É sabido que em qualquer comunicação política (e não só), mais ainda numa entrevista, normalmente com tendência para cobrir um maior número de temas e com o risco de se tornar numa espécie de "conversa de café", a grande maioria dos ouvintes/espectadores não consegue reter mais de uma ou duas (vá lá, três, para ser pouco rigoroso) imagens ou ideias-chave. Quem conhece o que é normalmente referido sobre o célebre debate Nixon/Kennedy, uma espécie de acontecimento fundador do debate político moderno, sabe que o que foi sempre tido como elemento-chave para o derrota de Nixon foi a sua imagem tensa, cansada, o suor a escorre-lhe na testa face à jovialidade e ao ar descontraído de John Kennedy. Que me lembre, nunca vi citado qualquer elemento do conteúdo político do debate como causador fundamental da derrota de Richard Nixon no debate e nas eleições que se lhe seguiram.
Assim sendo, atribuo pouco ou nenhuma importância às habituais análises jornalísticas que se seguem a esses debates e entrevistas políticas, onde cada segundo, cada inflexão de voz, cada opinião expressa e cada palavra, são analisados até à exaustão. Já uma vez aqui o disse, seria bem mais útil e rigoroso efectuar uma sondagem "a posteriori" junto dos cidadãos indagando sobre o que tinham retido da comunicação e sobre o modo como isso tinha influenciado a sua opinião sobre o político em causa e sobre a manutenção ou mudança da sua intenção futura de voto. Claro que também seria bastante mais caro, mas susceptível de dar a entrevistadores e, principalmente, a entrevistados matéria mais do que suficiente para correcções futuras.
Tendo dito isto, que ideias-chave posso retirar da entrevista de ontem ao primeiro-ministro, valendo tal apenas como opinião pessoal e que, portanto, pode ser muito diferente da que resultaria de um inquérito estruturado efectuado por profissionais junto de uma amostra significativa de cidadãos? Essencialmente duas/três: que não existirão cortes adicionais nos ordenados e pensões, embora uma parte dos cortes já efectuados venha a tornar-se definitiva; que talvez em 2016 seja possível repor uma parte do que já foi cortado; e que não existe qualquer promessa/garantia de uma redução do IRS em 2015. Pergunta: e de que modo tal modificou a minha opinião sobre Pedro Passos Coelho e influenciou a minha decisão de voto nas próximas eleições europeias? De modo nenhum: a minha opinião sobre o actual primeiro-ministro manteve-se e o meu voto futuro não passará certamente pela actual coligação.
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