domingo, dezembro 18, 2011

Passos Coelho e Relvas, ou como gerir a comunicação de forma desastrosa

Se a política tem horror ao vazio, a comunicação política não é a tal critério estranha. Quando um responsável político decide desdobrar-se em entrevistas, discursos, comunicações e "ofícios correlativos" sem que nada o justifique, isto é, sem ter nada de relevante e/ou novo para comunicar, o mais certo é que, no meio de banalidades várias destinadas a ocupar espaço e tempo, acabe por emitir, aqui ou ali, algum juízo ou "soundbite" de que tenha de vir a arrepender-se. No mínimo, e essa é a menos má das hipóteses, que o seu discurso se torne inútil por banalização ou repetição das ideias e conceitos. Mais ainda se tal político não for exímio na organização da sua comunicação, ou não tiver conselho eficaz.

Tivemos hoje disso dois bons (maus) exemplos. Um deles quando Pedro Passos Coelho, à falta de matéria relevante, se deixou enveredar pelo tom de amena cavaqueira e decidiu aconselhar os professores portugueses a emigrar. A emigração será para esses cidadãos uma boa ou até, talvez, a melhor opção nas condições actuais? É bem provável, mas compete a um primeiro-ministro governar tentando assegurar aos governados as melhores condições de vida no país onde nasceram e/ou onde vivem, demonstrar que um futuro melhor é possível e mobilizar para tal os cidadãos, e não declarar-se para tal impotente optando, como prioridade, por tentar descartar-se dos seus compatriotas. Estamos, pois, perante um erro político de enormes proporções e consequências imprevisíveis para Pedro Passos Coelho, que não é propriamente um político principiante mas não resistiu ao fascínio do microfone.

O outro, vindo do ministro Miguel Relvas, quando, numa altura festiva em que os portugueses já viram diminuídos os seus rendimentos habituais, nada de melhor e mais positivo ter encontrado para dizer aos cidadãos do que lembrar que 2012 "será um ano extraordinariamente difícil", algo de que os portugueses já têm consciência plena e de fresca data sem que fosse necessário um ministro vir mais uma vez lembrar-lhes, acentuando o clima recessivo. É verdade? Claro que sim, mas saber gerir a comunicação deverá ser um dos principais atributos de um político (e Relvas é o mais político dos ministros, convém lembrar) e, ao contrário de um mito que tendeu a fazer carreira em Portugal nos últimos tempos, a verdade nem sempre é boa conselheira. Mais: é mesmo, muitas vezes, bastante inconveniente. Ouviu, ministro Miguel Relvas? 

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