Se existe actividade em que a xenofobia impera à rédea solta, essa é o futebol. Começa com a discussão idiota sobra a chamada ou não à selecção de jogadores que não tenham tido sempre a nacionalidade portuguesa, que, recorde-se, podem ser deputados ou membros do governo mas aos quais, para serem internacionais por Portugal, se exigem provas de "portugalidade" acrescida tão "importantes" como o local onde passam férias, a nacionalidade do cônjuge, cantarem ou não o hino (eu, que nasci em Portugal e tive sempre a nacionalidade portuguesa, recuso-me a cantar aquela cretinice dos "egrégios avós" e do "às armas") e outras igualmente abstrusas. Acaba com o tratamento escandalosamente diferenciado dado pelo jornalismo indígena a jogadores portugueses e estrangeiros.
Ontem, o sérvio Djuricic e o português Ivan Cavaleiro marcaram ambos golos de excelente execução. Golos aparte, realizaram exibições - quanto a mim - de valia idêntica, relativamente medianas. Veja-se, contudo, a diferença de tratamento dada a ambos na capa do número de hoje de um dos mais importantes jornais desportivos. Simplesmente, um nojo.
4 comentários:
o Record tem-se tentado colar ao Benfica, pelo que neste caso não será bem xenofobia (ou se for é ao contrário)
1º o Benfica tem poucos jogadores portugueses (daí a anti-xenofobia de que eu falei), pelo que é importante destacar o Ivan Cavaleiro tal como foram destacados, num passado recente, jogadores como André Gomes e Nélson Oliveira
2º terão pretendido realçar a forma como os 2 jogadores festejaram os golos, pois o Ivan comemorou de forma efusiva o golo, enquanto que o Djurdic não comemorou o golo
Caro gps:
1. Destacar e apoiar um jogador português é uma coisa; achar que qualquer jogador português que consiga dar dois toques seguidos é logo "craque" é outra mtº diferente. Até agora nenhum dos 3 jogadores que cita provou ultrapassar a mediania.
2. E acha que a forma como festejaram os golos é razão para tal diferença de tratamento?
3. O SLB tem pouco jogadores portugueses? Sim e outros clubes tb. Para mim,é igual: são todos jogadores do SLB e quero é que o meu clube ganhe de forma legítima.
Ontem, depois de teres falado na Marquesa do Cadaval, já sentado na Catedral, lembrei-me de uma história contada pelo José Gomes Ferreira nos «Dias Comuns» e em que o Davis Oistrach se borrifou para os croquetes da marquesa do Cadaval para ir ver o Eusébio:
«O incomparável violinista soviético David Oistrakh está em Lisboa. E ontem, depois de um concerto triunfal no Império, foi convidado para uma recepção em casa da Marquesa do Cadaval.
O russo porém recusou e preferiu ir assistir a um desafio de futebol em que jogava o Eusébio – hoje o português mais conhecido em todo o mundo pela maneira como joga à bola.
- O Choskatovich ainda gosta mais de futebol do que eu – confidenciou o genial violinista não sei a quem.»
Já agora, e a propósito do Eusébio, esta história contada pelo José Duarte:
«Tudo começara em Novembro de 71, quando Dizzy tocou em Portugal pela primeira vez no I Festival de Cascais, o histórico. Dias antes, em Varsóvia, o trompetista pedira-me para conhecer, em Lisboa, a Pantera Negra, a Black Pearl, está-se mesmo a ver: Eusébio.
Dezanove anos depois, o encontro teria de se repetir e agora por sugestão dos três.
No hotel mostrei-lhe as fotografais de 71, nada de cabelos brancos, uma filha do Eusébio com três anos, fotos para a posteridade, ao colo de Sonny Stitt, outro notável do jazz já desaparecido, e ainda fotos no relvado da Luz a assistirmos a um Portugal-Bélgica e onde Eusébio jogou mal, diz ele.»
Thanks!Isto de haver gente que acha que o futebol é coisa de gente tosca, pouco dada às artes e à cultura, é do mais reaccionário que sempre me foi dado ouvir. E acho que até a Marquesa, (já agora, é de Cadaval e não do Cadaval), grande melómana e patrona das artes musicais, deve ter-se entusiasmado com alguma jogada de "King". Abraço.
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