segunda-feira, fevereiro 03, 2014

"Verdade desportiva" e regulamentação do mercado

O que é efectivamente mais importante (para não me ficar apenas pelo "importante") para a "verdade desportiva" (o termo está descredibilizado) no futebol?  Introduzir uma panóplia de "novas tecnologias" como ajuda aos árbitros, o que custará milhões e irá afectar o normal fluir do jogo tal como o conhecemos (a propósito: quantos dúvidas realmente importantes já ajudou o tão falado "olho de falcão" a esclarecer na actual edição da Premieship?) ou regulamentar "a sério" o sistema de transferências, impedindo a sua realização com as competições a decorrer, os empréstimos ente clubes que disputem as mesmas competições,  a separação entre direitos desportivos e económicos, implementando com seriedade o sistema de "fair play" financeiro, etc, etc?

Não, não são o dinheiro e o capitalismo que estão a destruir o futebol: a chegada do profissionalismo, dos patrocínios e das televisões fez o futebol progredir como nunca até aqui e tornou-o no espectáculo empolgante e globalizado que vemos hoje em dia. O que pode vir a destruir o futebol - tal como tem ajudado a criar enormes problemas às democracias e às sociedades - é a desregulamentação total de um negócio para o  qual as entidades gestoras do desporto (FIFA, UEFA), tal como os Estados, não estavam preparadas, deixando-se, por inépcia, corrupção ou incapacidade , capturar por interesses que podem bem acabar por os vir a destruir.

6 comentários:

Vic disse...

1 - No ténis, o olho de falcão é usado há anos e com muito bons resultados. Na Premiership, não sei quantos problemas já resolveu, mas eles ainda não se queixaram nem arrependeram de o ter adoptado.
2 - Além do olho de falcão, o chip na bola era de toda a conveniência ser introduzido.
3 - A questão do tempo perdido é uma balela. Em 30 segundos resolve-se qualquer questão. Muito mais tempo demoram os guarda-redes ou outro jogador a repor a bola, quando convém, ou naqueles mélées que se formam quando um golo ou um penalty duvidoso é assinalado. Na NBA onde se joga a 200 à hora, ninguém protesta quando os árbitros param o jogo para analisarem uma jogada.
4 - De acordo em relação à regulamentação do mercado. Especialmente na questão da venda de passes de jogadores a fundos anónimos.

Um abraço, esperando que a gripe tenha dado, no mínimo uma trégua.

Abraço

JC disse...

1. Em Wimbledon, o "olho de falcão" só é usado nos "courts" central e nº1. E já reparou quantas situações duvidosas desse tipo existem em cada jogo de ténis comparadas com casos semelhantes no futebol? Na Premiership o investimento foi de £11.
2. Existindo o "olho de falcão" o "chip" serve para quê? Para os lançamentos de linha lateral?
3. Não é a questão do tempo perdido, mas da quebra de ritmo de jogo. E na NBA há video árbitro?
4. Com a actual miopia desportiva de que v. vem a dar mostras, sei onde quer chegar com os tais "fundos anónimos". Mas para mim não há "especialmente".

Vic disse...

Bom, parece que a gripe lhe levou o humor e agora como não estou de acordo consigo, chama-me míope desportivo? É que eu costumo aceitar que as minhas "verdades" não sejam absoluta, portanto sujeitas a debate.
Que eu saiba e em relação ao ténis, o olho de falcão não é exclusivo do torneio de Winbledon. Expliquei-me mal, falei do chip como alternativa. E esse não quebraria qualquer ritmo do jogo. Mas advogo também a introdução da revisão das imagens televisivas pelo árbitro em casos duvidosos dentro da pequena área.
Qualquer que seja o tempo perdido, quebra o ritmo do jogo. É disso que se queixam os treinadores das equipas que precisam de marcar.
Sim, na NBA HÁ vídeo árbitro (não sei se é assim que se chama, mas quando uma equipa se queixa de determinada jogada, ou a mesa alerta os árbitros, estes são chamados à mesa e revêm o lance na televisão.
Quanto aos fundos, sem 2as intenções, gostaria de saber se está de acordo com a questão dos fundos anónimos sediados em Hong-Kong ou outra cidade mais ou menos exótica.

JC disse...

