Juan Carlos de Espanha foi fundamental na transição democrática e na manutenção da unidade de uma Espanha plurinacional? Sim, sem dúvida que sim, e estamos perante uma constatação à qual poucos ousarão opor-se. Mas atenção, porque é preciso ir um pouco mais longe: ao fazê-lo, Juan Carlos assegurou também a continuidade e legitimação da monarquia espanhola, marcada pelo "ferrete" de ter nascido de um pronunciamento militar contra a legalidade republicana e de uma guerra civil que dividiu também as nacionalidades de Espanha. Só ao conseguir conjugar, simultaneamente, democracia e unidade plurinacional a monarquia poderia assegurar a sua legitimação e continuidade. E só ao sobrepor-se aos direitos dinásticos de seu pai, D. Juan de Borbón (e este a eles renunciando), personalidade em ruptura com o franquismo, Juan Carlos poderia assegurar pelo menos a neutralidade de alguns sectores do franquismo e construir assim uma base social de apoio mais ampla para a transição. Digamos que, politicamente, Juan Carlos e os seus mais próximos agiram de modo brilhante.
Aliás, ao abdicar agora em favor de seu filho e de uma plebeia inteligente e também ela bem preparada (o rei, no seu discurso de abdicação, não deixou de se referir a Letízia Ortiz e não terá sido por acaso), em tempos de crise do regime, da família real e da figura do rei, Juan Carlos tenta novamente assegurar aquilo que, para si, e logicamente, nunca deixou de ser fundamental e valor que coloca acima de todos os outros: a continuidade da instituição monárquica. Veremos o que o futuro nos reserva naquelas que foram, pelo menos durante o século XX, as questões-chave da política espanhola: a natureza republicana ou monárquica do regime e a unidade plurinacional do Estado.
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