Numa democracia digna de si própria, se alguém fizer em público ou difundir, de algum modo, comentários racistas, segregacionista, anti-semitas ou quaisquer outros do mesmo género contra um povo ou uma religião, estamos apenas, em minha opinião, perante um cretino, um energúmeno, desde que essas suas atitudes, na prática, não violem as leis da igualdade, isto é, não discriminem ninguém em função da raça, sexo ou nacionalidade, leis essas estruturantes de qualquer democracia. Se o fizerem, estará a violar a lei e terá então, mas só então, de responder por tal acto. Enquanto tal não acontecer, deverá ter todo o direito a exprimir a sua opinião, por mais abjecta que seja: confiemos a sociedade saberá julgar tais atitudes. Aliás, recorrendo à irreverência extrema e a um tipo de humor iconoclasta que torna sempre mais integrável e até mesmo bem vindo algum radicalismo, no limite, alguns mais susceptíveis podem mesmo considerar que o "Charlie Hebdo" não terá andado demasiado longe de algumas das categorias acima mencionadas.
O mesmo deve acontecer com quem difunde ideologias contrárias ao Estado Democrático, quaisquer que elas sejam, incluindo o nazismo e o apelo ao terrorismo, desde que não utilizem a violência na sua acção política. Se estivermos perante alguém que defenda o negacionismo, para além das características acima elencadas estamos também na presença de um ignorante, pelo menos em termos históricos, mas que tem pleno direito a ser cretino, enegúmeno e a fazer gala da sua ignorância. É isto que justifica a superioridade da democracia sobre todos os outros sistemas políticos.
Por isso mesmo, vejo com especial preocupação acontecimentos como este, e afirmações como a de Manuel Valls referindo que "é preciso não confundir a liberdade de opinião e o anti-semitismo, o racismo e o negacionismo”. Perante reacções deste tipo - que infelizmente não me espantam - o único comentário que posso fazer é que estamos (ou a França está) a ir por muito mau caminho.
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