Penso que a importância da renúncia de Joseph Ratzinger ao lugar de Papa está longe de se restringir à Igreja Católica ou a quaisquer outras confissões religiosas, cristãs ou não cristãs. Se tivermos em conta e a ligarmos à recente abdicação da rainha Beatriz da Holanda (penso que em plena posse das faculdades necessárias para o exercício do cargo) e as cada vez maiores pressões para que Elizabeth II tome idêntica atitude, o que estes gestos, no seu conjunto, revelam é o cada vez maior anacronismo entre os cargos políticos de natureza vitalícia, outorgados tradicionalmente (embora hoje em dia poucos o invoquem) por direito divino ou inspirados por entidade transcendental, e uma sociedade cada vez mais laicizada, onde a racionalidade e a ciência - logo, também a democracia - assumem importância decisiva. Que a decisão de renúncia venha de um Papa tido como o mais racional de entre os mais recentes, não pode pois surpreender e por certo as ondas de choque da sua decisão irão ser sentidas durante muitos anos e em muitos mais lugares da terra do que aqueles onde a Igreja de Roma exerce influência maioritária. No fundo, em em saudável contraste com o seu antecessor, estamos perante uma vitória da razão sobre a fé, o que, como não crente, não posso deixar de saudar.
1 comentário:
Eu sempre concordo com a diversidade de pensamento. Eu realmente não sou político, sou empresário, tenho uma empresa de ração para cachorro. Mas às vezes eu fico a pensar sobre a diversidade cultural no país. Eu realmente gosto do país.
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