A geração anterior àquela que agora anda pelos trinta e tais ou quarenta anos e recebe as reformas a que tem direito foi a que fez a guerra colonial, viveu durante vinte a tal anos num país pobre, atrasado, sem liberdade e conservador até à medula, do qual se envergonhava. Governado por uma ditadura que impunha valores retrógrados que em nada, mesmo nada, se identificavam com o que se passava no mundo das novas vidas e ideias, em mudança acelerada nas décadas de sessenta e setenta. Um país de onde milhões foram obrigados a emigrar. Onde muitos dos que ficaram nunca saíram da sua aldeia ou da pequena cidade de província onde nasceram, excepto para irem para o quartel e depois para a guerra. Onde existia censura e não se podiam comprar os livros que se queriam ler nem os filmes que se queriam ver. Onde, mesmo para os privilegiados que tinham condições económicas para o fazer, não era fácil fazer uma viagem além Pirinéus, a fronteira da civilização. Onde o desemprego talvez fosse baixo, mas ao preço de ordenados perto ou para além da indignidade e de condições de trabalho de extrema dureza. Enfim, cara geração dos trintas e tais quarenta anos, como podem fomos ver uma geração privilegiada...
2 comentários:
Quando se fala da geração priveligiada, está geralmente a referir à geração pós 25 de Abril, ou seja, aquela que tinha entre 15 e 20 anos em 1974, ou seja, aquela que está neste momento está a entrar em idade de reforma. Esta geração apanhou um ciclo de crescimento único no país (finais de decada de 80 e decada de 90)muito baseado no influxo de capital da UE e no acesso facil a dívida já nos finais dos anos 90 e 2000.
Parece-me normal, que esta geração quando olha para o futuro e vê os 20 ou 30 anos que tem à frente, onde todo a riqueza adicional gerada servirá apenas para pagar um insuportável custo da divida ou mesmo a prespetiva de um default que irá implicar mais uns quantos anos sem acesso a dívida e com contração da riqueza, e pense que o seu futuro foi hipotecado por excessos da geração anterior. essa mesmo que foi privilegiada com uma época de crescimento, desemprego baixo, abertura á Europa, ... E aposto tudo em consumo e investimento em setores sem qualquer potencial ou retorno!
Curiosamente, a década de 60, e não as de 80 ou 90, foi o período de maior crescimento do PIB e de mais baixo desemprego em Portugal, com o chamado "modelo EFTA". E é a geração que fez o 25 de Abril (uma geração são basicamente 25 anos) que deixa à geração seguinte um país bem mais mais educado, mais livre e aberto ao mundo, mais cosmopolita, com muito melhores infraestruturas, com melhores condições de saúde para todos os seus cidadãos, com empresas melhor preparadas e mais competitivas, etc. Enfim, não negando o problema da dívida, que contudo era inferior a 70% do PIB antes da crise de 2008 (http://ruadaconstituicao.files.wordpress.com/2013/09/dc3advida-pc3bablica-1980-20131.png), nem tudo se resume, começa ou acaba nela.
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