"Blue Moon Of Kentucky" - Bill Monroe and His Bluegrass Boys
Confesso que pouco ou nada me interessa a efeméride assinalada com os trinta anos da morte de Elvis Presley. Ou dez, vinte, quarenta ou cinquenta (e etc), se lá chegar. Muito menos os disparates que oiço e leio nos media portugueses. A questão tem nula importância para a história do rock n’ roll e da música popular, estando, isso sim, muito mais ligada a fenómenos de religiosidade pagã comuns a muitas personalidades do show business, chamem-se Elvis, Eva Péron (a política, tal como Evita a encarava, também é, ou é principalmente, espectáculo) ou Carmen Miranda. Se, em Portugal, nada de semelhante se passou com Amália Rodrigues isso deve-se, talvez, ao facto de ter morrido já retirada e com idade respeitável, mas também, um pouco, ao 25 de Abril e às modificações muito rápidas a que ele deu origem na sociedade portuguesa durante as duas décadas seguintes. Aliás, existem semelhanças notáveis nos percursos de Elvis e de Amália, mormente o facto de terem tido carreiras relativamente longas, mas a sua importância na história da música popular (a níveis diferentes, evidentemente), bem como a qualidade da música por ambos produzida, se ter restringido a um período muito curto. Mas adiante...
Se quisermos assinalar a morte de Elvis Presley seria bem melhor escolher uma data como 24 de Março de 1958, dia em que “entrou para a tropa”. Ou também o dia em que deixou a Sun Records, de Sam Philips, e assinou contrato com a major RCA. Ou, ainda, o dia em que o célebre “Colonel” Parker se tornou seu manager e Elvis começou a deslizar do terreno do rockabilly e do rock n’ roll para o de vedeta do show business e do music-hall, algures entre Hollywood e Las Vegas. Isto, porque o contributo de Elvis para o nascimento do rockabilly, enquanto fusão do rock n’ roll dos negros (o termo era um eufemismo para o acto sexual) e do hillbilly dos brancos – com toda a importância sociológica que irá ter na luta contra o conservadorismo e a segregação racial na década seguinte – se restringe, fundamentalmente, ao período das suas gravações para a Sun e início do seu período RCA, onde as primeiras edições são, ainda, algumas delas, “fitas” compradas à Sun.
Elvis nasceu de facto a 5 de Julho de 1954 (data em que gravou “That´s All Right”, um blues de Arthur “Big Boy” Crudup, para a Sun), e morreu a 24 de Março de 1958, dia em que foi alistado na infantaria do tio Sam. Este é de facto o período que dá origem ao nascimento de uma nova cultura, e não apenas a uma nova música. Sejamos rigorosos e justos nas comemorações.
Alguns nomes e factos importantes:
A ouvir:
- “The Sun Sessions CD” (RCA) – inclui todos os originais de Elvis para a Sun, gravados em Memphis, Tennessee, entre Julho de 1954 e Julho de 1955.
A evitar:
- Tudo o que tenha a ver com as comemorações da sua morte, incluindo a grande maioria das referências nos media, bem como as gravações posteriores a 1958.
- Os filmes.
Outros nomes:
- Sam Phillips – proprietário da Sun Records, em Memphis, que gravou e editou os primeiros discos de Elvis Presley e foi um dos primeiros brancos a gravar música negra (Howlin’ Wolf, Junior Parker, etc).
- Dewey Phillips e WHBQ – foram o primeiro disk jockey e a primeira rádio a “passar” “That’s All Right” a 7 de Julho de 1954. Convém lembrar que foi a pujança e proliferação das editoras de discos e rádios locais, e a sua concorrência numa América em crescimento no período do pós-guerra, que esteve na base da divulgação da nova cultura "juvenil".
- Scotty Moore – primeiro manager de Elvis e guitarrista nas suas primeiras gravações.
2 comentários:
Olá,
Parabéns pelo artigo! Seria possível podermos publicá-lo na revista do nosso clube de fãs?
Cara Ana:
claro que sim, desde que citem a origem. E mtº obrigado pela visita e pelos parabéns. Ouvi-a ontem na rádio (não me lembro se TSF se RCP). Boa festa este fim de semana e felicidades para o clube.
JC
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