terça-feira, fevereiro 26, 2013

"L'Italia non s'è desta"

Não, esqueçam, o que mais me espanta nas eleições italianas não é a dimensão do voto de protesto consubstanciado nos 25.5% de Beppe Grillo, um fenómeno já estudado, que pouco ou nada traz de novo e que, de uma maneira ou de outra, com esta ou outra forma, se tem repetido por quase toda a Europa. O que também não me espanta é a fraca votação do partido de Mário Monti (10.5%), já que fenómeno semelhante atingiu o PASOK, um partido com uma história, tradição (para o bem e para o mal) e inserção na sociedade grega que nada tem a ver com o recém-chegado Monti. O que não deixa de me espantar (e não conheço suficientemente bem a sociedade italiana para encontrar um explicação competente, embora sejam reconhecíveis algumas causas) é que a direita italiana, tradicionalmente católica e durante décadas representada por um genuíno partido democrata-cristão, se reveja sistematicamente em alguém com o perfil político e pessoal de Sílvio Berlusconi. No fundo, juntando num molho estas três componentes, parece-me estarmos muito perto da tempestade quase perfeita ou, melhor dizendo, perante a agonia da democracia liberal tal como a conhecemos, pelo menos nos anos do pós-guerra. Prova-se assim que a austeridade sistemática e recessiva não é compatível com a democracia? Digamos que pelo menos o risco é enorme, mas desiludam-se os que pensam o perigo vem apenas daí: como o provam estas eleições italianas, o mal é bem mais vasto e profundo e a austeridade recessiva apenas  se limita a acelerar-lhe o crescimento.

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