segunda-feira, janeiro 06, 2014

Os sportinguistas e a tentativa de falsificação da História

Algumas notas sobre a falsificação da História que, infelizmente, tem sido tentada nos dois últimos dias por muitos sportinguistas demasiado sectários:
  1. Se Eusébio, como jogador de excepção, tem, sem dúvida, a sua quota-parte de responsabilidade na hegemonia do futebol português conseguida pelo SLB a partir da década de 60 do século XX, convém chamar a atenção para o seguinte:
  • Tal não acontece por acaso, nem a insistência na contratação de Eusébio é obra desse mesmo acaso. Como, por disposição estatutária, o SLB não podia contratar jogadores estrangeiros, o mercado colonial tornou-se prioritário para o clube. Para além de Eusébio, é de Angola e Moçambique que chegam jogadores como Costa Pereira, José Águas, Joaquim Santana e Mário Coluna, que viriam a formar a espinha dorsal da equipa bi-campeã europeia. Na equipa sportinguista vencedora da Taça das Taças em 1964 conto apenas Hilário da Conceição (que nem sequer joga a final, penso que por lesão), Mascarenhas e Péridis, este que nem sequer é um titular indiscutível, joga apenas o desempate e abandona o clube no final dessa época. De todos, apenas Hilário será um internacional constante e jogador de relevo, já que Mascarenhas nunca foi internacional e Péridis fez apenas dois jogos pela selecção. Em contraste, conto três brasileiros: Osvaldo Silva, Geo e Bé. Nada contra os jogadores estrangeiros, como e óbvio, fazendo apenas notar como uma disposição estatutária do SLB acabou por influenciar o futuro e contribuir para a hegemonia conseguida pelo meu clube.
  • Para além disso, é a opção, pioneira em Portugal, pelo profissionalismo a tempo inteiro, com Otto Glória no final dos anos 50, que acaba também, primeiro, por mudar o futebol do SLB e depois, por acréscimo, a face do futebol em Portugal. Esquecer isto e a sua importância para o que se passa na década seguinte é falsificar a História.
  • Por último, nunca Salazar impediu Eusébio de se transferir para o estrangeiro, ao contrário do que vejo afirmado por muitos sportinguistas (e não só) tentando assim associar o os êxitos do SLB à ditadura. Eusébio não é transferido, numa primeira fase, porque teria de cumprir, como todos em tempos de guerra colonial, o serviço militar. Mais tarde, porque, na sequência da derrota da Itália com a Coreia do Norte no Mundial de 66, a Federação Italiana fecha, durante quatro anos, o mercado a novos jogadores estrangeiros. Mas se quiserem os adeptos sportinguista de ir por esse caminho da ligação à ditadura - o que desaconselho - basta lembrar que o seu clube teve como presidentes nomes como Góis Mota (comandante da Legião Portuguesa), Francisco do Cazal-Ribeiro (que se distinguiu, no tempo da Ala Liberal, como um dos "ultras" do regime, atacando violentamente Sá Carneiro, Francisco Balsemão. Miller Guerra, etc), Valadão Chagas, membro de um dos últimos governos de Marcelo Caetano) e Horácio Sá Viana Rebelo (ex-membro de um governo de Salazar e ex-governador de Angola).
Espero que assim seja reposta a verdade, apelando simultaneamente a algum "fair-play" acrescido por parte dos sportinguistas, meus amigos ou outros.

5 comentários:

Vic disse...