1- A questão do "olho de falcão" é apenas um problema de "value for money". É um sistema mtº caro (como lhe disse, mais de £11M na Premiership) e justifica-se no ténis, p. ex, onde em cada jogo existem muitas situações de dúvida. E sim, usa-se tb no US e Australian Open. Agora, vale a pena o investimento num desporto (futebol) onde, num campeonato inteiro, em mais de 300 jogos, existe em média uma ou duas situações de dúvida, no máximo? Eu acho que não.
2. Ora vamos lá: uma grande parte dos lances de área, de alegada falta para "penalty", estão dependentes do critério do árbitro, e não são susceptíveis de um "sim" ou "não" claro. E isso não é resolvido a 100% c/ recurso ao vídeo. Exemplo concreto: no Gil Vicente-SLB os "penalties" a favor do SLB e o que não foi marcado, sobre o Rodrigo. Deixemos o convertido pelo Lima, que é indiscutível. Eu, que vi "n" repetições. acho que o último - o que o Cardozo falhou - não é penalty, mas o ex-árbitro Pedro Henriques, da TVI, diz que sim. Ouro exemplo: no alegado "penalty", não marcado, sobre Rodrigo, alguém conseguiu tirar todas as dúvidas? Eu não, continuo sem uma opinião formada. E estou farto de ouvir opiniões contraditórias. Como vê...
3. No rugby, p. ex, o video-árbitro apenas é usado nas fases finais das grandes competições e para esclarecer dúvidas sobre ensaios, quando é virtualmente impossível ao árbitro perceber, naquelas "molhadas" se existiu ou não toque de meta.
4. Como deve calcular, estou-me nas tintas se os fundos são sediados em Hong Kong ou no Burkina Faso, nem acho esse possa ser critério. Se ler o que escrevi, verá que me manifesto contra a "separação entre direitos e económicos e desportivos" o que responde integralmente à sua questão. Ou seja, quem deve deter ambos os direitos é o clube pelo qual o jogador actua e com o qual tem contrato. Que raio, acho não escrevo em mandarim! Claro que sendo actualmente legal essa separação, tb não posso criticar a legalidade (em matéria de gestão é outra coisa) dos clubes, qq que sejam, que recorrem a tais métodos de engenharia financeira. Mas gostaria tal não fosse legal.

Vic disse...

Só duas notas, e desculpe lá, mas este é um assunto que me interessa:
1 - Quando me referi aos lances na área, não falava somente do penalty. Refiro-me por exemplo ao seguinte: aqui há uns anos, o Paços de Ferreira ganhou ao Sporting em Alvalade por 1-0 com um golo marcado com a mão. Pode-se argumentar que esse jogo foi nas 1as jornadas o SCP teve tempo para recuperar, claro. Mas a matemática é o que é, e o que é verdade é que o SCP nesse jogo foi prejudicado em, pelo menos, 2 pontos. E acabou por perder o Campeonato por um ponto, o que quer dizer que o SCP perdeu o campeonato nesse jogo. E repare que nem sequer foi um lance duvidoso. Na TV viu-se perfeitamente o golo a ser marcado com a mão, e a coisa foi tão flagrante que no ano seguinte a Liga (ou a FPF) introduziu uma regra penalizando jogadores que fizessem jogadas semelhantes e que as mesmas tivessem influência no sentido do resultado final de um jogo). Mas generalizando mais, falo por exemplo, da qualificação da França para a fase final do último Mundial, com um golo marcado com a mão pelo Henry à Irlanda, ou mais grave ainda, do célebre golo do Maradona à Inglaterra.
2 - Diz que no rugby se justifica no caso das molhadas. E então aquelas agarradelas de uns jogadores aos outros nas marcações de cantos ou livres perigosos, em que os árbitros teriam que ter 10 olhos para assinalar jogadas irregulares? Assim por alto, acho que num jogo importante, ficam sempre por marcar 2 ou 3 penalties.
3 - Qualquer lei se pode criticar, desde que se considere a mesma como iníqua. Abomino touradas mas estas são legais. Não é por isso que deixo de manifestar o meu repúdio porque continuem a existir.

JC disse...

1. Sim, mas esses são casos relativamente raros, ou pouco frequentes. Oque quero dizer é que não se pense que o eventual recurso ao vídeo vai ser a varinha mágica.
2. Mas só é utilizado para verificar se houve ou não toque de meta (ensaio ou defensivo), o que é uma situação-chave. Não é comparável com o caso que cita dos "agarranços".
3. Por isso mesmo a critico mas, enquanto legal, tenho de admitir se recorra a ela. Se fosse administrador da SAD do SLB, mesmo discordando da lei, como discordo, recorreria a ela e não posso criticar qq clube faça o mesmo. termos gerais e abstractos. E agora vou ver o City-Chlsea.