Que mais haverá a dizer, neste momento, sobre a crise no Partido Socialista? Para já, que António Costa se deixou aprisionar - sem grandes protestos, diga-se - em duas armadilhas bem urdidas por António José Seguro.
- Em primeiro lugar, as tais "primárias"; que não fazem qualquer sentido - muito menos pela ordem "primárias", "directas", congresso" - e das quais, na base da apresentação de um programa populista e no facto dos seus homens dominarem uma boa parte das estruturas e direcção do partido, Seguro espera vir a tirar alguma vantagem. Mas, dir-me-ão, não é Costa que ganha vantagem se "simpatizantes", "votantes" e "amigos" do PS forem chamados a votos? Teoricamente, isso é verdade; e, aliás, se Seguro e a direcção do partido quisessem mesmo saber quem estaria em melhor posição para ganhar as próximas eleições legislativas bastaria para tal encomendarem uma sondagem onde poderiam apresentar à consideração dos inquiridos (militantes, votantes, simpatizantes das tais "primárias e cidadãos em geral) uma meia-dúzia de nomes. Mas não se iludam os apoiantes de António Costa, nem, muito menos, menosprezem o adversário: aguardemos pela proposta de regulamentação das tais "primárias" e respectivos procedimentos para tirar conclusões. Quer-me parecer que muita tempestade pode estar ainda a formar-se no horizonte.
- Em segundo lugar, a "armadilha do tempo": quanto mais tarde se realizarem as "primárias" em pior e mais frágil posição se encontrará o partido, o que para Seguro é indiferente (endossará sempre as responsabilidades a Costa), mas não o será para Costa, que terá de legitimar a sua actuação presente com um resultado eleitoral inquestionável nas legislativas. Para além disso, com mais tempo, Seguro e a máquina partidária terão mais possibilidades de "desenharem" e adaptarem as tais "primárias" aos seus desejos e PSD e CDS para desgastarem e moverem guerra aberta a Costa na gestão da CML (o que aliás já começou), tentando favorecer Seguro.
Duas notas finais:
- Concordo ser muito difícil para António Costa contestar a efectivação das tais "primárias", dada a imagem "popular" e "democrática" que estas projectam. Mas de um líder e de um político com convicções seria isso que se deveria esperar.
- Não me venham, em defesa das "primárias", com o exemplo dos USA: a estrutura, organização, modo de funcionamento e realidade que enfrentam os grandes partidos americanos nada têm a ver com as que existem na Europa.
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