Vejo mais uma vez os "media" carpirem mágoas pela fraca prestação das equipas portuguesas na Liga Europa. A questão não é de agora e se espelha bem o desnível entre FCP, SLB, em menor conta, também SCP e SCB e os restantes, é também demonstrativa da distância que separa as PME (pequenas e médias equipas) portuguesas e igual categoria da maior parte dos outros países europeus. E a explicação até é bem simples.
Ora tendo o futebol origem no operariado das cidades industriais do século XX e aí se tendo desenvolvido, Portugal foi, até quase ao final desse século, um país rural, fruto de uma incipiente e tardia industrialização, sem cidades de média dimensão dignas desse nome que pudessem constituir a "massa crítica" necessária ao crescimento dos clubes "da terra". Mesmo a maior parte das indústrias que estavam na base de alguns clubes populares nos anos 40 e 50 do século passado, como o Leixões, VFC (Setúbal), Sp.Covilhã e poucos mais (não falo dos "urbanos" Atlético CP e Clube Oriental de Lisboa, nascidos na então cintura industrial de Lisboa) soçobraram na segunda metade do século, tendo apenas resistido o VSC (Guimarães), numa cidade que, ao contrário de uma Setúbal "assaltada" por migrações internas que a descaracterizaram no período áureo da sua industrialização (anos 60 e 70 do século XX), conseguiu manter alguma identidade social e cultural. Não é pois de admirar que SLB e SCP se tenham tornado clubes nacionais (uma espécie de "catch all parties" do desporto) e o FCP, mais tarde, clube de toda uma região. Com a terciarização da sociedade portuguesa, nos finais do século passado, muitos desses clubes foram, com o apoio autárquico, substituídos por outros em aglomerados urbanos onde o futebol tinha menor ou nenhuma tradição; um caso emblemático é a substituição do Varzim SC pelo Rio Ave FC, um clube sem grande apoio popular e quase totalmente dependente e sustentado pela respectiva câmara municipal. Em certa medida, alguma subalternização do VSC face ao seu rival de Braga também se insere neste processo. Ora é esta falta de dimensão e apoio popular, com raízes históricas bem definidas, que torna essas PME portuguesas incapazes de competirem "de igual para igual" com a maioria das suas congéneres europeias, salvo um fogacho "aqui e ali". Exemplo? Bastava olhar ontem para a bancada da Amoreira e ver umas largas centenas, ou até mais de um milhar, de adeptos do SC Freiburg apoiando a sua equipa. Simples: a cidade tem 230 000 habitantes (mais ou menos a população do Porto) e o Estoril-Praia não passa de um clube artificial, fundado pela Sociedade Estoril-Plage, sem qualquer suporte popular na região.
É este o quadro e, para ser honesto, em tempos de crise que está para durar e limita o apoio financeiro autárquico, não me parece tal quadro possa vir a sofrer modificações substantivas. Até porque a substituição desse mesmo apoio autárquico pela dependência dos chamados agentes FIFA (vulgo, empresários), como o prova a história recente do FC Paços de Ferreira, não está também isenta de riscos.
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