Em política, quem está na oposição e não tem, porque não quer, não pode ou as circunstâncias o não permitem, uma estratégia alternativa à do governo e partidos no poder, e se limita a apresentar propostas avulsas, "indo a todas", arrisca-se a ver algumas dessas propostas "capturadas" por esse mesmo poder, esvaziando-se enquanto alternativa. No fundo, e se me permitem a comparação, para alguns talvez espúria, é como se uma marca baseasse as suas personalidade e distinção não num "posicionamento" único e inequívoco, facilmente identificável pelo consumidor, mas numa ou outra qualquer característica secundária fácil e rapidamente "copiável".
Ora é isto mesmo que se está agora a passar com a abertura demonstrada por Pedro Passos Coelho para o aumento do salário mínimo, proposta antiga dos socialistas, contando com o apoio do Conselho Económico e Social, e que o governo tenta agora esvaziar, quebrando um certo consenso existente do qual PSD e CDS se tinham auto-excluído. Sintomático do que digo, uma certa "aflição" de António José Seguro reclamando a paternidade da ideia e pedindo urgência na decisão, o que de pouco lhe servirá: o governo, com o apoio de uma comunicação social onde é quase hegemónico, só se for completamente inábil (e convenhamos que demasiadas vezes o é) não irá conseguir gerir os "timings" para si julgados mais convenientes e uma maioria dos eleitores não deixará de atribuir ao governo a iniciativa de tal medida. Para o PS, será mais uma oportunidade perdida, sobrando-lhe apenas a queixa infantil de que tinha sido ele o da "boa ideia".
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