sexta-feira, novembro 22, 2013

Duas notas sobre o ontem e uma sobre o anteontem

  1. Em democracia, e independentemente das razões que lhes possam assistir, gosto pouco ou nada de ver as forças de segurança infringirem a lei. E refiro-me tanto aos que subiram a escadaria da Assembleia da República, como aos que o permitiram. Aliás, em democracia gosto também muito pouco de ver as forças de segurança manifestarem-se frente a um parlamento eleito pelo voto popular e onde têm assento representantes de todas as forças políticas, apoiantes do governo e da oposição, às quais os portugueses reconheceram competência para os representar. É que não estamos a falar das sedes do governo ou da Presidência da República... Por isso mesmo, penso ser indispensável que esse mesmo parlamento chame urgentemente à sua presença o Ministro da Administração Interna e lhe exija explicações e responsabilidades pelo que se passou. E deveriam ser os próprios partidos da maioria os primeiros a fazê-lo.
  2. Cavaco Silva deveria demitir-se? Bom, não simpatizando nem um bocadinho com o personagem, pessoal e politicamente, e reconhecendo que a sua única preocupação é sempre "sair bem na fotografia" (o resto "que se lixe"), não penso, apesar do seu apoio declarado a este governo, exista neste momento forte razão para tal. Mas atenção: desde o célebre "caso das escutas" (isto de os portugueses terem a memória curta!...), quando, a partir do cargo que ocupa, conspirou abertamente contra o governo legítimo da República, pondo ele próprio em causa o "normal funcionamento das instituições" do qual jurou ser garante, que Cavaco Silva deveria ter sido demitido do cargo que ocupa, do qual mostrou ser indigno e para o qual mostrou não ter qualidades. Pois é, quem poupa os seus inimigos às mãos lhe morre, e Mário Soares devia ser o primeiro a sabê-lo.
  3. Demasiada modéstia pode (e eu até acho que deve) ser confundida com soberba ou, no mínimo, com demonstração de superioridade moral. De qualquer delas, devo dizer gosto pouco. Ou nada. Em política, arrisco-me a dizer tal possa ser também conotado com manifestação de populismo. Por isso mesmo, e embora reconhecendo o mérito do seu papel na normalização democrática do país, não me junto aos que tecem loas a Ramalho Eanes pelo facto de ter recusado aquilo a que legitimamente tem direito pela sua carreira política e militar. Muito menos manifesto louvor pela sua tão apregoada "modéstia" ao recusar comparecer à homenagem que alguns resolveram prestar-lhe. Acho mesmo, com este tipo de comportamento, Ramalho Eanes, um político que ocupou o mais alto cargo da República, se arrisca a ver o seu nome juntar-se à "campanha anti-políticos em curso", tornando-se mesmo dela uma espécie de emblema. Nada, contudo, que não me faça lembrar o infeliz episódio do PRD e os valores que estiveram na sua génese. É que as pessoas não mudam assim tanto...

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