quinta-feira, janeiro 02, 2014

Cavaco Silva: sempre igual a si próprio

  1. Desde que, no caso das "escutas", optou conspirar contra o governo legítimo da República e, depois, aceitou dar posse, nas circunstâncias de então, que o desaconselhavam, a um governo minoritário, passando de seguida a atacá-lo em cada uma das suas intervenções e assim contribuindo para a sua queda, que Cavaco Silva hipotecou quaisquer hipóteses, se alguma vez as teve, de desempenhar um papel de moderação, arbitragem e conciliação na cena política. Se qualquer sorriso na face de Cavaco Silva se assemelha sempre a um esgar, a partir daí qualquer apelo a um consenso, seja lá em que termos for, transformou-se num convite de Lobo Mau travestido de Capuchinho.
  2. Na sua mensagem de Ano Novo Cavaco Silva colou-se à "narrativa" do governo? Sim, mas muito pior do que isso: colou-se, mais uma vez, ao discurso anti-políticos e anti-partidos, optando por considerar um tal "interesse nacional", supostamente supra-partidário mas identificado com a estratégia da maioria, como elemento virtuoso e oposto à "mesquinhez" dos interesses partidários. Ora Cavaco Silva sabe que com este discurso, em vez de exercer a acção pedagógica que deveria ser apanágio do Presidente da República, está a ir ao encontro das ideias populistas e anti-democráticas dominantes em largos sectores da população.Mas como ninguém pode ser quem não é, Cavaco Silva não resistiu à tentação de tentar uma espécie de "dois em um": defender o "seu" governo e melhorar a sua imagem. Nada de novo.
  3.  Se ao considerar que existe acima dos interesses legítimos e muitas vezes contraditórios dos partidos, instituições, cidadãos, etc, um chamado "interesse nacional", Cavaco Silva está a negar a própria essência da democracia, que dizer da sua afirmação considerando "a liberdade e os direitos de cidadania não foram postos em causa"? Será que com elevados níveis de emigração, empobrecimento e desemprego, com diminuição de direitos e cortes de salários e pensões, aumento das desigualdades, a liberdade, os direitos de cidadania e a própria iniciativa empresarial não estão a ser, no mínimo, gravemente mitigados? Pois... temos aqui mais uma confirmação, se necessário fosse, das convicções democráticas e liberais de Cavaco Silva. Também nada de novo, infelizmente.

1 comentário:

Anónimo disse...

Confesso a minha indisponibilidade para ouvir esta triste (e já sinistra) figura.