Pode não se gostar do estilo e eu não gosto; pode não se apreciar a personalidade e eu não simpatizo lá muito – dificilmente o contaria entre os meus amigos; pode achar-se que é um dos “pais do monstro” e do modelo de desenvolvimento e de sociedade que nos conduziu a esta situação desastrosa, e eu acho que tem nisso sérias responsabilidades; pode mesmo achar-se, e eu acho pois fui seu aluno, que as suas qualidades didácticas eram ténues embora lhe reconhecesse o valor científico - inequívoco. Por isso, não votei nele – mas também em nenhum dos outros – nestas últimas eleições, embora reconhecesse ser o único candidato credível para a conjuntura. Mas para quem, como eu, defende, há mais de dez anos, que uma vez normalizada e “civilizada” a democracia (o que, pode dizer-se, aconteceu com o fim da presidência de Mário Soares) o regime parlamentar puro seria o mais adequado e menos perturbador para o país e para a sociedade (o que muito irritava os meus amigos “à esquerda”, confiantes na tal “maioria sociológica”), Aníbal Cavaco Silva tem sabido ser, e parece pretender ser se a normalidade não for afectada, o Presidente mais “parlamentarista” de sempre, o que ficou bem patente na entrevista de ontem à SIC. Sim, eu sei que a conjuntura favorece que assim aconteça (desnecessário enumerar as razões), mas limito-me, com agrado e aprovação, a constatar o facto que vale por si. O que se passará no futuro entra no campo da especulação. Portanto, vale o que vale: pouco.
Apenas um reparo: a ocasião escolhida para a entrevista - porque em concorrência directa com a de PSL à RTP - pareceu-me muito pouco adequada, colocando-se o Presidente da República a "concorrer", em termos de audiência, com uma personalidade controversa e populista (é o mínimo), da nossa vida política, que o acusa de responsabilidades na queda do governo de que foi primeiro ministro. Um share menor do que o da entrevista de PSL será, no mínimo, embaraçante.
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