quarta-feira, janeiro 22, 2014

Salgueiro Maia e a proposta de Manuel Alegre

Independentemente do que penso sobre a existência de um Panteão Nacional - e já o deixei bem claro quando da morte de Eusébio - a proposta de Manuel Alegre para a transladação dos restos mortais de Salgueiro Maia, independentemente da sua justeza face aos padrões em vigor e até mesmo - admito - da boa intenção que lhe possa estar subjacente, contém em si uma clara intenção política, mas também um perigo.
  1. Destina-se a criar problemas aos partidos da actual maioria que - estupidamente, aliás - costumam fugir a "sete pés" dos símbolos e de tudo o que tem a ver com o 25 de Abril. Mas também ao PCP (Maia não era um dos "seus" e sabemos como o PCP reage nestes casos) e ao próprio PS, pouco dado a assumir propostas que valorizem Alegre e possam, mesmo que de modo longínquo, valer alguma hipotética perda de votos à direita do partido. Aliás, algum pouco entusiasmo com que o PS  recebeu a proposta (uma espécie de "nim", já que tinha de dizer alguma coisa), em contraste com o que aconteceu quando da morte do consensual Eusébio, é bem sintoma do que digo e de estarmos perante uma batalha que o PS não irá travar.
  2. Pelo próprio percurso de vida de Salgueiro Maia e pelo seu comportamento político e militar durante o PREC e anos seguintes, e se retirarmos esse comportamento do contexto e o transportarmos para os dias de hoje, o que contém sempre alguma perversidade, a proposta arrisca-se a ser transformada - injustamente para Maia - em arma de arremesso da campanha anti-políticos e anti-regime. Aliás, algo de semelhante já aconteceu quando das homenagens a Ramalho Eanes, exaltando os seus méritos indiscutíveis, mas evitando evidenciar alguma soberba que a sua atitude "humilde" revela e esquecendo o episódio mais criticável da sua vida política (PRD). Sejamos claros: o actual regime está longe de ser perfeito; pode e deve ser melhorado; alguns políticos estão longe de ser impolutos e o seu comportamento enquanto cidadãos é por vezes bastante criticável; mas o que quer que fosse que nascesse das cinzas do actual regime, herdeiro do 25 de Abril, não tenho dúvidas seria sempre bem pior, menos democrático, mais "fechado" e menos livre.

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