fui eu buscar isto??). A comprová-lo, eis que, na sequência de tantas batalhas e tanto jogo de dominação, hoje o mundo, na crista de um turbilhão de agonia e de delírio armamentista, já tem no seu arsenal montes d de Oppenheimer "toys", cuja "préstimo" não é o museu ou ficar à espera de Godot, mas sim, lamentavelmente, cumprir o trágico mito de Prometeu, finalidade esta, que os ditos "toys" estão prontos aguardando apenas o "momentum" e a "nobre" justificação.
Felizmente que Portugal não foi "player" algum de relevo para esta finalidade, já que, as armas do seu tempo áureo eram mais "românticas" e mais "fair-play" que as actuais. E, convenhamos, o maior e melhor contributo na altura, foi o científico, o geográfico, os novos mundos ao mundo agora ameaçado, na esteira daquilo que o poeta versejou,como o "sonho comanda a vida" coisa que eles “não sabiam”.
Com os cumprimentos e agradecimento
JR
Não tem nada que agradecer. O gosto foi meu.
Cumprimentos
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