Agora que decorrem as comemorações dos 50 anos da morte de Winston Churchill, convém dizer que a maioria dos que agora, na direita portuguesa, o homenageiam teriam por certo estado contra ele durante a sua vida política e perante muitas das opções que então tomou. Pondo de parte alguns dos hábitos política e socialmente incorrectos que hoje em dia dificilmente seriam aceites pela direita portuguesa, mas que não vêm agora ao caso, Churchill arrastou o Reino Unido para uma guerra contra os desejos de uma esmagadora maioria da aristocracia (a sua classe social de origem) e do conservadorismo britânicos (da "direita" de então, digamos assim), partidários da política de "apeasement". Uma guerra que, se com enorme contribuição dos USA acabou por derrotar os nazi-fascismos, teve também como consequência imediata a ascensão do comunismo na Europa, a subsequente divisão desta e, a prazo, o fim do império britânico, o declínio do Reino Unido enquanto potência mundial e o fim do domínio da aristocracia na vida económica e política britânica, já de certo modo em causa desde o final da guerra de 14-18. "Last but not least", uma guerra que acabou por abrir caminho ao governo trabalhista de Clement Attlee, talvez o governo "mais à esquerda" da História do UK e aquele que deu início ao que hoje designaríamos por "descolonização". Digamos, pois, que não me parece a direita portuguesa mais radicalmente conservadora, como a do "Observador" e do "Blasfémias", tenha muita legitimidade para se reclamar do legado de um estadista com a dimensão de Winston Churchill. Mas lá que lhes dá jeito...
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