quarta-feira, maio 28, 2014

PS: um partido refém

Se fosse efectuada uma sondagem junto dos habituais votantes no PS e dos cidadãos em geral perguntando qual a personalidade preferida para dirigir o partido e um eventual futuro governo por ele liderado, estou certo António Costa ganharia de forma destacada. E no entanto... No entanto Costa terá sérias dificuldades, já não digo para se fazer eleger internamente, mas para conseguir sequer disputar a liderança. Este é o retrato exacto do modo como os grandes partidos estão reféns das suas lógicas internas de funcionamento, dos pequenos poderes locais, dos "sindicatos de voto", da mesquinha troca de favores e do tráfico de influências nas distritais e concelhias. No fundo, dos "gauleiters" de ocasião. Esta é, aliás, uma das razões porque se recusam a discutir o chamado voto preferencial nas listas para eleições legislativas e autárquicas (não tendo posição definida, sou dos que acham o assunto merece discussão), não fossem os cidadãos alterar, por sua iniciativa, os laboriosos acordos conseguidos no interior do aparelho.

E quando falo de "gauleiters" não o faço levianamente. Basta perder (ou ganhar) algumas horas a ler o livro de Ian Kershaw sobre os últimos meses da Alemanha hitleriana ("The End" - "Até ao Fim") para se perceber como esses poderes, essas "lealdades pessoais", esses pactos "thick and thin" muitas vezes sem qualquer conteúdo político ou programático, essa inércia de funcionamento é capaz de se manter e até intensificar mesmo quando tudo se desmorona sua volta, para esse desmoronamento inclusivamente contribuindo. Qual a alternativa a este modelo de funcionamento? Francamente, não sei, embora seja urgente procurá-lo antes que este "way of doing things" acabe por subverter a própria democracia. 

Nota: Basta ter ouvido hoje os apoiantes de António José Seguro no "Fórum TSF" para se perceber que não é só à direita que o fantasma de José Sócrates ainda ensombra. No fundo, conclui-se que o algum silêncio último da direcção de Seguro sobre o legado do ex-secretário geral e ex-primeiro-ministro não passa de manobra táctica, uma espécie de "rabo escondido com o resto do gato de fora".

2 comentários:

Anónimo disse...

Subscrevo integralmente esta análise.
Sinteticamente diria que o que lhes interessa (no partido) são os interesses pessoais e a forma de rápidamente chegarem ao tacho e raparem do mesmo.
O país ? Que se lixe.
É esta a lógica do sistema partidário que está velho, caduco e com os aparelhos dominados por cambadas de incompetentes que apenas querem o poleiro.

Cumprimentos

JC disse...

Mtº obrigado.