segunda-feira, dezembro 26, 2011

As iluminações de Natal, o investimento público e a economia doméstica

Penso que nada mais claro para se perceber que a economia de um país não é propriamente o mesmo que a de uma família do que esta notícia. As habituais iluminações de Natal nas cidades (pequenas, grandes e médias) geraram o aparecimento de muitas empresas - de, vamos lá, um "mini-cluster" -, que se dedicam à sua sua concepção, montagem e manutenção. Digamos que são empresas em que o trabalho sazonal, no Natal, terá impacto significativo nos seus resultados anuais. De repente, por causa da crise as autarquias reduziram radicalmente o seu habitual investimento nesta área, deixando muitas dessas empresas à beira da falência, em condições de viabilidade económica questionável e muitos dos seus trabalhadores e donos (a maioria serão pequenas empresas de âmbito local) sem trabalho ou rendimentos. Portanto, aquilo que parecia ser uma decisão lógica e sensata do Estado (neste caso das autarquias), cortando o investimento numa área considerada supérflua em tempo de dificuldades financeiras, acaba por ter como consequência, não só um agravamento da recessão económica, com a subsequente queda dos impostos cobrados,como o facto do Estado acabar por vir a ter de pagar, através do subsídio de desemprego  e outras prestações sociais, uma parte daquilo que teoricamente poupou ao decidir cortar o investimento autárquico em algo que terá considerado (e bem, em termos teóricos) como supérfluo. Não falando, para já, das possíveis consequências sociais da sua decisão.

Claro que isto não significa que o Estado (central e local) não deva equacionar bem os seus investimentos e evitar o desperdício nesta e em quaisquer circunstâncias. Muito menos que devesse ter mantido intocável a sua habitual, a nível autárquico, despesa nas decorações e iluminações de Natal. Significa apenas que Estado e economia doméstica são coisas muito diferentes, nas implicações das decisões tomadas e nas respectivas consequências, que nem tudo o que parece é e que, portanto, antes de se tomarem decisões é necessário equacionar muito bem quais virão a ser os seus reflexos políticos, económico-financeiros e sociais. É bom que não se brinque de aprendiz de feiticeiro...  

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