quarta-feira, dezembro 07, 2011

De como José Sócrates tem apenas 1/2 razão

José Sócrates tem razão numa coisa: as dívidas (dos pequenos países) gerem-se, nunca são para pagar de uma vez. Todos aprendemos isto na nossa vida diária e pessoal quando, por exemplo, vamos amortizando a dívida dos nossos cartões de crédito à medida das disponibilidades de cada momento. Há uma ou duas gerações, na minha família (e o exemplo é comum a muitas outras), era normal existir uma conta no alfaiate e outra nos Monteiros ou nos Pinheiros, que vendiam fazendas, contas que o meu pai ia amortizando mensalmente (não me lembro se na Camisa d'Ouro, do Sr. Agostinho, também havia). E de cada vez que precisávamos de recorrer aos serviços do "mestre", lá perguntávamos ao meu pai se podíamos "pôr na conta" ou se era melhor esperar mais umas semanas. Não me lembro de alguma vez a conta ter estado a zero, nem de o meu pai não a ter sabido gerir a contento de credor e devedor. Sistema mais ou menos semelhante existia para a compra de carro, pago a três anos e trocado por outro ao fim desse tempo (ou pouco mais). Como os riscos de não pagamento eram praticamente inexistentes, as coisas funcionavam assim, muitas vezes num sistema apenas apoiado na confiança e conhecimento pessoais de longa data.

Mas José Sócrates já não tem razão numa outra coisa, que definitivamente o penaliza: é que, ao contrário do exemplo pessoal que cito, geriu mal a dívida, continuando a endividar-se quando já nada o aconselhava e as consequências, nefastas, estavam à vista de todos. Verdade que não tem de tal coisa o exclusivo e está mesmo muito bem acompanhado; até talvez o tenha feito com boas intenções; mas como foi quem teve de se declarar incapaz de solver os seus compromissos, a História pode bem ser capaz de lhe vir a ser cruel.

2 comentários:

Anónimo disse...

1/2 razão e um descaramento ímpar.
O descontrolo em que ele colocou o país (claro que os anteriores também têm culpas no cartório) o nivel de endividamento em que nos colocou, as mentiras que foi contando e o displante e arrogancia...colocam esta figura como uma das mais sinistras que (des)governou portugal.
Quanto às dividas públicas...são para ir pagando...dentro de certos limites.

E como não há almoços grátis...pagaremos com uma violenta austeridade, uma brutal recessão e muito provavelmente uma crise social (que não creio seja pacifica) a tal "brincadeira de crianças".

Cumprimentos

JC disse...

Ora vamos lá... Não sou um adepto de JS, mas tb não acho o possamos classificar como sinistro. O seu 1º governo fez inclusivamente algumas reformas importantes na saúde e educação (p. ex). Tentou outras, mas aí JS não teve nem coragem nem força política e recuou. E cometeu erros, como a história do novo aeroporto, novas auto-estradas e rede TGV (sempre discordei das 2 primeiras e no TGV sempre estive de acordo apenas c/ a ligação LX-MAD). Começou aí o desastre. Veio então a crise e JS perdeu o pé, embora as hesitações iniciais da UE tb tenham tido a sua quota-parte de responsabilidade. Há demasiada emotividade na apreciação de JS, que deveria ser substituída por uma maior racionalidade. Guterres, Barroso e Santana (respectivos governos, claro) foram piores governantes que JS( leia-se, que o seu 1º governo), pelo menos se os compararmos c/ os primeiros 2 ou 3 anos de JS, que apanhou a pior crise económica desde 1929. As suas responsabilidades são evidentes, não as branquei-o, mas, como disse, há que introduzir alguma racionalidade na avaliação.
Cumprimentos