Se a guerra e os interesses coloniais dos grupos económicos de então, que, convém recordar, não se constituíam num grupo homogéneo nesses seus interesses e objectivos, são os elementos essenciais que impedem em Portugal uma transição "à espanhola" e acabam por trazer as forças armadas para a rua (não poderia existir democracia sem o fim da guerra), a questão não se esgota aí e podemos considerar pelo menos mais duas causas determinantes para o modo diferenciado como se processaram as transições democráticas nos dois países ibéricos. Em primeiro lugar, existia na estrutura empresarial da Espanha de então, fruto da pujança adquirida com o grande desenvolvimento económico dos anos 60 e da existência desde sempre de uma "burguesia industrial" com alguma autonomia e que "piscava o olho" à Europa, uma correlação de forças mais favorável do que a existente em Portugal a um "arejamento" e a uma "abertura" política do regime, estrutura essa que foi posicionando os seus representantes nas instâncias do poder e se limitou a esperar pelo momento de maior fraqueza dos "ultras" do regime proporcionado pela morte do "caudillo". Em segundo lugar, a existência de um Chefe de Estado (o Rei) escolhido por Franco e vindo do interior do regime que, até por necessidade de sobrevivência da própria monarquia, foi capaz, com os seus mais próximos e mesmo que à custa da legitimidade de seu pai, D. Juan de Borbón, de manobrar com os vários sectores de dentro e de fora do franquismo e estabelecer-se como um certo elemento de garantia para as forças em presença, o que veio a revelar-se determinante e marca também ela uma diferença significativa face ao caso português. Talvez fosse bom que alguns dos que gostam de rescrever a História, à sua medida, pensassem um pouco sobre isto nos 40 anos do 25 de Abril.
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