quarta-feira, fevereiro 27, 2013

Soares dos Santos, os partidos e as eleições


Ora vamos lá ver... O objectivo dos partidos políticos é conquistarem o poder. Numa democracia liberal é conquistarem-no através do voto. Por isso mesmo, pretender que os partidos políticos deixem de se preocupar com as eleições é pretender que abdiquem de si próprios, do seu objectivo e da finalidade para o qual existem e foram criados. No fundo, seria o mesmo que pedir à Jerónimo Martins e aos seus dirigentes que deixassem de se preocupar com os seus lucros, com a sua rentabilidade, com a sua facturação, a sua quota de mercado e os seus clientes, nos quais me incluo por reconhecer as empresas do grupo JM me prestam um bom serviço. Acho que Alexandre Soares dos Santos, que tem tanto de bem sucedido empresário como, aparentemente, de mau intérprete do fenómeno político, para além disso demonstrando uma vontade doentia de dar nas vistas, nunca teria pretendido tal coisa acontecesse nas suas empresas, e o seu sucesso empresarial é prova eloquente de quais terão sido as opções que orientaram a sua vida nessa área. 

 O problema não está, portanto, no facto dos partidos políticos se preocuparem com as eleições (ainda bem que assim é: não existir essa preocupação significaria ditadura), mas sim no facto dos eleitores não os penalizarem suficientemente com o seu voto sempre que vendem "gato por lebre", isto é, quando fazem promessas manifestamente incumpriveis e/ou não cumprem, no essencial, com os seus programas políticos. O problema está, pois, e fundamentalmente, no lado do "comprador"/cidadão (vamos designá-lo assim) e não do lado do partido/"vendedor". O que aconteceria, por exemplo, se Alexandre Soares dos Santos vendesse produtos de má qualidade, a preços não concorrenciais e recorresse a publicidade enganosa? Os consumidores, certamente, optariam por efectuar as suas compras em qualquer outro lado, o grupo Jerónimo Martins acabaria na falência e quiçá Soares dos Santos beneficiário do RSI. Compete pois aos eleitores terem atitude semelhante em relação aos partidos políticos: se em algum ou alguns deles se não reconhecem, penalizem-no(s) votando noutro, abstenham-se, organizem novos partidos ou associações políticas para concorrerem a eleições e por aí fora. As derrotas eleitorais conduzirão necessariamente o(s) partido(s) penalizado(s) a reverem os seus métodos, com o perigo de se tornarem residuais se o não fizerem. O mundo está disso cheio de exemplos e - já que é oportuno - a implosão do sistema partidário italiano do pós-guerra e a ameaça presente de nova implosão aí estão para o provar.

Quanto a Alexandre Soares dos Santos, estamos uma vez mais perante um dos actuais péssimos exemplos de bons empresários que acham é apenas necessário exportar essa sua experiência para a realidade do país para, qual varinha mágica, transformarem o mundo na terra do leite e do mel. Fazer compras no Pingo Doce e não ler nem ouvir o que diz será a melhor resposta.

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