Costuma dizer Luís Freitas Lobo - e neste caso até estou de acordo com ele - que quando um clube contrata um treinador contrata também uma determinada ideia de jogo, isto é - e agora acrescento eu - um conjunto de procedimentos (princípios, modelo e sistema de jogo) que norteiam e enquadram as acções de jogadores e equipa durante o jogo. Por exemplo, o que devem fazer jogadores e equipa nos principais momentos do jogo, como atacam e como defendem, como se posicionam os jogadores em campo, quais as características que cada um deles ter, etc, etc. Jorge Jesus leva este conceito de ideia de jogo a um extremo; a um ponto tal que quando não possui no plantel um jogador adequado, com as características que bem entende para se enquadrar nessa sua ideia, não hesita em adaptar alguém, mantendo a ideia em vez de a alterar, por muito pouco que seja, em função dos jogadores que possui. Por isso mesmo, também é avesso a dar oportunidades a quem nela mostra não poder caber, com isto empurrando tantas vezes jogadores com qualidade para fora do plantel. No SLB, por exemplo, tivemos, como casos mais emblemáticos e bem sucedidos, as adaptações de Coentrão, Matic (um 8/10 de origem), Enzo Perez e Pizzi a funções que não eram originalmente as suas.
Se olharmos para o FCP de Lopetegui (acho não me enganei no nome), também ninguém hesitará por um momento que seja em dizer como joga a equipa, tão clara é a ideia de jogo perfilhada pelo treinador basco, e não sei mesmo se a dispensa de Quaresma, de quem não sou particular admirador, não tem também um pouco a ver com esta questão.
Ora o que mais preocupa no meu SLB, depois de vistos estes três primeiros jogos, é não vislumbrar ainda na equipa uma ideia clara de jogo, mostrando Rui Vitória bastantes hesitações na sua tentativa de combinar a herança de Jorge Jesus com a tal maior segurança de jogo e preocupação com o equilíbrio defensivo de que a equipa sempre necessitou e necessita. É isto, mais do que a equipa "jogar bem ou mal" (o que não digo não seja importante), que me deixa um pouco desconfiado e de olho alerta. Digamos que, para já, o mais importante é Rui Vitória demonstrar que tem personalidade e sabe o que quer para a equipa, e isso, ao fim de três jogos, tarda em ser claro, parecendo-me o treinador um pouco perdido na tentativa de conciliar o que parece ser pouco conciliável. Mas posso e espero estar enganado
Nota: Em muitos anos a ver "bola" já sou muito pouco ou mesmo nada entusiasta dos que costumo designar por "craques de pré-época". Isso não me impede, contudo, de perguntar, com todos os cuidados e ressalvas em relação a quem ainda não provou no futebol "a sério", se não vale a pena pensar em como enquadrar no plantel um jogador como Dujricic. Se fosse dirigente ou treinador do SLB gastaria um minutos a pensar no assunto.