Nos últimos vinte anos, potenciado pela chegada das televisões e, consequentemente, do dinheiro dos patrocinadores, o futebol evoluiu mais do que nos cinquenta anos anteriores. E refiro-me não só às questões técnico-tácticas como a todas as outras relacionadas com o treino e preparação das equipas, como a logística, equipamentos, medicina desportiva, psicologia e motivação, etc, etc. Também, claro, pois estamos a falar de dinheiro e negócio, nas questões relativas à gestão financeira e desportiva.
Infelizmente, a maioria dos jornalistas desportivos não acompanhou essa evolução, a ela não se adaptou ou, por facilitismo, a essa realidade a maioria (não todos) da nova geração não aderiu. Por outro lado, a chegada do futebol às televisões trouxe também consigo o perigo da massificação e do populismo a ela associado, e potenciou algumas vertentes do espectáculo que pouco ou nada têm a ver com as questões técnicas do jogo e da gestão do negócio. Estava assim formada a tempestade quase perfeita que conduziu o jornalismo desportivo (leia-se, futebolístico) ao seu actual estado de indigência, preferindo a discussão sobre "fait divers" e o enfoque nas mais variadas teorias da conspiração à análise fundamental do que se passa dentro de campo e, a montante, das questões de natureza económica e financeira que enquadram os clubes e o jogo. E quando a tudo isto se junta o fenómeno selecção nacional, tornada símbolo de um nacionalismo serôdio, em época de crise de identidade, e refúgio de quem não gosta de futebol mas apenas pretende "curtir" o momento, tudo piora, alcançando níveis de ruído insuportáveis para quem gosta do jogo e do espectáculo e, simultaneamente, tenta manter alguma sanidade mental e capacidade para pensar.
Claro que, felizmente, existem excepções, e nestas não poderei deixar de referir o bom trabalho feito pela RTP Informação e pelos comentadores Carlos Daniel, José Couceiro, Rui Costa, Carlos Carvalhal e, embora a um nível não tão elevado mas ainda assim esforçado e aceitável, Vítor Pereira e Bruno Prata. Também alguns dos artigos de opinião do jornalista António Tadeia no "Record". Serviço público também é isto: ajudar a pensar e a entender o jogo e o espectáculo.
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