Desculpe lá o desabafo, mas penso que nunca lhe li um post mais inoportuno que este.
Numa altura em que de todos os quadrantes sem excepção - políticos e desportivos - vêm mensagens de condolências e de união no lamento da perda de um símbolo nacional, vir a terreiro com um texto deste teor, penso ser completamente descabido, embora como é óbvio, o blog seja seu e poder escrever nele o que e quando lhe aprouver.
Não sei em que se baseia para tal ataque aos sportinguistas, mas se o faz baseado em algo palpável, deveria ao menos citar a fonte, um vez que usar a expressão "muitos sportinguistas" é demasiado vago e sendo assim, é uma generalização que salpica muita gente, e sabe-se como as generalizações são pouco simpáticas.
Tenho estado atento ao que se tem dito na TV nos vários canais, e nunca ouvi qualquer referência da parte de nenhum sportinguista sobre tais assuntos, pelo contrário, ouvi António Simões, José Augusto e Mário Coluna, pelo menos, afirmar que Eusébio não tinha saído para o estrangeiro porque não o tinham deixado, nunca especificando a origem dessa nega.
Quanto ao facto de Eusébio não se poder ter transferido para Itália face ao fechar de portas da Federação Italiana, sendo esse facto verdade, verdade é também que, por exemplo, o mercado espanhol esteve sempre aberto, não explicando, portanto tal facto, a não emigração de Eusébio.
Quanto à ligação ao regime, penso que qualquer dos 3 grandes de Lisboa tinha fortes laços com o regime, e os sportinguistas antigos como eu, sabem bem quem foram em determinadas alturas, os seus dirigentes, não necessitando de ter a memória avivada. Como também se lembram que estiveram no seu clube homens da envergadura moral e cívica como mestre Cândido de Oliveira.
Já agora, e uma vez que novamente traz à baila a "hegemonia" do futebol português - já uma vez ou duas lhe disse da minha alergia à palavra, que me faz sempre lembrar aquele senhor austríaco de bigode que mandou na Alemanha durante uns tempos - sempre lhe digo, e permita-me esta maldade, que a mesma também só durou pouco mais que década e meia, uma vez que terminou para finais dos anos 70 (acho que terminou com os campeonatos ganhos pelo FCP em 1977 e 1978), sendo a partir daí e durante a década seguinte repartida, com 2 campeonatos ganhos prelo SCP e os restantes repartidos por SLB e FCP, sendo a partir dos anos 90, definitivamente portista, para mal dos meus pecados.
Podemos então dizer, que se a estratégica do SLB em fins dos anos 50 que cita, deu resultados, parece que a do FCP com Pinto da Costa, deu bastante mais frutos.

Abraço

JC disse...

Apenas uma nota: basta ir ao Facebook, Twitter e "blogs" para perceber o que digo. E acrescento: vejo, nos últimos dias, da parte de portistas uma contenção, respeito e um recolhimento que não tenho visto vinda de mtºs sportinguistas. Talvez pq os portistas estejam habituados a ganhar. Peço desculpa, mas não me apetece entrar em polémica.
Abraço

JC disse...

Já agora:
1. Nunca houve qq convite de Espanha (Barça ou Real Madrid eram os únicos possíveis) para a transferência de Eusébio. Por isso...
2. http://leaodaestrela.blogspot.pt/2014/01/eusebio-o-leao-africano-que-mudou-o.html

Vic disse...

1 - Já li o artigo. Não contem nenhuma mentira.
2 - Mesmo que contivesse alguma mentira, inverdade ou distorção da verdade, um blog não representa o universo sportinguista ou de quem quer que seja.
3 - No Facebook não li nada de anormal, não uso twiter e dos blogs leio muito pouco (e mesmo nada que tenha ligações políticas ou desportivas) porque geralmente as opiniões expressas raramente são isentas e não me interessam muito debates com origem em opiniões distorcidas.
4 - Não sei de quem Eusébio recebeu convites. Que os recebeu é público.

gps disse...

Os Sportinguistas estão mais indignados com o Eusébio como pessoa (pelas afirmações que proferiu em anos recentes) do que pelo facto de ter trocado o Sporting pelo Benfica.

Por outro lado, é verdade que o Benfica (que realmente tinha uma grande equipa e já tinha ganho uma Taça dos Campeões no período pré-Eusébio) teve a hegemonia nos anos 60 e 70, mas nunca alcançou o Tetra (como os 5 violinos) nem o Penta (como o FCP)