"Borgen" (de 2ª a 6ª na RTP2, pelas 22h) não terá a ironia e a sobriedade do "House of Cards" original , o da BBC, muito menos o quase humor negro da interpretação de Ian Richardson no papel de Francis Urquhart, mas é de visão indiscutível, mais a mais agora que não somos obrigados a estar presos a um horário "oficial". Não conheço o "House of Cards" em versão americana, nem tenho intenções de o ver, mas sem dúvida que "Borgen" (a série é dinamarquesa) consegue dar-nos um retrato interessante dos bastidores da política, da sua promiscuidade actual com os "media" e do modo como mutuamente se manipulam e, em conjunto ou separadamente, manipulam a opinião pública.
E no entanto... No entanto, ao optar pelo formato "temporadas", com dez episódios cada e fazendo assim "render o peixe" (ou seja, a história) à medida do seu sucesso junto do público, "Borgen" enreda-se demasiadas vezes no exagero desproposítado, em acontecimentos e sequências inverosímeis ou demasiado perto do absurdo, no fio da navalha de um maniqueísmo que mais não pretende do que piscar o olho ao espectador, cativando-o pelo lado das emoções mais fáceis. Digamos que cede demasiadas vezes ao estilo telenovelesco, o que lhe retira autenticidade (já o "House of Cards" original não tem esse problema pois não só é uma sátira como segue o livro pré-existente de Michael Dobbs) e, por via disso, impede que a série alcance níveis de qualidade mais elevados. Parece um contra-senso, mas não é: tanto quanto sei, fica-se pelas três temporadas, o que ajudará a que não se transforme numa fábrica de enchidos e mantenha até ao fim a qualidade suficiente para nos tornarmos íntimos de Birgitte Nyborg, Katrine Fonsmark e Kasper Jull.
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