domingo, fevereiro 24, 2013

Ainda o PS e os manifestantes do ISCTE

Penso não ter sido apenas o tão apontado medo de que tal lhe viesse a suceder no futuro, uma vez governo, que levou à quase violenta rejeição do PS - nas palavras de Augusto Santos Silva e Francisco Assis, principalmente - dos acontecimentos do ISCTE. Embora não me repugne acreditar que muita gente no partido esteja imbuída de uma visão conservadora da sociedade e das suas dinâmicas, que também exista na geração actual de políticos socialistas alguma (para não dizer muita) falta de cultura política e de conhecimento dos movimentos sociais, principalmente de um ponto de vista histórico, a imediata reacção do PS teve também um objectivo essencial: travar aqueles que, no partido, advogam acordos com o PCP e o BE e estabelecer pontes com alguns sectores da direita PSD e CDS menos entusiastas com o actual governo, lançando as bases de um qualquer futuro entendimento pós-2015. 

O que é curioso e talvez tenha surpreendido o PS, deixando bem à vista algum "déficit" de conhecimento e preparação políticos dos seus dirigentes e expondo um taticismo de vistas demasiado curtas que pode vir a penalizar o partido, é que, se excluirmos o apoio entusiástico do BE aos manifestantes, foi de alguns sectores liberais à direita, mais intectualizados e, em medida desigual, de algum modo críticos ou nem sempre concordantes com o governo de Passos Coelho, situação bem expressa nos comentários de Lobo Xavier e Pacheco Pereira na "Quadratura do Círculo" e no artigo de Martim Avillez Figueiredo no Expresso de ontem, que se fizeram escutar as palavras mais moderadas e até de alguma compreensão ou apoio ao modo escolhido pelos estudantes do ISCTE para manifestarem o seu desagrado para com as políticas governativas, recusando mesmo e de imediato ver nessa atitude qualquer ameaça à liberdade de expressão. O contraste com a reacção de António Costa na "Quadratura do Círculo" foi mesmo, e de algum modo, chocante, o que me leva a afirmar que o PS terá de ser mais cuidadoso no conhecimento da sociedade em que vive e no modo como estabelece as suas pontes para com possíveis aliados futuros.

1 comentário:

Unknown disse...

Actualmente, os maiores riscos para a liberdade de expressão, não decorrem destas manifestações (mais ou menos folclóricas, diga-se…) mas desta comunicação social vergonhosa, impregnada pelo jornalismo esquerdista:

http://jornalismoassim.blogspot.pt/2013/02/o-wishful-thinking-das-redaccoes-vs-o.html