segunda-feira, abril 21, 2014

SLB: 3 razões de fundo para um título

  1. Mesmo no futebol actual, por si só o investimento não faz de um clube muitas vezes campeão, nem consegue resultados desportivos consistentes e sustentáveis. São necessárias mais coisas: "heritage" (o conjunto de valores que constituem o património do clube), uma ideologia e filosofia vencedoras, uma "massa adepta" representativa, um modelo de negócio adequado, organização, uma política coerente de recrutamento e selecção (incluindo aqui a escolha do treinador), uma ideia de jogo compatível, etc, etc. Por fim, até uma situação geral - económica, política e social - favorável joga muitas vezes um papel determinante, como foram os casos do Vitória Futebol Clube no final dos anos 60 e início de 70 e do FCP no período pós-25 de Abril. Mas tendo dito isto, sem investimento adequado aos resultados que se pretendem atingir também não existem campeões nem esses resultados são prolongáveis no tempo.  E existindo em doses variáveis tudo o resto, convém notar que o SLB apenas conseguiu inverter a sua menorização em termos de resultados desportivos quando decidiu investir ao nível do FCP. Este é um facto incontroverso, que está na génese de tudo o resto e uma decisão que tem a sua origem nas  últimas direcções do clube presididas por Luís Filipe Vieira. Com erros, hesitações, aprendizagem no tempo, algum populismo pernicioso que parece nos últimos tempos afastado e tudo o resto, claro. Mas, goste-se mais ou menos do personagem, o seu a seu dono.
  2. O modo como a SAD do clube aprendeu a mover-se no complicado mundo dos "fundos" de jogadores e das influências dos empresários constitui também uma das razões que está na base da melhoria dos resultados desportivos do futebol profissional. Neste campo, a aproximação a Jorge Mendes (uma vez mais: goste-se ou não do personagem) e o aproveitamento da influência deste junto de grandes clubes europeus jogou um papel fundamental. Por vezes, com demonstrações de alguns excessos de poder da parte de Jorge Mendes em algumas "sobras" que teremos tido que engolir, reconheço. Mas teria sido possível diferente? Não estando "do lado de dentro", não sei. Mas parece difícil.
  3. Embora muitos benfiquistas (não é o meu caso: é assunto que não me diz nada) não gostem de ver tão poucos jogadores portugueses no plantel, devo dizer essa é uma das razões do sucesso. Porquê? Em primeiro lugar, porque o chamado "mercado interno" foi e é um terreno de domínio tradicional do FCP, onde era e continua a ser difícil ter vantagens competitivas. Em segundo lugar, porque as últimas contratações por FCP e SCP de alguns dos "jogadores revelação", portugueses ou estrangeiros, do campeonato português (Josué, Licá, Carlos Eduardo, Vítor) se têm revelado autênticos "flops" (ou perto disso). Em compensação, contratações como as de Di Maria, Witsel, Javi Garcia, Matic, Fejsa, Siqueira, Garay, Rodrigo, Gaitán, Enzo, Maxi, Luisão, Sílvio (apesar de português, é uma contratação no "exterior"), David Luiz, Ramires, Markovic, Oblak, etc, provam, apesar de alguns falhanços inevitáveis, que o clube se movimenta bem nesta área. Veremos como as coisas irão evoluir, mormente na área da formação. No entanto, um aviso: com excepção do FC Barcelona, que mesmo assim também contrata jogadores pagando milhões inatingíveis por qualquer clube português, nenhum clube europeu consegue manter-se sistematicamente no topo (ao seu nível, claro) apenas ou fundamentalmente com recurso à formação. 

2 comentários:

gps disse...

Eu percebo o ponto 3, mas há aí algum facciosimo :)

Pois indica "Josué, Licá, Carlos Eduardo, Vítor", mas poderia ter dito outros 2 jogadores que vieram do Estoril: Steven Vitória" (que fracassou no SLB) e Jefferson (que apesar de brasileiro triunfou no SCP)

gps disse...

Refere que o "mercado interno" foi e é um terreno de domínio tradicional do FCP", o que não tem sido verdade em anos mais recentes (como prova a contratação de jogadores como Danilo, Mangala, Otamendi, Alex Sandro, James, Falcao, Jackson, etc.)

O FCP falhou nesta aposta no mercado nacional como falhou há 5-6 anos quando contratou jovens promessas como Rabiola, Orlando Sá ou Pelé.

Ou seja o real problema do FCP não foi apenas o falhanço na aposta no mercado nacional, mas sim o falhanço no aproveitamento de quase todas as novas contratações, inclusive as do mercado internacional (ao contrário do que sucedia no passado)