quinta-feira, janeiro 09, 2014

Eusébio, José Sócrates e o Panteão

  1. Uma boa parte das redes sociais e dos "blogs" dedicou estes últimos dias a discutir se era plausível o primeiro-ministro José Sócrates ir a caminho da escola no dia do Portugal-Coreia de 1966, um sábado já em período de férias escolares. No que diz respeito ao antigo primeiro-ministro e ao país, o assunto é em si mesmo politicamente irrelevante, tenha ele má memória, tenha construído uma narrativa fantasiosa igual a tantas outras que muitos de nós construímos sobre episódios da nossa infância ou tenha resolvido contar uma "história de caçador" que achava douraria a sua imagem e traria audiências ao seu comentário de domingo. Mas o facto do assunto se ter constituído como tema importante de discussão é demonstrativo da infantilização a que chegou o debate político no país, demasiado baseado em "fait-divers" e questões de carácter e muito pouco na substância política e ideológica. Custos da democratização comunicacional que a "internet" e os "fóruns de opinião" propiciam e que, como se vê, tem também o seu lado perverso.
  2. Penso não estar errado, mas a existência de um "Panteão dos Heróis" ou dos "símbolos da Pátria" parece-me ser um resquício dos nacionalismos do século XIX; uma espécie de Valhalla da modernidade latina (diria, "napoleónica") pouco consentânea com os valores universais e cosmopolitas, populares e democráticos que se tornaram dominantes na contemporaneidade. Essa é, fundamentalmente, a razão-base da mudança de perfil dos "eleitos" a nele entrarem e a discussão que por aí vai sobre o caso de Eusébio é bem sintoma do que digo. É-me absolutamente indiferente o local onde ficará o túmulo do cidadão Eusébio da Silva Ferreira, já que o verdadeiro Panteão de Eusébio, o seu local de culto, será sempre aquela sua estátua no exterior Estádio da Luz.

4 comentários:

Rui disse...

Caro Amigo,

Ponto 1 :

Trata-se de um fait diver com certeza. Mas é mais uma aldrabice de alguém que tem passado a vida a tentar enganar-nos. E isso é relevante. Em qualquer democracia mais evoluída as mentiras dos políticos não são consentidas e os media não “tabloides” dão amplo tratamento a este tipo de gafes. Com certeza, que há um deficit na discussão politica e ideológica neste Portugal. Mas, não é com esta gente que vamos lá chegar.

Ponto 2 :

Inteiramente de acordo.

abraço

JC disse...

Claro que respeito a sua opinião, mas continuo a achar o assunto irrelevante politicamente.
Abraço

JC disse...

Deixe-me só acrescentar: como sabe, seguindo o meu "blog", nunca me viu dar grande importância a essa questão das "mentiras", ou assuntos semelhantes, quer no caso de José Sócrates, quer no caso de algum dos actuais governantes, p. ex.Passos Coelho.

Rui disse...

Faço-lhe justiça.
Só que o senhor em questão quanto a mim, ultrapassa todos os limites do éticamente admissivel.
E olhe que durante muito tempo defendia-o...