sexta-feira, fevereiro 21, 2014

Fernando Tordo

Fernando Tordo é um intérprete e autor de música ligeira de indiscutível mérito. Enquanto tal, compôs e/ou interpretou algumas canções muito boas ("Cavalo À Solta", por exemplo), outras apenas boas e mesmo algumas medianas ou até mesmo medíocres, estas principalmente quando, após o 25 de Abril, enveredou pela "agit-prop" (e houve quem tivesse seguido esse caminho com enorme qualidade, como foi o caso do GAC, por exemplo). Foi personalidade incontornável do movimento de renovação da música ligeira portuguesa no final dos anos 60 e início dos anos 70 do século passado, centrado no Festival RTP da Canção. Tomou as suas opções políticas, o que é legítimo e só o dignifica, mesmo quando elas não coincidem com as de muitos de nós, como é o meu caso. Não pode nem deve, por isso mesmo, ser penalizado por elas.

Mas Fernando Tordo não foi vítima de despedimento, falência ou "reajustamento" da empresa para a qual trabalhava motivadas pelas políticas deste governo: Fernando Tordo é um trabalhador independente e, aparentemente, viu o seu mercado reduzir-se talvez por mudança de gosto das novas gerações e quiçá até com alguma injustiça (mas infelizmente não é a justiça que comanda o mundo). Também por alguma razão terá tido uma carreira contributiva curta ou insuficiente, o que lhe dá apenas direito a uma reforma ridícula, como acontece infelizmente com demasiados portugueses. Viu-se obrigado a emigrar, o que lamento. Mas, neste caso, também não me parece se possa responsabilizar o país, os portugueses ou o governo por essa situação, nem o seu caso é único (longe disso) entre artistas e autores portugueses de reconhecido mérito. Espero volte em breve e saiba encontrar na música e na cultura portuguesas um espaço que lhe permita viver com dignidade. 

Nota: confesso algum desconforto com a divulgação e exploração públicas de assuntos e sentimentos  que envolvam familiares próximos, mesmo quando eles possam ter repercussões políticas e ainda mais quando  têm como objectivo ser exploradas politicamente Há questões que exigem algum pudor.

2 comentários:

Abel Rosa disse...

Concordo com muito do que afirmas... dei a entender o mesmo num post facebookiano ( referir que jurei não opinar sobre o caso Tordo) A irritação não veio das cartas dos proprios Pai e Filho mas sim de outras pessoas, ditos COMISSÁRIOS políticos que fazem o tremendo frete de atacar tudo o que mexe e que pode ser enquadrado em alguma nesga de Esquerda... esses LIBERAL BOYS atacam sem qualquer fundamento, aliás já "os viste em acção" num dos meus posts. Abraço

JC disse...

Como deves calcular, não tenho quaisquer complexos de esquerda ou de direita e comissários políticos, venham de onde vierem, metem-me nojo.
Abraço