O ex-ministro Vítor Gaspar afirma, a dado passo, no seu livro/entrevista a Maria João Avillez que "os interesses instalados são extremamente poderosos", o que teria inviabilizado a reforma do Estado (nota minha: seja lá o que isso for) começasse mais cedo. Uma pergunta: mas não compete aos governos, em democracia, regimes que se baseiam em equilíbrios necessariamente frágeis e nos célebres "checks and balances", gerir a sua intervenção política de modo a conseguir ir ultrapassando os constrangimentos colocados por esses interesses instalados, aliás legítimos e muitas vezes conseguidos com a colaboração do próprio Estado e dos governos? Ou da sua substituição por outros que se queiram "instalar"? Ao fazer este tipo de declarações, o que Vítor Gaspar está a afirmar não é, nem mais nem menos, do que a sua incapacidade política para ser ministro de um governo num regime democrático?
Aliás, e falando dos tais "interesses instalados", muitos deles, sejam sindicatos, associações patronais e profissionais, organizações empresariais e financeiras, regionais, partidos políticos, etc, etc, foram mesmo promovidos - e bem - pelo próprio regime por absolutamente indispensáveis à institucionalização e consolidação da democracia, num país herdeiro de estruturas económicas e sociais demasiado frágeis para a suportarem. Claro que, com isso, se terão herdado também algumas perversões que tornam mais complexa do que o desejável a gestão política, mas parece-me que aquilo de que Gaspar se queixa é tão só de não conseguir à altura da tarefa. Por isso, e como se vai tornando habitual, aqui e ali lá vem um indisfarçável e saudosista "suspirozinho" pela ditadura...
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